🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Janeiro de 2021. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Vacinas contra a Covid-19 não alteram o código genético nem podem causar câncer

Por Marco Faustino

26 de janeiro de 2021, 16h50

Em vídeo que circula nas redes sociais, o médico Alessandro Loiola engana ao afirmar que vacinas contra Covid-19 que usam tecnologias de vetor viral (adenovírus), de DNA e de RNA mensageiro são capazes de alterar o código genético humano e, no futuro, causar "epidemias de câncer". Na realidade, segundo autoridades sanitárias, virologistas e oncologistas, a interação com o material genético nessas imunizações é mínima e restrita à ação contra o coronavírus no organismo, sem capacidade para causar mutações ou câncer.

O conteúdo enganoso (veja aqui) reunia ao menos 286.200 compartilhamentos no Facebook nesta terça-feira (26) e foi marcado com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (entenda como funciona).


Longe de mim. A vacina pode alterar o DNA.

É falsa a alegação feita em vídeo que circula nas redes pelo médico Alessandro Loiola, de que vacinas que usam tecnologias de vetor viral (adenovírus), de DNA e de RNA mensageiro podem, no futuro, provocar “epidemias de câncer” - o que ocorreria, segundo ele, por meio de alterações no código genético dos vacinados.

Autoridades sanitárias e especialistas ouvidos pelo Aos Fatos reiteraram que não é verdade que as vacinas tenham essa capacidade de interação com o DNA humano.

O mRNA (RNA mensageiro), contido em vacinas como as da Pfizer e da Moderna, fornece instruções para que nossas células produzam um pedaço inofensivo da chamada proteína spike, que é encontrada na superfície do novo coronavírus. Essa proteína gera uma resposta imunológica do organismo contra o vírus, produzindo anticorpos.

O mRNA nunca entra no núcleo da célula, onde fica o DNA humano, nem pode alterá-lo, indica o CDC (Centros de Controle de Prevenção de Doenças dos Estados Unidos).

As vacinas de DNA inserem um pequeno gene proveniente do Sars-CoV-2 (nome científico do novo coronavírus) no corpo, o que é capaz de estimular o sistema imune humano para identificar e eliminar o vírus quando ele de fato tentar infectar o organismo, explica Carlos Zárate-Bladés, pesquisador do Laboratório de Imunorregulação da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) - entrevistado pelo Aos Fatos em setembro do ano passado para uma checagem sobre o mesmo tema.

Já as vacinas de vetor viral usam uma versão modificada de um vírus diferente (o vetor) para fornecer instruções importantes às nossas células. Dois exemplos de vacinas que foram desenvolvidas com essa tecnologia, e que utilizam o adenovírus como vetor, são as da Astrazeneca/Oxford, que foi recentemente aprovada para uso emergencial pela Anvisa e a Sputnik V.

Os imunizantes que empregam essa tecnologia não são capazes de nos infectar com o vírus da Covid-19, tampouco com aquele usado como vetor. Além disso, o material genético entregue pelo vetor viral não se torna parte do DNA de uma pessoa, diz o CDC.

Alegações de que vacinas alterariam o código genético humano já foram desmentidas em outras duas checagens do Aos Fatos (confira aqui e aqui)

Câncer. Segundo a Preventive Medicine and Cancer Care — centro especializado no tratamento do câncer — de Denver, nos EUA, não há estudos que forneçam evidências de que as vacinas, de um modo geral, possam levar a um maior risco de câncer.

Em um artigo publicado em agosto de 2019, a instituição citou um estudo que demonstrou que, na realidade, as imunizações adequadas podem diminuir o risco de desenvolver cânceres, incluindo leucemia em crianças e, certamente, cânceres de colo do útero, ânus e orofaringe associados ao HPV, o Papilomavírus humano, que já pode ser prevenido com vacinas.

O oncologista e diretor científico do Instituto do Câncer Brasil, Dr. Bruno Filardi, também descartou a possibilidade de que vacinas de mRNA causem o câncer: “não tem capacidade de interagir com nosso DNA. Não causam mutações. E, sem as mutações genéticas específicas, fica impossível o desenvolvimento de câncer”, disse o pesquisador ao Aos Fatos.

Outro lado. O Aos Fatos entrou em contato com Alessandro Loiola para saber se ele sustentava seu posicionamento sobre declarações de que vacinas de mRNA são capazes de alterar o DNA humano e que tais modificações genéticas poderiam causar epidemias de câncer no futuro. Também foi questionada a base científica utilizada para tais declarações. Por e-mail, o médico disse que sustentava o mesmo posicionamento do ano passado

Referências:

1. Facebook
2. CDC (Fontes 1 e 2)
3. Fiocruz
4. Agência Brasil
5. Veja (Fontes 1 e 2)
6. Gavi
7. Aos Fatos (Fontes 1, 2 e 3)
8. Preventive Medicine and Cancer Care
9. Twitter


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Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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