🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Setembro de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Não é verdade que vacina contra Covid-19 cause dano irreversível ao DNA humano

Por Luiz Fernando Menezes

10 de setembro de 2020, 14h14

Uma corrente que tem viralizado principalmente no WhatsApp (veja aqui) desinforma ao dizer que as vacinas de mRNA (de ácido nucleico), como parte das que estão sendo testadas para combater a Covid-19, podem causar danos irreversíveis ao material genético das pessoas. Especialistas ouvidos por Aos Fatos explicaram que o genoma manipulado nesses casos é o do vírus, não o humano, e que essas imunizações apenas ajudam o sistema imunológico a reconhecer e combater as infecções causadas por esse vírus.

O texto enganoso tem autoria atribuída ao advogado e ativista Robert F. Kennedy, sobrinho do ex-presidente americano John F. Kennedy, e ainda traz informações falsas sobre métodos de prevenção e cura da Covid-19. Veja abaixo um resumo do que checamos:

1. Vacinas de ácido nucleico não alteram o material genético dos humanos. Essas imunizações, na verdade, inserem um gene proveniente do Sars-CoV-2 (vírus causador da Covid-19) no corpo humano para estimular o sistema imune no combate à infecção.

2. Diferentemente do que afirma a peça, ainda não há cura para a Covid-19, apenas medicamentos para o tratamento dos sintomas.

3. Também é falso que a OMS (Organização Mundial da Saúde) retirou a classificação de pandemia da crise de saúde proveniente do novo coronavírus.

4. Não há evidências de que a ozonioterapia ou a ingestão de dióxido de cloro ajudam a prevenir a infecção.

5. E, por fim, não é verdade que os dados oficiais americanos foram revisados e que só 10% das mortes antes previstas nos EUA de fato foram causadas pela Covid-19.

A corrente foi enviada por WhatsApp por leitores do Aos Fatos como sugestão de checagem (inscreva-se aqui). No Facebook, posts com o texto reuniam ao menos 1.500 compartilhamentos até a tarde desta quarta-feira (9) e foram marcados com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (entenda como funciona).


FALSO

Gostaria de chamar sua atenção com urgência para questões importantes relacionadas à próxima vacinação contra Covid-19. Pela primeira vez na história da vacinação, as chamadas vacinas de mRNA de última geração intervêm diretamente no material genético do paciente e, portanto, alteram o material genético individual, que representa a manipulação genética, algo que já foi proibido e até então considerado criminoso.

A primeira desinformação da corrente é a de que as vacinas de ácido nucleico que estão sendo testadas para combater a Covid-19 “alterariam o material genético individual”. Essas imunizações, na verdade, usam moléculas do DNA ou RNA do vírus, que, ao serem introduzidas no corpo do indivíduo, induzem o organismo a produzir uma proteína para treinar o sistema imunológico a reconhecer e combater as infecções causadas por esse vírus.

Carlos Zárate-Bladés, pesquisador do Laboratório de Imunorregulação da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), explica que essas moléculas não alteram o genoma de indivíduos. Segundo ele, as imunizações inserem um gene não humano (proveniente do Sars-CoV-2) no corpo, o que estimula o sistema imune e o prepara para identificar e eliminar o vírus quando ele de fato tentar infectar essa pessoa. “Não se quer modificar o genoma humano através dessas vacinas. De jeito nenhum se conseguiria isso com essas vacinas e do jeito que serão aplicadas”, explicou Zárate-Bladés ao Aos Fatos.

Essa tecnologia, de fato, é nova e ainda não foi usada em outras vacinas. Alguns laboratórios, como a Pfizer e a Moderna, no entanto, estão investindo nesse novo tipo de imunização porque ela promete uma simplificação do processo de produção. Conforme explicado pela Vox, a produção das vacinas geralmente enfraquece o vírus ou isola e purifica partes dele para inseri-lo com segurança no corpo humano. Com a nova tecnologia, o código genético do vírus é alterado, o que torna o desenvolvimento da vacina muito mais rápido.

Segundo os especialistas ouvidos por Aos Fatos, a modificação do DNA humano é até possível, mas não por meio das vacinas que estão sendo produzidas contra a Covid-19. “É possível você fazer isso utilizando técnicas como radiações, agentes químicos e vírus que se inserem no DNA”, explica o virologista do CT Vacinas (Centro de Tecnologia de Vacinas) e pesquisador da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Flávio Guimarães Fonseca.

Além disso, a corrente que circula nas redes omite que nem todas as vacinas em desenvolvimento contra a Covid-19 seguem o mesmo processo de fabricação. Segundo OMS (Organização Mundial da Saúde), das 35 vacinas que atualmente estão sendo testadas em humanos, 9 usam a tecnologias de manipulação de DNA e RNA do vírus.


FALSO

TEM CURA? * Sim, se você usa os medicamentos adequados e não deixa sua saúde nas mãos de sistemas de saúde corruptos e mercantis.

Não há, atualmente, nenhum medicamento ou vacina disponível no mundo para o tratamento da Covid-19. Conforme afirma a OMS, alguns medicamentos conseguem aliviar parte dos sintomas da doença, mas nenhum deles se provou efetivo na prevenção ou na cura da infecção. Atualmente, mais de 150 medicamentos estão sendo pesquisados como possíveis tratamentos.

O Ministério da Saúde também diz que, “até o momento, não existem evidências científicas robustas que possibilitem a indicação de terapia farmacológica específica para a Covid-19”.


FALSO

É UMA PANDEMIA? * Não. A OMS mudou o termo referindo-se a pandemia antes do lançamento do bug para acabar com a pandemia.

A OMS classificou a Covid-19 como uma pandemia global no dia 11 de março por causa da rápida disseminação geográfica da infecção. Desde aquele dia até o momento atual, a organização não modificou sua classificação: seu site ainda trata a Covid-19 como uma pandemia e o próprio diretor, Tedros Ghebreyesus, ainda utiliza o termo ao se referir à crise de saúde.

São classificadas como pandemias pela OMS as doenças com transmissão global. Conforme explica artigo da Live Science, as pandemias geralmente começam como epidemias (rápida transmissão em uma região em particular) que se espalham para outros países. No caso da Covid-19, a crise começou na China no final de 2019, mas só foi classificada como pandemia após se alastrar por outros países.


FALSO

PODE SER PREVENIDO? * Sim, estando limpo como sempre deveria estar e mantendo o sistema imunológico elevado, você também tem: Ozonoterapia, Dióxido de Cloro com o protocolo preventivo.

Não há evidências científicas de que a ozonioterapia e a ingestão de dióxido de cloro previnam a infecção do novo coronavírus. Até o momento, as únicas medidas de prevenção contra a Covid-19 indicadas pelo Ministério da Saúde são a higienização frequente das mãos, o uso de máscaras de proteção e o distanciamento social.

Especialistas consultados por Aos Fatos negaram que a ozonioterapia tenha apresentado resultados positivos contra a Covid-19 ou mesmo que seja uma prática terapêutica eficaz contra outras doenças. De acordo com a microbiologista e pesquisadora do Instituto de Química da USP (Universidade de São Paulo) Laura de Freitas, além de o tratamento não ter mostrado resultados até hoje contra nenhum tipo de doença sistêmica, um procedimento errado de aplicação pode causar problemas sérios de saúde.

“Existem muitos estudos científicos que testaram isso [ozonioterapia] (até contra HIV) e nenhum conseguiu mostrar que funciona melhor que um placebo. E o pior: ainda pode trazer risco de embolia pulmonar (porque é um gás sendo injetado e, se for feito errado, vira uma grande bolha de ar no sangue, que pode matar a pessoa) e intoxicações quando a concentração usada for alta”, afirmou Freitas em mensagem ao Aos Fatos.

Aos Fatos também não encontrou nenhuma evidência de que o dióxido de cloro (vendido com a sigla MMS) seja eficaz no combate ou na prevenção da Covid-19. Na verdade, há alertas de autoridades de saúde para o uso médico do composto, uma vez que ele pode causar danos. A FDA (Food and Drug Administration, órgão americano de vigilância sanitária), por exemplo, denunciou a venda de produtos médicos com o dióxido de cloro.

Outra notificação sobre produtos à base de cloro foi feita pela PAHO (Pan-American Health Organization) no começo de agosto: “Não há evidência de sua efetividade, e a sua ingestão ou inalação pode causar sérios efeitos adversos”. A organização também pede que a população denuncie a venda desses produtos às autoridades.

No Brasil, o uso de dióxido de cloro como medicamento é proibido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde junho de 2018. “O dióxido de cloro não tem aprovação como medicamento em nenhum lugar do mundo. A sua ingestão traz riscos imediatos e a longo prazo para os pacientes, principalmente às crianças”, afirmou a agência em artigo publicado no ano passado.


FALSO

OS NÚMEROS DE CONTAGEM E MORTOS PELO VÍRUS SÃO CERTOS? * Não. Nos EUA, descobriu-se que qualquer dado seria na verdade 10% desse valor porque já passaram casos de mortes por outras doenças causadas pelo vírus e pelos testes eles não são confiáveis, eles fornecem falsos positivos.

Não há nenhuma indicação de que os dados oficiais do CDC (Center for Disease Control, órgão de saúde do governo americano) foram revisados e que apenas 10% das mortes foram, de fato, confirmadas por testes. Na tarde da última quarta-feira (8), os Estados Unidos registravam 175.866 mortes envolvendo a Covid-19.

Conforme as notas metodológicas do CDC, esse número soma tanto as mortes confirmadas via teste laboratorial quanto mortes prováveis. Nesse último caso, são considerados óbitos com critérios clínicos e evidência epidemiológica que apontem para a infecção. Segundo o centro, caso uma morte provável se prove negativa, o número será retirado dos registros oficiais.

Na verdade, a estimativa é que o número de mortos pela infecção nos EUA seja maior do que o oficial. Isso porque muitos óbitos causadas pelo vírus podem ter sido diagnosticados como pneumonia ou outras doenças respiratórias.


Por fim, nem a autoria da corrente é confirmada. Apesar de ser um militante antivacina, Robert F. Kennedy Jr., sobrinho do ex-presidente americano John F. Kennedy, não escreveu o texto, conforme afirmou sua assessoria ao Aos Fatos. Também não há registros de que Kennedy Jr. tenha publicado mensagem semelhante ao que vem sendo compartilhado nas redes sociais seja em seu site oficial, seja em suas redes sociais (Facebook, Twitter e Instagram).

Versões da corrente circularam também nas redes sociais argentinas e mexicanas e foram desmentidas pelas equipes do Animal Político e do Chequeado. No Brasil, o Comprova, o Fato ou Fake e o Boatos.org produziram uma verificação sobre a peça de desinformação.

Colaborou Amanda Ribeiro.

Referências:

1. Ibict
2. Vox
3. OMS (Fontes 1, 2, 3, 4 e 5)
4. BBC
5. Live Science
6. Ministério da Saúde
7. FDA
8. PAHO
9. Anvisa
10. CDC (Fontes 1 e 2)
11. NY Times
12. Childrens Health Defense
13. Twitter (@RobertKennedyJr)
14. Instagram (robertfkennedyjr)


De acordo com nossos esforços para alcançar mais pessoas com informação verificada, Aos Fatos libera esta reportagem para livre republicação com atribuição de crédito e link para este site.

Esta checagem foi atualizada às 10h45 do dia 11 de setembro de 2020 para acrescentar a nota enviada pela assessoria de Kennedy Jr.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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