🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Outubro de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

É falso que CoronaVac pode alterar código genético e ‘causar homossexualismo’

Por Luiz Fernando Menezes

23 de outubro de 2020, 17h16

Não é verdade que a CoronaVac, vacina que vem sendo produzida pela empresa chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan, altera o código genético e pode tornar voluntários homossexuais. A imunização está sendo produzida por meio da inativação do vírus, sem a alteração genética. Além disso, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), ao analisar os resultados dos primeiros testes, entendeu que a vacina é segura.

O áudio que traz essas informações falsas (veja aqui) tem circulando no WhatsApp desde o começo da semana, onde foi sugerido por leitores do Aos Fatos como checagem (inscreva-se aqui). Peças semelhantes também aparecem no Facebook e marcadas por Aos Fatos com o selo FALSO na ferramenta de verificação (entenda como funciona).


FALSO

Isso é uma vacina que altera o código genético. Vocês vão comprometer a vida dos seus filhos e netos.

Não existe nenhum indício de que alguma vacina que vem sendo produzida em combate à Covid-19 pode alterar o código genético das pessoas e, assim, mudar a orientação sexual dos imunizados, como é dito no áudio. Esses medicamentos precisam passar por diversos etapas que certifiquem a segurança e a eficácia antes de serem disponibilizados ao público. A CoronaVac já passou pelos primeiros testes e foi aprovada para a fase clínica pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em julho deste ano. Segundo o órgão regulador, os resultados “demonstraram que a vacina apresenta segurança aceitável”.

A peça de desinformação provavelmente faz referência a diversas postagens que circularam nas redes sociais sobre as vacinas de ácido nucleico, uma nova tecnologia que ainda não foi utilizada em humanos e vem sendo estudada na produção da imunização contra a Covid-19. Conforme o Aos Fatos já explicou, no entanto, essas vacinas não alteram o código genético humano, apenas inserem um gene do vírus no corpo para estimular o sistema imune.

Nesses casos, o gene modificado, portanto, é o do Sars-CoV-2: durante a produção, o código genético do vírus é alterado para torná-lo inofensivo antes que seja inserido no corpo humano. Essa tecnologia tornaria o desenvolvimento da vacina mais rápido, conforme explicou a Vox.

A CoronaVac, no entanto, não utiliza essa tecnologia. Como pode ser verificado na tabela da OMS (Organização Mundial da Saúde) e no site do Butantan, a Sinovac Biotech está produzindo uma imunização com o vírus inativado, semelhante a outras vacinas, como a de combate à poliomielite e à gripe. Essas imunizações contêm o vírus inativado por meio de agentes químicos ou físicos que, quando inseridos no corpo humano, desencadeiam a resposta imunológica sem que a pessoa adoeça.

Negação das mortes. Outra informação falsa disseminada pelo autor da peça é a de que a Covid-19 não teria matado ninguém no mundo. Até a tarde desta sexta-feira (23), o Ministério da Saúde registrava 155.900 mortos em decorrência da Covid-19 no Brasil. Em todo o planeta, já são mais de 1,13 milhão de mortes, segundo a OMS.

Ataques a Doria. O autor da peça também faz alegações enganosas ao atacar o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que anunciou, durante uma coletiva na última sexta-feira (16), que a vacinação será obrigatória no estado. Segundo o áudio, o pai de Doria seria “um terrorista comunista que foi expulso do país porque era um terrorista comunista”, o que não procede.

Segundo a biografia de João Agripino de Costa Doria no CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o publicitário foi eleito como suplente de deputado federal pelo PDC (Partido Democrata Cristão) em 1962, assumindo o cargo em 1963. Pertencente ao bloco de apoio ao então presidente João Goulart, acabou tendo seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos por meio do AI-1, em abril de 1964.

Ao contrário do que afirma o autor do vídeo, no entanto, o publicitário fugiu dos militares. Segundo um perfil da revista Piauí, após a cassação, ele e a família fugiram para a Embaixada da Tchecoslováquia e depois embarcaram para o exílio na França. O pai de Doria permaneceu no país europeu até 1974, quando, mesmo com a ditadura militar, voltou ao Brasil.

Por mais que o publicitário tenha feito discursos criticando o combate anticomunista, não há informações em seus perfis e biografias sobre participação na luta armada nem indícios de que ele tenha sido classificado como terrorista.

Autoria. O áudio é assinado nas redes sociais pelo candidato a prefeito de São Simão (SP) Marcelo Frazão de Almeida (Patriota), engenheiro autointitulado “Dr. Marcelo Frazão” e responsável pelo canal Direita TV News. Em email ao Aos Fatos, Frazão confirmou a autoria do áudio, mas ao ser questionado sobre as informações checadas, não respondeu a reportagem.

O Aos Fatos não conseguiu entrar em contato por meio do telefone disponível em seu perfil no YouTube e, por isso, enviou um e-mail no endereço cadastrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para confirmar a autoria das informações. Até o momento, no entanto, não houve resposta.

Referências:

1. Anvisa
2. Aos Fatos
3. Vox
4. OMS (Fontes 1 e 2)
5. Instituto Butantan
6. Fiocruz
7. Minsitério da Saúde
8. Governo de São Paulo
9. FGV
10. Piauí
11. Câmara dos Deputados
12. TSE


De acordo com nossos esforços para alcançar mais pessoas com informação verificada, Aos Fatos libera esta reportagem para livre republicação com atribuição de crédito e link para este site.

Esta checagem foi atualizada às 16h30 do dia 26 de outubro de 2020 para acrescentar que Frazão confirmou a autoria do áudio.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

Topo

Usamos cookies e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade. Ao continuar navegando, você concordará com estas condições.