Quantas edições da Plataforma é possível ficar sem escrever sobre Elon Musk? Menos do que eu gostaria.
No entanto, ao passo em que o bilionário amplifica a bolha de extrema-direita que se tornou o X (ex-Twitter), o poder econômico e a relevância das empresas que ele administra geram uma equação em que todos saem perdendo: é impossível ignorá-lo.
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Estamos há 0️⃣ dias sem falar de Musk
Ludmila Lins Grilo embolsou R$ 57.340,39 de rendimento líquido do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, segundo as planilhas de transparência, desde que recebeu do Conselho Nacional de Justiça a mais severa punição a que magistrados estão sujeitos — a aposentadoria compulsória.
Em maio de 2023, os conselheiros do CNJ consideraram que as postagens de Grilo eram incompatíveis com o cargo de juíza, além de apontarem negligência na gestão da Vara Criminal e da Infância e Juventude da Comarca de Unaí (MG), pela qual ela era responsável.
Em autodeclarado “exílio” nos Estados Unidos, a aposentada tem tempo de sobra para postar, mas costuma ter pouca audiência, já que está com as redes bloqueadas no Brasil por decisão do Judiciário. Na segunda passada (8), dias após Musk desafiar Alexandre de Moraes, o Aos Fatos revelou que o X voltou a exibir tuítes dela a usuários brasileiros.
Antes da ameaça de que o X deixaria de cumprir decisões judiciais e acabaria com a restrição aos usuários brasileiros bloqueados, os posts da juíza aposentada alcançavam cerca de 5.000 visualizações. Já os testes que ela fez, no sábado (6) e na segunda-feira (8), alcançaram dezenas de milhares de visualizações.
Outros dois brasileiros radicados nos Estados Unidos também têm interesses na ofensiva do magnata.
Na véspera da Páscoa, o fugitivo da Justiça Allan dos Santos enviou um link para Jim Pfaff, presidente da organização The Conservative Caucus, para uma conversa no Spaces, do X, em que simpatizantes de Jair Bolsonaro discutiam supostos ataques à liberdade de expressão no Brasil. Ele divulga e apoia a causa em inglês, inclusive com dólares.
O Aos Fatos mostrou na sexta-feira (12) como Pfaff e outros personagens da extrema-direita dos Estados Unidos se engajaram na divulgação de “denúncias” sobre uma suposta guinada autoritária na política brasileira. Conversas públicas dão a entender que, por trás do movimento, há a intenção de explorar o caso brasileiro para favorecer Donald Trump.
“O Brasil parece estar alguns passos à frente de onde os Estados Unidos poderão chegar se continuar nesse caminho”, afirmou o influenciador Mario Nawfal na quinta-feira (11), em um podcast que ele apresenta no Spaces. O programa reuniu representantes da extrema-direita brasileira — e Elon Musk era um dos ouvintes.
Reportagem de Amanda Ribeiro, Gisele Lobato, Luiz Fernando Menezes e Marco Faustino.
Antes de ter seus processos de governança obliterados por uma administração irresponsável, o Twitter divulgava relatórios detalhados com pedidos de remoção de conteúdo feitos por autoridades de todo o mundo. Apesar de ser o quarto maior mercado em número de usuários, o Brasil aparece apenas na 11ª posição em pedidos de remoção, levando em conta o período de 2012 a 2021.
E o “PL das Fake News”, hein? Infelizmente, parece que tinha mesmo tudo para subir no telhado, como escrevi nesta Plataforma no dia 13 de março. Não era torcida contra.
Na newsletter O Digital Disfuncional, a repórter especial Gisele Lobato conectou como as ameaças de Musk e o sepultamento do PL 2.630/2020 põem em xeque a soberania do Brasil. Ela escreve:
- “A fragilidade do Brasil em relação às big techs fica evidente ao refletir sobre a trajetória do projeto, que estava empoeirando nos escaninhos da Câmara desde 2 de maio do ano passado.”
- “Já havíamos questionado aqui a dependência em relação à Starlink para conectar regiões do país. Agora, somos obrigados a constatar que, embora a Anatel ainda tenha capacidade para interromper o serviço, num futuro próximo isso pode se tornar impossível.”
A Anatel, aliás, ficou de prontidão para a possibilidade de o STF decidir bloquear o X. Dias antes, o presidente da agência, Carlos Baigorri, relembrou em entrevista a Ethel Rudnitzki:
- “Quando a Justiça decidiu retirar do ar o Telegram e sites criados para disseminar desinformação, quem foi chamada para bloquear o acesso foi a Anatel.”
- “Hoje, se você for pensar na estrutura do Estado que tem capacidade de fiscalizar e atuar de forma coercitiva no ambiente tecnológico, é à Anatel que cabe essa tarefa”, continuou Baigorri.
Na reportagem completa, mostramos como a Anatel tem se movimentado com o objetivo de se tornar a agência reguladora de redes sociais e de inteligência artificial.