Neste início de dezembro, Aos Fatos publicou uma reportagem com dados obtidos por uma ferramenta que não era usada pela equipe de reportagem há quase seis meses: o CrowdTangle — produto da Meta usado para coleta de conteúdos em redes.
O recurso nos ajudou a identificar publicações no Facebook e no Instagram que continham um vídeo postado e posteriormente deletado por Jair Bolsonaro (PL) que é exigido pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Apesar de ter perdido espaço entre as ferramentas que usamos, em anos anteriores o CrowdTangle foi fundamental para o trabalho do Aos Fatos. Para citar alguns exemplos:
- Durante a pandemia de Covid-19, a ferramenta foi usada para medir o alcance de publicações do empresário Luciano Hang que disseminavam desinformação sobre a doença e para encontrar mentiras espalhadas sobre senadores da CPI da Covid-19;
- No contexto da guerra da Ucrânia, o CrowdTangle foi útil para mostrar como imagens enganosas sobre o conflito estavam viralizando no Facebook;
- E nas eleições de 2022, o recurso foi usado para reportar um aumento de publicações que associavam falsamente o então candidato Lula e o PT ao crime organizado.
Os motivos para o sumiço do CrowdTangle das pautas do Aos Fatos e de outras Redações incluem pela popularização de redes não incluídas na ferramenta, como TikTok e Kwai, que passaram a receber mais atenção das coberturas jornalísticas.
A principal razão, no entanto, são problemas estruturais do próprio recurso, que ficou sem atualizações entre outubro de 2021 e julho de 2023, quando parou de fornecer dados de Twitter e Reddit devido a mudanças no acesso às APIs dessas plataformas (assunto de newsletter anterior).
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Além disso, novas funcionalidades de plataformas da Meta, como os stories e os reels do Instagram, não foram incorporadas ao CrowdTangle.
Essa desatualização, somada a cortes na equipe de desenvolvimento e a interrupção na adesão de novos usuários, fez com que muitos passassem a considerar o CrowdTangle ultrapassado. No Aos Fatos, chegamos a enfrentar alguns bugs e lentidão em agosto deste ano, quando uma coleta simples demorou mais de 12 horas para ser processada.
Como demonstrado nas reportagens recentes publicadas pelo Aos Fatos, no entanto, o CrowdTangle ainda é uma ferramenta importante para realizar investigações online, ainda mais em um contexto de restrições de acesso a APIs de redes sociais. O recurso permite:
- Obter informações de publicações no Facebook e no Instagram, como conteúdo, interações (curtidas, compartilhamentos e comentários), horário de publicação e taxa de performance (espécie de índice de viralização do post);
- Criar listas de páginas, perfis ou grupos públicos para monitoramento;
- Fazer pesquisas por publicações usando filtros por palavras-chave, tipo de publicação (texto, imagem ou vídeo), perfil ou página, período de tempo (sem limite para personalização), idioma, localização, entre outros parâmetros;
- E ainda exportar todos esses dados em planilhas para análise.
Nenhuma outra ferramenta lançada até agora pela Meta — que tem prometido novas alternativas para acesso a seus dados — fornece um acesso tão detalhado a dados de Facebook e Instagram. Por isso, ainda vale insistir em usar o CrowdTangle.
🛠️ CAIXA DE FERRAMENTAS
Uma das limitações do CrowdTangle é a incapacidade de fornecer dados sobre anúncios no Facebook e no Instagram. Para isso, a Meta possui uma outra ferramenta, que é a Bibilioteca de Anúncios, onde é possível procurar por publicações patrocinadas nas plataformas com base em palavras-chave ou páginas.
A busca retorna resultados de anúncios ativos nas plataformas e informa o público estimado e variações de texto e mídia de cada campanha;
No caso de anúncios políticos, também é possível ver resultados de publicações que não estão mais ativas e saber um intervalo do valor investido em cada uma delas.
Essa é uma boa dica para quem quer follow the money nas redes sociais.