🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Junho de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Imagens manipuladas ou fora de contexto geram discurso de ódio contra Parada LGBT+

Por Luiz Fernando Menezes

13 de junho de 2023, 16h53

Enquanto a região da avenida Paulista estava tomada pela 27ª Parada do Orgulho LGBT+, no último domingo (11), usuários nas redes compartilhavam imagens mentirosas ou fora de contexto para destilar ódio contra a comunidade. Montagens, fotos de outros eventos ou registros feitos em outros países são acompanhados de mensagens preconceituosas para pregar pânico moral contra o evento e até tentar relacionar pessoas LGBTQIA+ à pedofilia.

Antes mesmo da data, passou a circular nas redes uma montagem que já estava viralizando em outros países e que mostra um homem com uma camiseta com os dizeres “crianças trans são sexy”. Na foto original, que sequer foi registrada em uma parada LGBTQIA+, o homem vestia uma camiseta branca sem estampa.

Estampa com dizeres “trans kids are sexy” foi incluída digitalmente em foto de homem com bandeira LGBTQIA+
Edição. Montagem que circulou nos EUA foi traduzida em publicações brasileiras (Reprodução/Facebook)

A montagem viralizou após Renan Santos, um dos fundadores do MBL (Movimento Brasil Livre), publicá-la no Twitter no dia 7 de junho. Após ter sido acusado de desinformação, ele deletou o tuíte e postou um link que mostra uma loja que supostamente venderia a camiseta com a estampa. A camiseta, no entanto, havia sido criada há menos de um dia e não há provas de que, de fato, tenha sido vendida ou criada por alguma pessoa ligada ao movimento LGBTQIA+, uma vez que qualquer pessoa pode oferecer produtos no site apresentado.

Outra desinformação viral passou a ser compartilhada desde domingo, data do evento. Um vídeo de uma performance realizada em um evento LGBTQIA+ nos Estados Unidos em abril e que mostra um homem fazendo pole dance em uma cruz tem viralizado como se mostrasse uma cena ocorrida no Brasil.

Leia mais
BIPE Posts transfóbicos usam vídeos fora de contexto para disseminar ódio nas redes

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) — que protagonizou uma cena de transfobia no plenário da Câmara, no início do ano — também publicou uma imagem que mostra uma criança ao lado de homens fantasiados para criticar o evento. Apesar de não citar a parada paulista, usuários nas redes sociais interpretaram que a cena havia sido registrada no Brasil no último domingo (veja abaixo).

Homem mostra foto registrada no Canadá como se fosse uma “cena grotesca” da Parada LGBTQIA+ de São Paulo
Cena descontextualizada. Vídeo tratou imagem de criança junto a grupo de BDSM em Montreal como se tivesse sido registrada no Brasil (Reprodução/TikTok)

A imagem, na verdade, foi registrada em 2019 na parada de Montreal, no Canadá. O grupo praticante do BDSM — conjunto de práticas sexuais que envolve dominação e submissão — participou da passeata e de fato interagiu com crianças. O caso é usado desde aquele ano para sugerir que a comunidade LGBTQIA+ promove a sexualização infantil, o que é mentira.

Essa alegação enganosa, no entanto, apareceu em outras publicações. Imagens que mostram um cartaz escrito “crianças trans existem” tem sido compartilhado nas redes com legendas como “não, o que existem são pais com problemas mentais que querem forçar a agenda em cima das crianças” ou “sexualidade sendo empurrados goela abaixo das crianças”.

Outra foto que vem sendo acompanhada de discurso de ódio é a foto do mascote oficial da vacinação Zé Gotinha no trio elétrico na Parada LGBTQIA+ (veja abaixo). Para os usuários, usar o personagem seria uma forma de cooptar crianças para a comunidade.

Foto mostra Zé Gotinha em cima de trio elétrico da Parada LGBTQIA+ 2023 junto da legenda “deixem nossas crianças em paz”
Mascote. Participação de Zé Gotinha foi criticada por usuários, que alegaram que o personagem seria ‘infantil’ (Reprodução/TikTok)

Vale ressaltar que a incongruência de gênero é uma condição de saúde sexual reconhecida pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Ela acontece quando “há uma incongruência marcante e persistente entre o gênero vivenciado por um indivíduo e o sexo atribuído”, segundo a organização, e pode se apresentar em crianças, adolescentes e adultos.

RECORRÊNCIA

As redes costumam compartilhar e reciclar desinformações contra a comunidade por volta de junho, quando é celebrado o Orgulho LGBTQIA+. No ano passado, por exemplo, publicações distorceram um outdoor homofóbico que tinha sido colocado em um centro islâmico no Bahrein como se fosse uma manifestação do Qatar, sede da última Copa do Mundo, contra os LGBTQIA+.

Naquele ano também viralizou nas redes um vídeo em que uma pessoa usa uma fantasia de pênis e vagina gigantes para simular um ato sexual. As imagens circularam no Brasil como se fossem uma apresentação promovida pelo PSOL em escolas no país, mas foi gravado, na verdade, em Toronto durante uma competição de dança.

O site satírico americano The Babylon Bee publicou um texto transfóbico sobre a halterofilista neozelandesa Laurel Hubbard em junho de 2021 em que dizia que ela teria desistido das Olimpíadas de Tóquio após sofrer uma lesão no testículo. Desde aquele momento, a falsa reportagem passou a circular nas redes americanas e foi traduzida para o português para zombar da atleta trans.

Em 2018, sites como o Terça Livre e o Expresso Diário ajudaram a viralizar uma desinformação importada da língua inglesa que dizia que pedófilos teriam pedido para serem incluídos na comunidade LGBT+.

Topo

Usamos cookies e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade. Ao continuar navegando, você concordará com estas condições.