Não há provas de que Bolsonaro foi à embaixada da Hungria para fugir de assassino

Por Luiz Fernando Menezes

3 de abril de 2024, 12h59

Não há nenhum indício de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tenha se abrigado na embaixada da Hungria para se proteger de um assassino contratado por opositores dele e identificado pela inteligência húngara. A versão das peças de desinformação não consta entre os argumentos usados pela defesa do ex-presidente para justificar a estadia ao STF e não foi citada por Bolsonaro em entrevistas. O primeiro registro público da peça de desinformação é de um perfil apócrifo no X (ex-Twitter) que alega que a informação é inventada.

Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam mais de 1,5 milhão de visualizações no TikTok e 20 mil compartilhamentos no Facebook até a tarde desta terça-feira (2). As peças desinformativas circulam também no WhatsApp, plataforma na qual não é possível estimar o alcance dos conteúdos (fale com a Fátima).


Selo falso

Por que o Bolsonaro foi chamado na embaixada da Hungria? Por que? Olha o que me chegou aqui: serviço secreto de inteligência da Hungria detectou um assassino profissional para executar, eliminar, destruir, zerar, da forma que quiser, Bolsonaro. Contratado pela esquerda junto à Venezuela de Maduro.

Homem diz, em vídeo, que Hungria salvou a vida de Bolsonaro

Uma teoria conspiratória tem viralizado nas redes para tentar explicar a estadia de Jair Bolsonaro na embaixada da Hungria entre os dias 12 e 14 de fevereiro: a de que ele estaria fugindo de um assassino contratado pela esquerda. A tese, que foi citada publicamente pela primeira vez por um perfil de humor e crítica política no X (ex-Twitter), vai contra a explicação feita pela própria defesa do ex-presidente.

No dia 25 de março, o New York Times revelou que Bolsonaro se hospedou na embaixada dias depois de a PF apreender seu passaporte em meio à Operação Tempus Veritatis, que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado. Após a revelação, o ministro Alexandre de Moraes determinou que o ex-presidente explicasse o motivo da ida à embaixada.

Os advogados de Bolsonaro alegaram que ele estaria mantendo “agenda política com o governo da Hungria, com quem tem notório alinhamento, razão porque sempre manteve interlocução próxima com as autoridades daquele país, tratando de assuntos estratégicos de política internacional de interesse do setor conservador”. Em nenhum momento o documento cita que o político corria risco de vida.

Em entrevistas após a publicação do New York Times, o ex-presidente também nunca citou a existência de um assassino. Além disso, não há qualquer menção à tese na imprensa ou nas redes dos familiares e da equipe de Bolsonaro.

Em determinado momento do vídeo desinformativo, é dito que “os húngaros só estão esperando o advogado de Bolsonaro dar a resposta para o STF para horas depois apresentar [sic] também as provas”. A explicação da defesa foi entregue no dia 27 de março, mas não houve nenhuma comunicação semelhante por parte das autoridades húngaras.

Aos Fatos procurou as autoridades húngaras e a defesa de Bolsonaro para que pudessem comentar as alegações feitas pela peça de desinformação, mas ninguém respondeu. O advogado do ex-presidente recebeu e leu a mensagem da reportagem, mas não retornou o contato.

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Origem. Em busca nas redes, Aos Fatos identificou que a peça de desinformação circula ao menos desde a madrugada do dia 27 de março:

  • À 1h daquele dia, o perfil Laurinha Opressora, que tem 33 mil seguidores no X, publicou que Bolsonaro havia sido chamado à embaixada da Hungria porque a inteligência húngara teria descoberto um plano da esquerda para assassiná-lo. Esse é o post público mais antigo identificado;
  • Cerca de 20 minutos depois, o mesmo perfil editou a mensagem para incluir a fonte das alegações: “Informação dos reinos espirituais”. Quando questionada, a conta disse que a mensagem lhe foi entregue por “vozes da cabeça” e “vozes espirituais” (veja abaixo);

    Quando perguntada ‘Qual a fonte dessa bomba’, suposta autora da mensagem responde ‘Vozes da minha cabeça’.
    'Vozes.' Usuária que publicou tese disse que a fonte são ‘vozes da sua cabeça’ (Reprodução/X)
  • Cerca de 20 minutos depois, uma mensagem idêntica foi publicada em grupos no WhatsApp monitorados pelo Radar Aos Fatos;
  • No mesmo dia, o conteúdo passou a circular no Youtube em canais bolsonaristas;
  • No dia 28, o perfil do TikTok @direitavolver_brasil publicou uma versão da história em um vídeo que viralizou inclusive em outras plataformas. No TikTok, ele acumula mais de 1,5 milhão de visualizações e, no Kwai, soma dezenas de milhares de visualizações.

Aos Fatos questionou o responsável pelo @direitavolver_brasil, que não retornou. Como o perfil Laurinha Opressora não disponibiliza nenhuma forma de contato, o usuário não foi procurado.

A Agência Lupa também desmentiu essa peça de desinformação.

Referências:

1. EBC (1 e 2)
2. Terra

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