Impulsionada por políticos, desinformação sobre vacinação infantil soma 618 mil interações no Facebook

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Publicações com alegações enganosas sobre a vacinação infantil contra a Covid-19 alcançaram 618 mil interações no Facebook desde que foi autorizado o uso do imunizante da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos no Brasil, no dia 16 de dezembro. Desse total, ao menos 454,5 mil curtidas e compartilhamentos foram de posts desinformativos publicados por políticos contrários à imunização desse público.

O Radar Aos Fatos coletou por meio da API do CrowdTangle (ferramenta de monitoramento de redes sociais), posts em páginas, grupos públicos e perfis verificados do Facebook sobre a vacinação infantil entre 16 de dezembro e 12 de janeiro, véspera da chegada dos primeiros imunizantes para crianças no país. Depois analisou as cem postagens com mais engajamento, que somavam 1,4 milhão de interações.

Dessas, 22 tinham argumentos enganosos e reuniam 42% das curtidas e compartilhamentos do universo analisado. Todas elas eram contrárias à vacinação infantil – dos cem posts avaliados, 46 eram contra a imunização, 37 declaravam apoio e 17 foram considerados neutros.

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Em geral, as publicações questionam a segurança do imunizante e o classificam como "experimental". Em dezembro, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou uma nota técnica na qual reafirma a segurança e a eficácia da vacina da Pfizer para crianças e diz que "se trata de uma vacina devidamente registrada, não se tratando de produto experimental".

IMPULSIONADO POR POLÍTICOS

O discurso antivacina de crianças contra Covid-19 tem sido engajado publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e ganha tração no Facebook com postagens de políticos que o apoiam. Entre os dez perfis que publicaram alegações enganosas sobre a imunização com mais engajamento, seis são de políticos bolsonaristas. Com 14 posts falsos ou enganosos, eles mobilizaram 454,5 mil curtidas e compartilhamentos sobre o tema – 73% das interações dos posts desinformativos.

Quem alcançou mais engajamento foi o ex-senador Magno Malta (PL-ES) com 118,4 mil curtidas e compartilhamentos em um vídeo em que, além de defender o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, afirma que as vacinas não são seguras e não possuem certificação.

O imunizante da Pfizer, aprovado pela Anvisa para aplicação em crianças, passou pelas três fases de testes e demonstrou eficácia, qualidade e segurança. O uso pediátrico da mesma vacina foi aprovado por outras agências de saúde internacionais, como a FDA (Food and Drug Administration, órgão regulador americano) e a EMA (Agência Europeia de Medicamentos).

O deputado estadual do Paraná Ricardo Arruda (PSL) publicou duas postagens desinformativas de hesitação vacinal no período analisado, que geraram 72,8 mil interações. Em uma delas, ele compartilhou um trecho de uma live em que Bolsonaro cita, de forma equivocada, uma estimativa de miocardite entre imunizados para afirmar que crianças não têm “quase nada a ganhar” com a vacina. O estudo que ele menciona, porém, conclui que os benefícios da vacina são superiores ao risco de desenvolvimento da doença.

A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) também obteve volume expressivo de interações (86,3 mil curtidas e compartilhamentos) a partir de quatro posts enganosos. O mais popular delas trazia um vídeo feito pelo comunicador gaúcho Fernando Conrado que reunia uma série de alegações falsas sobre os imunizantes.

Conrado recorreu, por exemplo, a dados de uma plataforma de notificação de efeitos adversos dos Estados Unidos para afirmar que as vacinas contra a Covid-19 causaram mais de 10 mil mortes. No entanto, os registros que constam do site podem ser enviados por qualquer pessoa, voluntariamente, sem que tenham sido averiguados por autoridades médicas — por isso, não podem ser creditados aos imunizantes.

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Já o suplente de deputado federal Fernando Borja (Avante-MG) foi o autor da terceira publicação mais popular sobre vacinação infantil no Facebook, com 45,8 mil interações. Ele compartilhou um vídeo no qual a jornalista Cristina Graeml, da Jovem Pan, cita casos de mortes de adolescentes como se tivessem ocorrido em decorrência da vacinação, o que é falso. O vídeo, inclusive, foi sinalizado como conteúdo desinformativo no YouTube.

Também alcançaram alto número de interações em postagens com teor desinformativo os deputados federais Diego Garcia (Podemos-PR) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Em ambos, a alegação falsa era de que as vacinas contra Covid-19 são experimentais. A da Pfizer possui registro definitivo na Anvisa.

O Radar entrou em contato com todos os responsáveis pelos conteúdos que foram classificados como desinformação mencionados na reportagem, mas não obteve resposta até a publicação.

METODOLOGIA

O Radar coletou, por meio da API do CrowdTangle (ferramenta de monitoramento de redes sociais), posts em páginas, grupos públicos e perfis verificados do Facebook que citavam termos relacionados à vacinação infantil entre 16 de dezembro de 2021 e 12 de janeiro de 2022. Depois, analisou individualmente as cem mensagens que somavam mais interações, classificou cada uma delas de acordo com o seu posicionamento em relação à imunização para crianças e investigou a incidência de desinformação.

Referências

  1. Folha de S. Paulo
  2. Anvisa (1 e 2)
  3. CNN Brasil
  4. Aos Fatos (1, 2 e 3)
  5. Estadão

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