O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não disse que um possível aumento na conta de energia não seria um problema, já que o povo brasileiro deve ir para a rua trabalhar, e não ficar em casa assistindo à televisão. Em busca nas redes, Aos Fatos não encontrou qualquer declaração similar do petista em entrevistas, discursos oficiais e posts nas redes. Suposta fonte das publicações mentirosas, o G1 também não veiculou o conteúdo, que simula uma reportagem do site do Grupo Globo.
A notícia falsa acumula ao menos 1.100 compartilhamentos no Facebook até a tarde desta terça-feira (14). O conteúdo também circula no WhatsApp (fale com a Fátima), plataforma em que não é possível estimar o alcance.
Lula diz que se houver aumento na conta de luz não fará diferença brasileiro tem que estar é na rua trabalhando
Publicações nas redes sociais compartilham a imagem de uma reportagem falsa, nunca publicada pelo G1, para afirmar que Lula teria feito pouco caso do impacto de um suposto aumento na conta de luz, pois teria dito que não faria "diferença” porque “brasileiro tem que estar é na rua trabalhando”.
Em busca nas redes, Aos Fatos não encontrou qualquer declaração semelhante do presidente da República. Nenhuma frase semelhante consta nas transcrições de discursos oficiais e entrevistas ou nas redes sociais do petista. Em nota, a assessoria de Lula afirmou que ele “nunca disse isso”.
Reajuste. Em novembro do ano passado, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) informou à equipe de Minas e Energia do governo de transição que as tarifas de energia elétrica deveriam subir, em média, 5,6% em 2023.
O coordenador do grupo de trabalho do novo governo para o setor, Mauricio Tolmasquim, afirmou em entrevista em dezembro que cerca de R$ 500 bilhões gastos pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) com empréstimos ao setor elétrico e contratação de usinas também teriam impacto na conta dos consumidores nos próximos anos. Esses gastos, no entanto, não foram detalhados.
De acordo com a imagem falsa do G1, a reportagem teria sido publicada no dia 10 de fevereiro. Na data, o veículo publicou duas reportagens que abordavam revisões na tarifa de energia, mas não há qualquer conteúdo semelhante ao da peça desinformativa:
- A primeira tratava de uma possível alteração no valor das contas após o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luis Fux suspender o teto do ICMS que incidia sobre a energia elétrica. A decisão, no entanto, se refere a uma lei aprovada no ano passado, ainda no governo Bolsonaro, e tem impacto apenas sobre o ICMS, que é um imposto estadual;
- A segunda noticiava um aumento de até 9,36% na tarifa de energia do Mato Grosso após proposta de revisão feita pela Aneel.
Na falsa reportagem do G1, aparece ainda um vídeo publicado pelo site Uai — que não é vinculado ao Grupo Globo — em abril do ano passado. A gravação traz um trecho de um evento em São Paulo no qual Lula criticou a classe média brasileira, que segundo ele, tem “um padrão de vida que em nenhum lugar do mundo a classe média ostenta”.
Essa não é a primeira vez que peças de desinformação usam a identidade visual do G1 para desinformar:
- Nesta semana, Aos Fatos checou que o veículo teria anunciado a sanção de uma lei que instituía vagas de estacionamento obrigatórias para a população LGBTQIA+ até 2024;
- Também circularam com a identidade visual do veículo posts falsos que alegavam que Lula teria defendido colocar caminhoneiros em seus devidos lugares e tornar a educação de relacionamento homoafetivo uma prioridade nas escolas;
- Aos Fatos mostrou em reportagem que há, inclusive, ao menos dois sites que permitem criar notícias falsas com a aparência do site do Grupo Globo.