🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Fevereiro de 2021. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

É falso que polícia descobriu que WWF Brasil financiou queimadas no Pará em 2019

Por Marco Faustino

2 de fevereiro de 2021, 15h38

Não é verdade que a Polícia Civil do Pará comprovou que a ONG WWF Brasil patrocinou incêndios em Alter do Chão no ano passado, conforme alegam postagens nas redes (veja aqui). A instituição não indiciou a organização não-governamental pelos incêndios no bioma amazônico. No inquérito instaurado à época, a ONG era citada pela polícia como suposta vítima de desvios de recursos.

O conteúdo enganoso reunia ao menos 4.994 compartilhamentos no Facebook nesta terça-feira (2) e foi marcado com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (entenda como funciona)


Selo falso

CONFIRMADO: A ONG WWF estava sim patrocinando o fogo na Amazônia. Teve quebra do sigilo telefônico e bancário dos incendiários da reserva de Alter do Chão. Divulguem esse vídeo, a imprensa não vai divulgar

Post Facebook com policial e legenda enganosa sobre WWF

É falso que tenha sido comprovado que o WWF Brasil patrocinou incêndios na região de Alter do Chão, no Pará. Embora o inquérito da Polícia Civil ainda esteja em andamento, não houve indiciamento da ONG. Além disso, uma investigação subsequente da PF (Polícia Federal) descartou a participação de brigadistas de Alter do Chão, como de ONGs, nos incêndios.

Inicialmente, o inquérito da polícia civil paraense apontou que quatro brigadistas teriam dado início às queimadas com o objetivo de obter doações de ONGs, em especial o WWF, e do ator Leonardo Di Caprio. Eles foram presos em uma operação da Polícia Civil chamada “Fogo de Sairé” em 26 de novembro de 2019, mas tiveram a soltura decretada dois dias depois.

Na época, durante uma coletiva de imprensa, o delegado José Humberto Melo Jr disse que a polícia decidiu fazer uma interceptação telefônica dos suspeitos com autorização da Justiça e monitorou conversas.

"Começamos a acompanhar toda a movimentação dos quatro suspeitos. Percebemos que a pessoa jurídica deles conseguiu um contrato com o WWF, venderam 40 imagens para o WWF para uso exclusivo por R$ 70 mil, e o WWF conseguiu doações como do ator Leonardo DiCaprio no valor de US$ 500 mil para auxiliar as ONGs no combate às queimadas na Amazônia”, disse o delegado.

Entretanto, segundo a polícia, o WWF Brasil vinha sendo apontado como vítima de suposto desvio de verba pelo grupo, não acusado de patrocinar os incêndios, informou o Estadão.

A organização ambiental disse que os R$ 70 mil haviam sido repassados por meio de um Contrato de Parceria Técnico-Financeira firmado com uma ONG chamada Instituto Aquífero Alter do Chão a fim de viabilizar a pronta aquisição de equipamentos para equipar a Brigada, que foi selecionada por sua atuação no apoio ao combate a incêndios florestais.

“O fornecimento de fotos por qualquer parceiro da organização é inerente à comprovação das ações realizadas, essencial à prestação de contas dos recursos recebidos e sua destinação no âmbito dos Contratos de Parceria Técnico-Financeira”, diz um trecho de uma nota publicada no site da WWF Brasil, que também saiu em defesa dos brigadistas.

Por e-mail, a ONG disse ao Aos Fatos na segunda-feira (1°) que em nenhum momento ela nem qualquer de seus funcionários ou dirigentes foi chamado para prestar informações, não tendo sido também investigada ou indiciada, tampouco processada em ação judicial que questionasse esses acontecimentos.

A Polícia Civil paraense chegou a indiciar brigadistas e ONGs locais, mas as investigações até hoje não foram concluídas. Por duas vezes, em janeiro e setembro de 2020, o Ministério Público do Pará pediu à Justiça estadual que determinasse à Polícia Civil o aprofundamento das investigações.

Segundo a Folha de São Paulo, as interceptações telefônicas que embasaram a prisão dos brigadistas teriam sido tiradas de contexto no inquérito policial, que se baseou apenas em depoimentos de militares e ruralistas. Além disso, um dos militares que depôs contra os brigadistas afirmou em entrevista a uma rádio local, que a suspeita relatada à polícia civil havia sido feita em tom de brincadeira, e que não havia acusado ninguém.

Após o episódio, o governo do Pará anunciou a troca do delegado responsável pelo caso, e a Corregedoria da Polícia Civil foi acionada para apurar as investigações. Uma investigação paralela iniciada em setembro de 2019 pela Polícia Federal também evidenciou inconsistências no inquérito da Civil e não encontrou indícios da participação de brigadistas ou ONGs nos incêndios.

Após uma perícia de quatro meses, a PF concluiu que, além de os incêndios terem começado em pontos distantes da região inicialmente apontada pela Polícia Civil, o fogo se originou por ação humana. Porém, segundo o relatório, não foi possível identificar quem teria iniciado os incêndios e foi pedido o arquivamento do inquérito.

O Aos Fatos tentou contato com a Polícia Federal no Pará e a Polícia Civil do Pará, mas não obteve retorno.

Esta peça de desinformação também foi checada pelo Boatos.org.

Referências:

1. G1 (Fontes 1, 2, 3, 4 e 5)
2. Facebook
3. Estadão
4. WWF
5. Folha
6. El País
7. MPF
8. Boatos.org


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

Topo

Usamos cookies e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade. Ao continuar navegando, você concordará com estas condições.