🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Novembro de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Como estabelecer relações entre contas em redes sociais

Por Ethel Rudnitzki

28 de novembro de 2023, 11h54

É muito provável que você não conheça todas as pessoas que te seguem nas redes sociais. É possível também que você nunca tenha conversado com todos os seus seguidores. Ser “amigo” no Facebook não significa, necessariamente, ser amigo na vida real.

Mas, então, como é possível identificar e estabelecer as relações entre perfis nas redes durante investigações online?


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Em reportagem publicada nesta segunda-feira (27), o Aos Fatos mostrou que uma organização antiaborto criou ao menos oito perfis e páginas que publicavam conteúdos feministas no Facebook e no Instagram, ambas plataformas da Meta, cuja política proíbe “comportamento inautêntico”. As contas falsas serviam como isca para enganar mulheres que buscavam ajuda para interromper uma gravidez indesejada e convencê-las a desistir de abortar — mesmo em casos permitidos por lei.

O primeiro passo para estabelecer a relação entre a organização e as páginas falsas foi olhar para as curtidas e os seguidores dessas contas. Chamou a atenção, por exemplo, que uma militante antiaborto tivesse perfis feministas entre seus amigos de rede social. Outro ponto que levantou suspeitas foi o fato de alguns desses perfis não usarem nomes reais e só publicarem fotos tiradas de bancos de imagens.

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A partir dos indícios iniciais, o segundo passo foi levantar informações públicas sobre esses perfis, como localização, links, publicações e informações de contato. Descobrimos que, além de se seguirem mutuamente, as páginas e perfis falsos divulgavam um mesmo telefone para contato e até publicavam posts repetidos, sinais claros de coordenação. Isso nos ajudou a determinar que todos os endereços tinham um mesmo administrador ou grupo de administradores.

Um deslize dos farsantes nos levou a perceber que a organização antiaborto por trás da armadilha era a Brazil4Life. Descobrimos que o número de contato das páginas falsas foi divulgado pelo perfil oficial da organização em uma publicação de quase dois anos atrás.

Montagem de publicações em redes sociais de organização anti-aborto e página falsa que compartilharam o mesmo telefone para contato.
Mesmo número. Perfil oficial de organização anti-aborto e página falsa compartilharam o mesmo telefone para contato.

Os bastidores dessa reportagem mostram, portanto, que não basta uma curtida, um comentário ou uma publicação para investigar relações em redes sociais. É importante ter uma visão geral do caso e analisar os dados em conjunto.

Foi também com o cruzamento de informações que Aos Fatos revelou no ano passado que uma rede com 33 grupos, páginas e perfis no Facebook atuava de maneira coordenada para publicar desinformação sobre política na plataforma. Os grupos compartilhavam os mesmos administradores, que replicavam conteúdos enganosos em páginas de nomes similares.

A rede foi identificada em documentos internos da empresa (vazados no caso conhecido como Facebook Papers) como exemplo de “dano social coordenado” por “deslegitimação do processo eleitoral ou defesa de golpe militar contra governos democraticamente eleitos com base em argumentos desinformativos”. Apesar disso, os perfis continuam no ar até hoje.

Também seguem atuantes nas plataformas da Meta as páginas falsas antiaborto descobertas por Aos Fatos. A empresa afirmou à reportagem que não iria comentar o caso.

Se não podemos contar com as plataformas para impedir a existência de páginas falsas e usuários com comportamento inautêntico, nos resta investigar e reportar com as técnicas compartilhadas por aqui.


BUSCA AVANÇADA

Analisar essa grande quantidade de informações publicadas nas redes sem se perder não é tarefa fácil. Para isso, é fundamental conhecer estratégias de busca dentro das plataformas — até porque nem todas as publicações feitas dentro desses espaços são indexadas por serviços de busca.

Em newsletter anterior (Radar #68) ensinamos como fazer buscas avançadas no X (ex-Twitter). Agora é a vez da principal plataforma da Meta, o Facebook.

Basta clicar na opção de pesquisa e uma nova aba será aberta, possibilitando a filtragem por:

  • Palavras-chave;
  • Localização;
  • Data;
  • Página;
  • E também por publicações vistas anteriormente no feed.

Print das opções de pesquisa do Facebook
Resultados da pesquisa. Opções de filtragem na aba de pesquisa do Facebook (Reprodução)

Essa estratégia pode ser útil para visualizar aquele post que passou despercebido e depois se perdeu entre as milhares de atualizações da rede ou para encontrar posts antigos de uma página sem ter que rolar o feed até o momento desejado.

sobre o

Radar Aos Fatos faz o monitoramento do ecossistema de desinformação brasileiro e, aliado à ciência de dados e à metodologia de checagem do Aos Fatos, traz diagnósticos precisos sobre campanhas coordenadas e conteúdos enganosos nas redes.

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