🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Agosto de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Como desvendar golpes virtuais com dados abertos?

Por Bianca Bortolon, Ethel Rudnitzki, Marco Faustino e Milena Mangabeira

14 de agosto de 2023, 09h15

Nem só de política se faz desinformação. “Fake news”, eleita expressão do ano de 2017 pelo dicionário Collins, associa a mentira (fake) àquilo que está no noticiário (news), prejudicando e polarizando o debate público.

Mas inverdades e enganações podem servir a diversos interesses e, além da desinformação política, um outro tipo de mentira tem recebido especial atenção das investigações do Aos Fatos: os golpes virtuais.

  • Desde o ano passado, já publicamos oito diferentes reportagens e checagens sobre o assunto.

E não é à toa: segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o crime de estelionato virtual cresceu 65% entre 2021 e 2022.

Para investigar esse campo da desinformação uma ferramenta especial tem sido muito útil: o Dnslytcs — junção dos termos DNS (Domain Name System), que em português se traduz por “sistema de nome de domínio”, e analytics.

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Como o próprio nome já diz, o site analisa e fornece informações sobre domínios de websites em diversas consultas diferentes. Uma delas é a “Who IS” — ou “quem é” —, que fornece os dados de quem fez o registro de um site, como nome, email, número de IP e IDs usados. Os dados de domínios internacionais muitas vezes são ocultados por serviços de proteção de privacidade.

No caso de sites brasileiros, é possível conseguir essas informações pelo Registro.br, que faz o controle de domínios registrados com o identificador “.br”. Os dados não podem ser ocultados, porque ferem as normas da plataforma de registro. No entanto, os dados disponibilizados podem ser apócrifos, o que denota golpe.

Outra opção de consulta no Dnslytics é de busca reversa IP ou por ID (identificador) de Google Analytics ou Adsenses — serviços do Google para controle de tráfego e distribuição de anúncios em sites. Funciona assim:

  • Primeiro, é necessário fazer uma consulta de tipo “Who.is” sobre o domínio desejado;
  • A consulta fornecerá o IP de registro do site, e os números dos IDs de serviços do Google associados a ele;
  • Com esses números copiados, você pode fazer a busca reversa e encontrar outros domínios com mesmo IP ou ID;
  • Na versão gratuita, a ferramenta fornece até 100 resultados. Já a versão paga permite visualizar até 2.500 domínios.

Se mais de um domínio tiver sido registrado com o mesmo número de IP, pode significar que pertencem a uma mesma pessoa, empresa ou apenas compartilham o mesmo serviço de hospedagem.

Essa pista nos levou a descobrir uma rede com mais de 330 sites para venda de rifas ilegais que compartilhavam os mesmos servidores da AWS (Amazon Web Services) — um serviço de computação em nuvem desenvolvido pela Amazon, conforme noticiamos no início do mês.

A mesma análise foi utilizada em junho para identificar sites que vendiam ingressos falsos para o show da artista pop Taylor Swift e que faziam parte de uma mesma rede de sites que vendiam bilhetes fraudulentos para o festival The Town.

A busca reversa por domínios que usam um mesmo ID de Google Analytics, por sua vez, nos fez descobrir quem estava por trás da rede de sites que vendiam o falso emagrecedor natural lipozepina. A investigação jornalística resultou também em investigação policial e prisões pela Polícia Civil de Nazaré Paulista (SP).

Há ainda outras funcionalidades gratuitas da ferramenta, úteis para investigações online de maneira geral, como:

  • busca por domínios com nomes similares;
  • teste de validade de endereços e-mail;
  • extensões para ter acesso automático a informações do domínio em seu navegador de internet.

Não usamos diretamente essas funcionalidades para desmascarar nenhum golpe virtual (ainda), mas convidamos vocês a testar e descobrir por si mesmos.


💡EUREKA. Temos um novo recordista em gastos com anúncios políticos nas plataformas da Meta em 2023. Neste ano, o governo federal superou os gastos da produtora Brasil Paralelo — famosa por ser a maior das anunciantes da categoria —, gastando até R$ 5,2 milhões desde o início do ano. Isso é mais de três vezes mais do que foi gasto no ano passado (R$ 1,4 milhão).

A produtora negacionista segue firme no segundo lugar, com R$ 4,9 milhões gastos desde janeiro. No entanto, considerando todo o período de dados disponível, ela segue invicta na primeira posição com mais de R$ 20 milhões gastos desde 2018.

As informações constam no Relatório da Biblioteca de Anúncios da Meta, fonte de dados abertos para quem quer saber mais de anúncios online.


🧐 BUSCA AVANÇADA. Essa dica é para você que quer fazer uma busca no Google ou no Twitter a partir da combinação entre dois ou mais termos. Com operadores booleanos é possível delimitar alguns resultados da sua pesquisa utilizando OR ou AND entre os termos desejados.

  • OR é usado para alternar entre um ou outro termo.

Por exemplo: Uma busca com “Lula” OR “presidente do Brasil” OR “governo brasileiro” irá retornar resultados que citem qualquer um desses três termos.

  • AND é usado para incluir dois termos necessariamente na mesma pesquisa;

Por exemplo: Uma busca com “lula” AND “animal marinho” irá trazer respostas que incluam as duas palavras juntas.

Isso vai ajudar a delimitar as buscas entre o chefe de Estado brasileiro ou a espécie de molusco. 🦑

sobre o

Radar Aos Fatos faz o monitoramento do ecossistema de desinformação brasileiro e, aliado à ciência de dados e à metodologia de checagem do Aos Fatos, traz diagnósticos precisos sobre campanhas coordenadas e conteúdos enganosos nas redes.

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