Eduardo Matysiak, Fátima Meira/Estadão e Pablo Valadares/Câmara

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Junho de 2022. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Ciro, Tebet e Janones exageram números ao falar sobre empregos e Petrobras

Por Priscila Pacheco e Luiz Fernando Menezes

20 de junho de 2022, 11h57

Pré-candidatos à Presidência que correm por fora da polarização entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e André Janones (Avante) inflaram números em falas recentes sobre empregos e a Petrobras. Ciro exagerou ao citar a parcela de trabalhadores informais, desempregados e desalentados no país; Tebet superestimou a quantidade de postos formais na agropecuária; e Janones errou ao falar que o preço dos combustíveis é atrelado à cotação do dólar.

Confira abaixo, em detalhes, o que checamos:

  1. Ciro Gomes
  2. Simone Tebet
  3. André Janones

CIRO GOMES


Selo falso

Desemprego aberto somado com a informalidade e o desalento já atinge 70 de cada 100 trabalhadores brasileiros. - entrevista à CNN Brasil (26/5)

A declaração de Ciro Gomes (PDT) é falsa porque, segundo os dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o desemprego, a informalidade e o desalento (situação de quem desistiu de procurar trabalho) atingem hoje cerca de 32 a cada 100 trabalhadores, não 70.

Os dados dessas três categorias estão na Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), que considera a população em idade de trabalhar — a partir de 14 anos.

A última edição, relativa ao primeiro trimestre de 2022, indicou o número de desocupados em 11,9 milhões; os informais — que não têm carteira assinada no setor privado ou no trabalho doméstico, que são trabalhadores familiares auxiliares ou empregadores e trabalhadores sem CNPJ — foram 38,2 milhões; e os desalentados, 4,6 milhões.

A soma dos números desses três grupos, portanto, resulta em 54,7 milhões de pessoas, o que representa atualmente 31,7% da população brasileira ativa economicamente, bem distante dos 70% citados pelo pré-candidato.


Selo falso

[O Brasil] é o país que mais produz alimentos do mundo. - no Twitter (26/5)

O Brasil não é o maior produtor de alimentos do mundo, como alegou Ciro Gomes em postagem que alertava para o avanço da fome. Segundo relatório estatístico da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) de 2021, com dados de 2019, o país ocupa a terceira posição tanto em produtos agrícolas como em carnes.

Entre produtos agrícolas alimentícios, como cereais, hortaliças, frutas, raízes e tubérculos, o Brasil colheu 1,08 milhão de toneladas no período analisado, ficando atrás de China (1,82 milhão) e Índia (1,12 milhão). Os chineses (77,44 mil toneladas) e os americanos (48,11 mil) também ficaram na frente dos brasileiros (28,62 mil) na produção de carnes.

Em nenhuma das outras categorias de alimentos listadas no relatório da FAO o Brasil está mais perto dos primeiros colocados: é o quinto no ranking de produtores de leite, com 36,17 mil toneladas, e de ovos, com 3,15 mil toneladas. Em frutos do mar, como peixes, crustáceos e moluscos, o país aparece em 19º, com 1,30 mil toneladas.

SIMONE TEBET


Selo falso

O agro gera 10% da mão de obra com carteira de trabalho - entrevista ao Programa do Ratinho (3/5)

A declaração de Simone Tebet é falsa porque, segundo as bases de dados oficiais, o percentual de empregos com carteira no setor agropecuário estaria entre 3,16% e 5,16% do total do mercado formal de trabalho brasileiro. O percentual se aproxima dos 10% citados pela pré-candidata apenas quando são considerados também os empregos informais.

De acordo com a última Rais (Relação Anual de Informações Sociais) disponível, referente a 2020, o Brasil possuía 46,23 milhões de pessoas com carteira assinada. O setor agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura correspondia a 1,46 milhão de empregados, cerca de 3,16% do total de trabalhadores formais.

Já no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que divulga números mensais baseados em declarações das empresas, o setor agropecuário foi responsável por 140.927 vagas com carteira assinada em 2021, último dado consolidado, o que representa 5,16% do total de empregos formais criados naquele ano (2.730.597).

O percentual citado por Tebet se aproxima ao que consta na última Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, mas apenas quando considerados também os empregos informais.

No trimestre encerrado em março deste ano, eram 8,74 milhões de pessoas ocupadas em agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, 9,17% do total de trabalhadores empregados no período (95,27 milhões).


Selo falso

Os dividendos da Petrobras esse ano, ou seja, o que a União recebeu só esse ano da Petrobras, do ano passado para esse ano, foi na ordem de R$ 106 bilhões de reais. R$ 106 bilhões. - sabatina do Correio Braziliense (31/5)

A declaração de Simone Tebet (MDB) é falsa, pois foram pagos em dividendos — parte do lucro líquido repassado aos acionistas — R$ 37,3 bilhões. O valor citado pela senadora, R$ 106,7 bilhões, se refere ao lucro líquido obtido pela Petrobras no ano passado.

A União é a acionista majoritária da Petrobras com 28,67% das ações. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), empresa pública federal, detém 7,9% das ações. A composição acionária ainda conta com outras empresas e com pessoas físicas.

Até julho, o governo deve receber o pagamento total de R$ 24,6 bilhões de dividendos e o BNDES, R$ 6,8 bilhões. A quantia é referente aos lucros de 2021 e do 1° trimestre de 2022.

ANDRÉ JANONES


Selo não é bem assim

Mudar a política de preços da Petrobras, não atrelando mais o preço do barril à cotação internacional do dólar - entrevista ao SBT News (17/5).

André Janones erra ao dizer que o preço do barril do petróleo no Brasil é atrelado à cotação do dólar. O valor é, na verdade, vinculado à flutuação de oferta e demanda do insumo no mercado internacional — pode, portanto, cair mesmo que a moeda dos EUA esteja em alta.

Desde outubro de 2016, a Petrobras adota a política conhecida como PPI (Preço de Paridade Internacional), que prevê que o valor da venda dos combustíveis no Brasil acompanhe o mercado internacional do barril de petróleo tipo Brent. Essa cotação é influenciada pela disponibilidade e a demanda do produto. Como partes da produção são dolarizadas, como a prospecção, o custo é afetado pela cotação da moeda americana. Não há, entretanto, uma relação direta entre ambos.

Em 2020, por exemplo, o preço do barril do petróleo teve queda no valor, enquanto o dólar seguia em alta. No final do mês de abril, um barril tipo Brent custava US$ 19,33, sendo que em janeiro havia alcançado US$ 70 — uma queda de 72,3%.

O dólar, por outro lado, chegou a ser vendido por R$ 4,05 no começo de janeiro. Na mesma data da queda do Brent, 21 de abril, o dólar estava custando R$ 4,69 — uma alta de 13,6%. Três dias depois, a moeda fechou o preço de venda em R$ 5,65.

Outro lado. As assessorias dos três pré-candidatos foram procuradas por Aos Fatos para que eles pudessem comentar o resultado das checagens, mas não houve retorno até a publicação da reportagem.

Referências:

1. IBGE (Fontes 1 e 2)
2. UESC
3. CNN Brasil
4. FAO
5. Ministério do Trabalho (Fontes 1 e 2)
6. Aos Fatos (Fontes 1 e 2)
7. Estadão
8. Folha de S. Paulo
9. Petrobras (Fontes 1 e 2)
10. Poder 360 (Fontes 1 e 2)
11. Global Petrol Prices
12. IBP
13. G1 (Fontes 1, 2 e 3)
14. BBC Brasil
15. UOL
16. Agência Brasil

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