Não foi registrado na Ilha de Marajó (PA) um vídeo que mostra um homem abusando sexualmente de uma criança em um barco. Diferentemente do que alegam peças de desinformação nas redes, a gravação foi feita em Itaquiraí (MS) em 2021.
Publicações com o vídeo descontextualizado acumulavam mais de 9.000 compartilhamentos no Facebook e 5.000 mil curtidas no Instagram até a tarde desta sexta-feira (23).
Passeio na ilha de Marajó. É esse o Brasil que você quer para as nossas crianças???
Um vídeo que mostra uma cena de abuso infantil em um barco tem sido compartilhado nas redes como se fosse um registro ocorrido na região da Ilha de Marajó. As imagens, no entanto, foram gravadas em Itaquiraí (MS), cidade que fica a mais de 2.500 km de distância do arquipélago paraense, em novembro de 2021.
Na ocasião, um homem de 41 anos foi gravado enquanto beijava à força uma criança de seis anos. O agressor foi identificado, levado à delegacia e, depois de prestar depoimento, morto a tiros dentro de sua própria residência.
As imagens de Itaquiraí já haviam sido compartilhadas nesse mesmo contexto enganoso em 2022. Naquela época, o empresário e então deputado federal eleito Pablo Marçal (Pros-SP) publicou o vídeo com a legenda “Por favor espalhem esse vídeo porque esquerdistas estão chamando Damares [Alves] de mentirosa”. Dias antes, a senadora e ex-ministra havia feito uma acusação sem provas sobre abuso infantil no Marajó que envolvia casos de tortura e mutilação.
Algumas versões da peça de desinformação que distorcem o contexto da agressão incluem ainda uma outra gravação descontextualizada já desmentida pelo Aos Fatos. As publicações enganosas alegam que um vídeo que mostra dezenas de crianças sendo transportadas em um carro no Uzbequistão seria um registro de tráfico de crianças no Marajó.
O assunto sobre exploração sexual de crianças e adolescentes no arquipélago paraense voltou às redes nesta semana após uma apresentação da cantora gospel Aymeê Rocha em um reality show no Youtube. O vídeo em que Rocha faz menção aos casos de abuso viralizou e passou a ser compartilhado junto da fala de Damares de 2022, num contexto que mistura um problema real (o abuso infantil no Marajó) com exemplos de desinformação.
A exploração sexual de crianças e adolescentes no Marajó já foi identificada por autoridades e é objeto de investigações. Segundo o MP-PA (Ministério Público do Estado do Pará), os municípios que fazem parte do arquipélago registraram 550 denúncias de crimes contra crianças e adolescentes, do quais 407 foram estupro de vulnerável.