Alex Falcão/Futura Press/Estadão Conteúdo

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Janeiro de 2021. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Pazuello mente sobre tratamento precoce para Covid-19; termo tem ao menos 140 menções no site da Saúde

Por Priscila Pacheco

18 de janeiro de 2021, 19h51

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, mentiu ao dizer nesta segunda-feira (18) que sua pasta não promove nem tem protocolos que indicam o uso combinado de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, o chamado "tratamento precoce". Além de existirem orientações do ministério nesse sentido desde maio do ano passado, o próprio Pazuello e o ministério já estimularam a utilização dessas drogas.

Confira a seguir o que checamos.


O Ministério não tem protocolos sobre isso [tratamento precoce de Covid-19 com uso de medicamentos], nem poderia ter.

A declaração dada pelo ministro Eduardo Pazuello (Saúde) em entrevista nesta segunda-feira (18) é FALSA. A pasta que ele comanda mantém desde 20 de maio – quatro dias depois de sua posse – um protocolo em que orienta o uso de hidroxicloroquina e azitromicina como tratamento precoce em casos de Covid-19. Os medicamentos não tiveram eficácia comprovada contra a doença nos estudos mais sólidos divulgados até o momento. A nota informativa foi revisada pela última vez em agosto do ano passado.

O Ministério da Saúde também investiu em propagandas para incentivar a população a aceitar o chamado tratamento precoce. Uma dessas peças, veiculada no Twitter, foi recentemente classificada pela plataforma como enganosa.

Em setembro do ano passado, a pasta tentou organizar um evento chamado “Dia Nacional da Conscientização para o Cuidado Precoce” que contaria até com aula virtual com médicos sobre a hidroxicloroquina, mas depois cancelou. Já em outubro, Pazuello disse, em vídeo ao lado do presidente Jair Bolsonaro, que havia tomado hidroxicloroquina para se tratar da Covid-19.

O termo "tratamento precoce" tem atualmente 140 menções em textos sobre Covid-19 no site do ministério. Somente em agosto de 2020 foram ao menos duas defesas de Pazuello ao método (confira aqui e aqui), assim como em setembro e dezembro.

“A curva do Brasil é alongada, pois é um país com dimensões continentais, diferenças regionais e populacionais. Por isso, tivemos impactos em momentos diferentes dependendo de cada região. O que fez e faz diferença para nós foi o tratamento precoce”, disse Pazuello no 48ª Reunião de Ministros da Saúde do Mercosul, realizada no dia 3 de dezembro de 2020.

No dia 7 de janeiro, o Ministério da Saúde enviou um ofício à Prefeitura de Manaus, que enfrenta mais um colapso no sistema de saúde com falta de leitos e oxigênio para vítimas de Covid-19, para que visitasse as Unidades Básicas de Saúde e promovesse a aplicação do tratamento. Além do ofício, a pasta financiou uma força-tarefa para que médicos fizessem a divulgação da hidroxicloroquina e outros medicamentos, por exemplo, o vermífugo ivermectina. No dia 13 de janeiro, a pasta anunciou o lançamento de um aplicativo chamado TrateCov, no qual também é propagandeado o tratamento precoce.

Além do ministro, o presidente Jair Bolsonaro é outro entusiasta do tratamento precoce e em ao menos 42 ocasiões já defendeu que medicamentos como hidroxicloroquina, ivermectina e nitazoxanida seriam eficazes contra a Covid-19. Nenhum desses remédios, no entanto, tem eficácia comprovada contra a doença.

Referências:

1. Aos Fatos (Fontes 1 e 2)
2. Ministério da Saúde (Fontes 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9)
3. Folha de S. Paulo (Fontes 1, 2 e 3)
4. UOL
5. Repórter Brasil
6. G1


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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