É falso que 25% dos vacinados contra a Covid-19 desenvolveram Aids

Por Marco Faustino

5 de março de 2024, 15h21

Não é verdade que um estudo científico mostrou que 25% dos vacinados contra a Covid-19 desenvolveram Aids, como afirmam publicações falsas nas redes. O artigo citado nas peças, de autoria de pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, não diz que os imunizantes contra a Covid-19 causaram Aids em quaisquer indivíduos, tampouco versa sobre a segurança de vacinas.

Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 4.500 curtidas no Instagram e centenas no Facebook até a tarde desta terça-feira (5).

Leia mais
WHATSAPP Inscreva-se no nosso canal e receba as nossas checagens e reportagens

Selo falso

Alerta! Cientistas de Cambridge descobriram: 25% das v@cs com mRNA C_19 têm VAIDS. Estudo revela falhas no sistema imunológico. Fonte: Slay News

Posts difundem que cientistas de Cambridge descobriram que 25% dos vacinados desenvolveram Aids, o que é falso; pesquisa não analisou casos de Aids entre vacinados.

É falso que pesquisadores da Universidade de Cambridge descobriram que 25% dos vacinados contra a Covid-19 apresentaram falhas no sistema imunológico e desenvolveram Aids, como tem sido difundido nas redes. O estudo ao qual as peças de desinformação fazem alusão não diz em nenhum momento que os imunizantes contra a Covid-19 fizeram com que vacinados desenvolvessem Aids. A alegação falsa foi desmentida por autores da própria pesquisa, que afirmaram ainda que as vacinas contra a Covid-19 são seguras.

As peças checadas citam uma publicação do site Slay News, que faz a mesma alegação com base em uma notícia publicada no jornal britânico The Daily Telegraph – segundo a qual cerca de uma em cada quatro pessoas que receberam vacinas de mRNA (RNA mensageiro) contra a Covid-19 tiveram uma resposta imunológica não intencional. Em nenhum momento o jornal afirma que vacinados desenvolveram Aids ou quaisquer outras doenças.

Leia mais
BIPE Site desinformador sai do ar após Justiça mandar apagar mentiras sobre vacinas e Aids

Embora o Daily Telegraph não cite o nome da pesquisa, os autores e os apontamentos mencionados na notícia remetem ao estudo intitulado “N1-methylpseudouridylation of mRNA causes +1 ribosomal frameshifting”, publicado na revista Nature em janeiro. Em nenhum momento, porém, os autores disseram que as vacinas causaram Aids ou que os imunizantes poderiam permitir que isso acontecesse.

O estudo observou os efeitos da vacina de mRNA em um grupo de 21 indivíduos. Foi verificado que um terço dos participantes produziu o que os pesquisadores classificaram como “proteínas não intencionais”. Na prática, os imunizantes induziram a produção de outras proteínas — e consequentemente uma resposta imunológica a elas — além da versão modificada e inofensiva da proteína Spike, do Sars-Cov-2, que causa a Covid-19. Isso não significa que os indivíduos desenvolveram Aids.

Os autores afirmam que “proteínas não intencionais” podem ser geradas de diversas formas, como pela alimentação ou por bactérias no intestino, por exemplo. As respostas imunológicas são inofensivas e fazem parte do sistema de defesa do corpo humano. A produção de proteínas indesejadas pelas vacinas foi atribuída pelos autores do estudo a erros de leitura de ribossomos — estruturas celulares responsáveis pela síntese de proteínas no corpo humano.

Os cientistas afirmaram que as vacinas contra a Covid-19 são seguras e que não há evidências de que a resposta imunológica a proteínas não intencionais, de qualquer natureza, cause danos ao corpo humano.

“A segurança da vacina Pfizer foi restabelecida através da observação de milhões de vacinados, e os benefícios ainda superam os riscos para aqueles que ainda são recomendados para a tomá-la. Portanto, o nosso último estudo não deve afetar a avaliação de segurança das vacinas de mRNA existentes contra a Covid-19”, disseram os autores do estudo e professores de Cambridge, James Thaventhiran e Anne Willis.

Lance Turtle, coautor do estudo e pesquisador da Universidade de Liverpool, afirmou à AFP que a alegação difundida pelas peças de desinformação foi inventada. “Não havia absolutamente nada sobre imunodeficiência em nosso estudo (…). Não há nada de imunodeficiência nisso, é o sistema imunológico respondendo a uma proteína estranha”, disse Turtle.

Leia mais
Nas Redes É falso que Putin ordenou a destruição de todas as vacinas contra a Covid-19 na Rússia

Por fim, é importante esclarecer que uma pessoa não contrai Aids pelo enfraquecimento do seu sistema imunológico, mas devido à infecção pelo vírus HIV, que ocorre pelo contato direto com sangue, sêmen ou fluidos vaginais de um indivíduo infectado. Segundo a SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), não se conhece nenhuma relação entre qualquer vacina contra a Covid-19 e a Aids. A infecção pelo HIV leva o indivíduo à perda progressiva da imunidade celular, tornando-o suscetível a outras doenças.

Referências:

1. The Daily Telegraph
2. Nature
3. Aos Fatos
4. The Conversation
5. AFP
6. Ministério da Saúde
7. Agência Aids

Topo

Usamos cookies e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade. Ao continuar navegando, você concordará com estas condições.