Sariana Fernández/Aos Fatos

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Maio de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Após Twitter mudar selos, parlamentares não têm verificação e monitoram perfis falsos

Por Ethel Rudnitzki

22 de maio de 2023, 11h36

Há um mês, o Twitter removeu a maior parte dos selos de verificação. Desde então, só assinantes do Twitter Blue — que no Brasil custa a partir de R$ 42 por mês — puderam manter ou adquirir o selinho azul, tirando poucas exceções.

Criado em 2009 com o objetivo de autenticar de forma gratuita a identidade de pessoas relevantes em seus campos de atuação, o selo azul perdeu essa função com o lançamento do Twitter Blue, que gerou uma onda de perfis falsos verificados se passando por políticos e celebridades. A destruição do sistema de verificação gerou críticas a Elon Musk.

A fim de contornar a questão em relação a autoridades e órgãos governamentais, a empresa criou um novo selo, de cor cinza, que não requer assinatura do Twitter Blue. Segundo as diretrizes, podem requisitá-lo “chefes de Estado, vice-chefes de Estado, membros de gabinete de nível nacional, porta-vozes oficiais do Poder Executivo e membros individuais de todas as Câmaras do Congresso ou Parlamento nacional”.

Até agora, porém, 3 em cada 4 contas de parlamentares estão sem qualquer verificação — deputados e senadores afirmaram ao Aos Fatos que nem sabiam da existência do selo cinza.

Equipes de comunicação dos parlamentares relataram que, após a retirada do selo azul, passaram a monitorar a criação de impostores, cujos perfis falsos podem ter o selo azul caso sejam assinantes do Twitter Blue.

O gabinete do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sequer foi informado pelo Twitter de que ele tem direito ao selo cinza.

A assessoria de Lira, que possui mais de 370 mil seguidores na plataforma, informou à reportagem que o selo azul foi removido sem aviso prévio e que não foi orientada sobre a necessidade de solicitação para o cinza. A opção de assinar o Twitter Blue, seguida por alguns deputados, não foi interessante para o deputado mais poderoso do Brasil por ele “já ter uma imagem consolidada nas redes”, segundo sua equipe de comunicação.

  • 442 dos 594 deputados e senadores (74,4%) estão sem qualquer selo;
  • 59 (9,9%) são assinantes do Twitter Blue e estão com selo azul;
  • 40 (6,7%) têm o selo cinza;
  • 55 (9,2%) não possuem contas na plataforma ou estão com o perfil retido por ordem judicial.

A mudança nos selos de verificação foi anunciada pela empresa em novembro, e o programa de assinaturas chegou ao Brasil em fevereiro. Até 20 de abril, no entanto, pessoas que já tinham contas verificadas antes das novas regras ainda permaneciam com seus selos azuis, incluindo parlamentares.

A partir de 19 de abril, o Twitter anunciou que removeria essas verificações e divulgou os meios de obter o novo selo azul, para usuários comuns, e o selo dourado, para empresas. Ambos pagos, com tarifas a partir de R$ 42 mensais ou R$ 440 no plano anual, para usuários comuns. As assinaturas garantem, além da autenticação da conta, mais visibilidade para os perfis e maior limite de caracteres e duração para as postagens, entre outros recursos.

A alternativa do selo cinza, no entanto, não foi amplamente divulgada pelo Twitter. Essa opção só aparece ao clicar no selo cinza de outra conta já verificada ou pesquisando pelas regras de autenticação de contas da plataforma.

Esses perfis precisam fazer uma solicitação à plataforma, enviando email ou documento que comprove a associação com organização governamental e aguardar resposta da plataforma, que não tem prazo para ser respondida. “Solicitações para o selo cinza são revisadas regularmente e o tempo de espera pode variar. Se seu perfil não seguir os critérios, sua conta não receberá o selo”, informa o formulário de solicitação, em inglês.

Formulário para requisição de selo cinza em inglêsGreys. Formulário para requisição do selo cinza pede informações sobre as responsabilidades de autoridades governamentais para aprovação (Reprodução)

Apesar disso, permanecem sem verificação os perfis de 378 deputados e 63 senadores. Assim como ocorreu no caso de Arthur Lira, outros parlamentares também não foram informados sobre a existência do selo cinza nem alertados sobre a remoção do selo antigo.

O senador Ângelo Coronel (PSD-BA) e o deputado Marcos Pereira (SP), presidente nacional do Republicanos, só ficaram sabendo do selo cinza após contato do Aos Fatos — e enviaram a solicitação no dia 17 de maio, ainda sem resposta.

Já congressistas que sabiam da opção antecipadamente revelaram que enfrentaram dificuldades no processo de verificação. A equipe da deputada Juliana Cardoso (PT-SP) contou à reportagem que teve uma primeira solicitação para o selo negada em 26 de abril “devido a divergências”, segundo a plataforma.

Uma segunda solicitação, feita no dia 9 de maio, demorou mais 10 dias até ser aceita pela plataforma. “Verificamos que há certa demora na liberação desse selo, mesmo tendo seguido todos os procedimentos necessários”, disse a assessoria.

Nesse período sem autenticação, a deputada revelou que percebeu diminuição no engajamento de seu perfil. “É visível que nosso perfil está oculto e temos um alcance muito limitado para nossas postagens e estratégias orgânicas”, informou a assessoria.

O deputado Rui Falcão (PT-SP), ex-presidente do partido de Lula, também está aguardando resposta a sua solicitação feita antes mesmo da remoção do selo antigo, há mais de um mês.

Enquanto não conseguem selos, congressistas de todo o espectro político adotaram medidas proativas para evitar a criação de perfis falsos:

  • A equipe do deputado Marcos Pereira (38 mil seguidores) realiza monitoramento enquanto aguarda um novo selo. “Entendemos que o selo de autoridade do Twitter é uma ferramenta adicional contra as contas falsas e reforça a atuação parlamentar dentro da plataforma”;
  • “Estamos monitorando ativamente a plataforma em busca de perfis que possuam ou aparentam ter nosso nome, a fim de tomar as providências quando forem necessárias”, disse a assessoria de Juliana Cardoso (9,1 mil seguidores);
  • Entre os cuidados tomados pela equipe de comunicação do senador Ângelo Coronel (11 mil seguidores) estão a inserção de links para perfis oficiais e a divulgação de seu nome de usuário em todas as postagens;
  • Questionado sobre as dificuldades enfrentadas por parlamentares, o Twitter enviou um emoji de cocô. A mensagem é uma resposta automática da plataforma, que está sem assessoria de comunicação no Brasil desde janeiro.

TONS DE CINZA

Entre os poucos parlamentares que estão verificados como autoridades de governo estão os senadores Alessandro Vieira (PSDB-SE), Cid Gomes (PDT-CE), Dorinha (União-TO), Jaques Wagner (PT-BA), Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), Romário (PL-RJ) e outros 34 deputados. A maioria (18) do PT.

A bancada do PT na Câmara se reuniu com o Twitter em meados de abril para discutir o impacto nos perfis de deputados, segundo o Aos Fatos apurou. A empresa disponibilizou um link para solicitação do selo cinza antes de remover a verificação antiga.

Na ocasião, a deputada Natália Bonavides (PT-RN) preencheu o formulário e cadastrou seu email legislativo na plataforma. “Em menos de uma semana nosso selo mudou, mas não tivemos nenhum retorno”, informou a assessoria. A deputada não chegou a ficar sem o selo de verificação.

Outros enfrentaram mais dificuldades para conseguir a verificação. Na sua primeira tentativa, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) teve a solicitação rejeitada. “Fizemos a solicitação do selo cinza no dia 21 de abril, utilizando o email oficial da Câmara dos Deputados e seguindo todos os passos indicados pelo Twitter. No dia 2 de maio, recebemos um email dizendo que nosso pedido teria sido negado”, contou a assessoria.

Um novo pedido foi feito, com o envio da identidade parlamentar e aceito em 11 de maio. O perfil ficou sem verificação por mais de 20 dias.

Mensagem do Twitter rejeitando selo cinza para parlamentarPedido negado. Mensagem recebida pelo deputado Chico Alencar rejeitando solicitação de selo cinza (Reprodução)

AZUL, MAS NÃO BLUE

Mesmo tendo direito à verificação gratuita do selo cinza, quase 10% dos parlamentares ostentam o selo azul, que identifica assinantes do Twitter Blue. A maior parte é de PL (35,5%) e PT (17%). Entre eles estão congressistas que já publicaram desinformação, segundo levantamento do Aos Fatos, como os deputados Gustavo Gayer (PL-GO) e Nikolas Ferreira (PL-MG).

A deputada e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que assinou o Blue por conta dos serviços oferecidos, como maior limite de caracteres em postagens de texto e vídeos mais longos, menos anúncios e mais visibilidade. Seu perfil possui mais de 1,2 milhão de seguidores. Antes de assinar, contudo, a parlamentar também fez a solicitação pelo selo cinza no dia 24 de março — antes de perder a verificação antiga —, mas não teve resposta.

Nem todos os perfis que estão com selo Blue são assinantes do serviço. Segundo sua assessoria, o deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) nunca chegou a perder o selo azul, embora não tenha assinado o serviço da plataforma. Após o anúncio de remoção dos selos antigos, outras autoridades e celebridades revelaram não ter perdido suas verificações, embora não tenham aderido ao novo serviço.

Parlamentares do PL não responderam à reportagem se houve orientação da sigla para assinatura do Twitter Blue ou se suas verificações antigas permaneceram.

ENQUANTO ISSO, NA ESPLANADA

Já no Executivo não houve grandes obstáculos para adequação às novas regras do Twitter. Quase todos os ministros de Estado e o presidente da República já têm o selo cinza, exceto o ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), que permanece sem verificação. A pasta não respondeu se a solicitação foi feita.

Segundo a Secom, não houve orientação central do governo para que as contas oficiais de ministros e ministérios solicitassem o novo selo, como ocorreu na bancada do PT. “Cada ministério é responsável pela administração das suas próprias contas”, disse a secretaria.

Antes da criação do selo cinza para autoridades, o ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias, chegou a fazer a assinatura do Twitter Blue para evitar perder a verificação. Com a mudança nas regras, a assessoria da pasta orientou o ministro a fazer a solicitação na plataforma, que demorou cerca de três semanas para conceder o novo selo. “O que houve foi uma adequação do selo ao novo modelo”, segundo o ministério.

Já a primeira-dama, Rosângela da Silva (1,1 milhão de seguidores), tem o selo azul do Twitter Blue, pois cônjuges de chefes de Estado não estão incluídos na lista de pessoas com direito ao selo cinza. A Secom não respondeu se Janja está fazendo a assinatura do serviço ou se o selo permanece desde antes da mudança de regras.

Referências:

  1. Núcleo Jornalismo (1, 2, 3)
  2. Vanity Fair
  3. Twitter (1, 2, 3)
  4. TechCrunch
  5. UOL
  6. Aos Fatos
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