🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Setembro de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Como usamos o Google Maps contra a desinformação

Por Ethel Rudnitzki e Luiz Fernando Menezes

25 de setembro de 2023, 11h07

O assunto desta terceira semana de setembro foi traição. O tema entrou em alta depois que a cantora Luísa Sonza anunciou no Mais Você o término com o então namorado, o investidor de criptoativos e influenciador digital Chico Moedas. O momento rendeu memes e debates em redes sociais e mesas de bar pelo país.

Antes disso acontecer, no entanto, a pauta já rodava no TikTok. Também nesta semana, uma usuária viralizou ao contar em um vídeo sobre como uma traição foi descoberta por meio do Google Street View — ferramenta do Google Maps que fornece imagens panorâmicas de diversos locais pelo mundo.

No post, que já acumula 7,9 milhões de visualizações, a usuária diz que, ao explorar imagens das ruas de seu bairro, se deparou com um registro de seu namorado e de outra mulher em uma moto. Pela ferramenta, ela seguiu o veículo até encontrar mais uma cena dos dois em um momento íntimo em uma praça.

Além de não ser a única do tipo, essa história viral não é atual e nem brasileira: aconteceu em 2018 no Peru. Ela revela, no entanto, como mapas digitais podem ser úteis para descobrir informações para além da simples orientação geográfica.


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No Aos Fatos, usamos o Google Maps para determinar a localidade de imagens e gravações que circulam na internet sem precisar apurar in loco.

Os vídeos desinformativos que apontavam as comportas como responsáveis pelo desastre mostravam um grande fluxo de água passado por uma das três usinas da região. Para identificar qual delas aparecia nas imagens, comparamos a gravação com fotos das três localidades disponíveis no Google Maps e buscamos elementos em comum.

A identificação das mesmas estruturas metálicas que apareciam no vídeo e nas imagens da usina 14 de Julho nos fez atestar que se tratava de registros do local. Entramos, então, em contato com a unidade, que informou que a barragem não possuía comportas para controle de água — o que também estava registrado nas fotos do Google Maps.

Comparação de frame de vídeo viral com imagem do Google Maps de hidrelétrica no Vale do Taquari
Comparativo. Frame do vídeo (à esq.) e imagens do Google Maps (à dir.) revelam elementos idênticos

Outros elementos que contribuem para a identificação do local onde foram registrados vídeos e imagens que circulam nas redes são placas ou sinalizações escritas. Essa estratégia foi usada para desmentir um boato que alegava, no início do ano, que teria ocorrido um atentado a uma escola em Gaspar (SC).

Um vídeo que circulou na época mostrava a ação de policiais em uma prédio cuja fachada tinha letreiros que diziam “Eliza HP”. Assim, foi possível identificar que a gravação havia sido feita diante da escola Elza Henriqueta Pacheco, em Blumenau, e não em Gaspar (SC), o que foi confirmado com as imagens do Google.

O histórico de registros da ferramenta também pode ser útil para identificar mudanças em uma localidade ou paisagem ao longo do tempo, como o momento em que um prédio foi construído ou reformado. Foi com o uso desse recurso que pudemos desmentir que fachadas de edificações do Exército haviam sido pintadas de vermelho após a posse de Lula.

Pode parecer simples — uma vez que o Google Maps é uma ferramenta gratuita e acessível —, mas analisar e comparar imagens para identificar sua localização exige um olhar apurado e bastante treino.

Por isso, você pode aplicar as dicas apresentadas nesta newsletter de uma forma divertida no jogo online Geoguessr, que te desafia a acertar o país em que foi tirada uma imagem aleatória do Google Street View. Essa pode ser uma boa forma de se preparar para a próxima vez em que você se deparar com um boato nas redes.

🛠️ CAIXA DE FERRAMENTAS

Se os recursos do Google Maps te permitem navegar para lugares distantes, o WayBack Machine, do Internet Archive, é como uma viagem no tempo.

  • A iniciativa mantém um registro de mais de 800 bilhões de capturas de páginas da web e publicações em redes sociais, salvas por usuários que ajudam a alimentar o banco de dados;
  • Para acessar, basta digitar o endereço desejado e verificar se alguém salvou uma captura da página em um momento no passado similar ao que você deseja ter acesso;
  • A ferramenta te permite relembrar a identidade visual antiga de blogs e revistas, consultar qual era a capa de um jornal em uma data específica ou acessar posts apagados em redes sociais;
  • Caso queira manter um registro de uma página que pode ser posteriormente excluída por algum motivo, você também pode salvar URLs no banco de dados;
  • Para isso, basta colar ou digitar o endereço no campo “Save page now” (salve página agora, em português), disponível na home do site, e clicar em “save page”.

sobre o

Radar Aos Fatos faz o monitoramento do ecossistema de desinformação brasileiro e, aliado à ciência de dados e à metodologia de checagem do Aos Fatos, traz diagnósticos precisos sobre campanhas coordenadas e conteúdos enganosos nas redes.

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