🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Outubro de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Sem moderação, virais desinformativos ou não verificáveis sobre Israel e Hamas tomam o X

Por Bianca Bortolon, Ethel Rudnitzki e Milena Mangabeira

11 de outubro de 2023, 19h18

Após demitir todos os funcionários da área de moderação e segurança e passar a contar apenas com “notas da comunidade” para combater a desinformação, a plataforma X (ex-Twitter) tem privilegiado conteúdos não verificáveis sobre os ataques terroristas do Hamas e a contraofensiva de Israel.

As principais publicações sobre o assunto trazem vídeos e fotos cuja veracidade ainda não foi comprovada e até mesmo conteúdos enganosos já desmentidos. O próprio Elon Musk, dono da empresa, recomendou dois perfis que teriam informações confiáveis sobre a guerra — mas que, na verdade, já haviam disseminado mentiras, como o Washington Post mostrou em reportagem. Após a revelação, Musk se retratou e apagou o post.

O descontrole da situação levou o comissário europeu Thierry Breton a enviar um documento à empresa, alertando sobre a circulação de desinformação sobre o conflito e pedindo explicações em até 24 horas.

Desde que foi comprada por Musk, a plataforma demitiu boa parte dos funcionários e encerrou a área de moderação de conteúdo. A situação ficou evidente com o início dos ataques:

  • Usando a ferramenta Nitter, Aos Fatos analisou as 500 publicações mais recomendadas que usaram quatro hashtags relacionadas ao conflito (#Israel, #Hamas, #Palestina e #Guerra) publicadas no Brasil entre sábado (7) e quarta-feira (11);
  • Dessas, 26 (5%) traziam conteúdos já desmentidos sobre o conflito;
  • Outras 86 (17%) estavam acompanhadas de mídias ou dados que não são passíveis de checagem ou que usavam tom alarmista;
  • Entre os 20 perfis que mais publicaram sobre o assunto, apenas um pertence a um veículo de mídia. O restante são páginas não oficiais sobre política e contas de influenciadores;

Entre os posts mais populares, 20 disseminam alarde sobre a suposta morte de 40 bebês no kibutz de Kfar Aza após os ataques do Hamas. Divulgada primeiramente pela repórter Nicole Zedeck, do canal de televisão israelense i24News, a informação foi replicada pela conta oficial do governo de Israel no X e chegou a ficar entre os assuntos mais comentados na tarde de terça-feira (10).

Posteriormente, a jornalista publicou em seu perfil que o dado foi uma estimativa feita por militares que atuavam no local, mas que o número exato de mortes ainda era incerto.

Usuários também divulgaram um vídeo em que a alemã Shani Louk, sequestrada pelo Hamas, dança com amigas em uma festa rave junto da alegação de que a gravação teria sido feita momentos antes do ataque. Alguns posts alegam que a mulher teria sido morta pelos terroristas; outros afirmam que ela ainda estaria viva, informação que foi confirmada por sua mãe.

Outros posts virais compartilham gravações sem identificação de data que supostamente mostrariam imagens do Domo de Ferro, sistema antimísseis israelense, agindo contra ataques do Hamas. Também circulam diversas publicações com fotos e vídeos que mostram cidades destruídas ou supostos ataques de mísseis, mas sem qualquer referência a fontes oficiais.

Aos Fatos também identificou que continuam circulando peças de desinformação já desmentidas. Uma delas compartilha trechos do jogo eletrônico Arma 3 junto da alegação falsa de que as cenas mostrariam armamentos usados por Israel. Já outras divulgam um vídeo de manifestantes sendo agredidos em uma marcha LGBTQIA+ na Ucrânia em 2017 como se fosse um registro de ativistas sequestrados durante um ato pró-Hamas.

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O debate no X sobre a guerra também dá destaque a outras disputas políticas sobre o conflito. Pelo menos 6 das 500 (1%) publicações mais populares acusam membros de partidos de esquerda no Brasil de estarem associados ao Hamas, distorcendo informações sobre manifestações de apoio feitas por políticos à causa palestina, como a doação enviada pelo governo brasileiro à ANP (Autoridade Nacional Palestina) em 2010.

Aos Fatos entrou em contato com X para questionar sobre as ações tomadas pela empresa no combate à desinformação desde o início do conflito, mas recebeu apenas uma resposta automática do email destinado à imprensa.

Referências:

1. Wired
2. The Washington Post
3. X (Thierry Breton, Israel, Nicole Zedeck)
4. CNN Brasil

5. i24News
6. Band News
7. G1
8. BBC
9. O Globo
10. Exame
11. Aos Fatos (1, 2, 3, 4)

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