“Um vagabundo morre por dois tiros, o policial responde por excesso. E dificilmente não vai ser preso por causa disso. A chance de escapar da cadeia é pequena.”
Aos Fatos não encontrou dados públicos de punição policial nem pesquisas recorrentes sobre o assunto. Portanto, a declaração de Bolsonaro foi considerada INSUSTENTÁVEL. Vale ressaltar, no entanto, que as reportagens e relatórios produzidos sobre o assunto apontam para uma direção contrária à afirmação do presidente. O UOL, em reportagem publicada em 2017, conseguiu o número de policiais presos em São Paulo via LAI (Lei de Acesso à Informação). Segundo o texto, cerca de 250 policiais são presos em decorrência de diversos crimes anualmente. Em 2016, por exemplo, foram 252 presos, mas apenas 25 deles por causa de homicídios. Em comparação, segundo dados do Anuário de Segurança Pública, 857 pessoas foram mortas em intervenções policiais no Estado. O jornal Extra também realizou um levantamento neste ano via LAI para apurar o número de PMs expulsos da corporação. Segundo os dados, 1.316 policiais foram expulsos entre 2012 e 2018. Desses, apenas 130 foram por homicídio. Em 2012, o Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) acompanhou trâmites de processos penais ocorridos entre 2001 e 2011 que envolviam autos de resistência de policiais no Rio de Janeiro. Segundo os pesquisadores, a tendência observada foi a de arquivamento dos casos, prevalecendo a narrativa policial. Para se ter uma ideia, em 2005, 707 pessoas morreram em decorrência de intervenção policial, 355 inquéritos tinham sido instaurados, mas só 19 se tornaram processos. Além disso, dos 19 processos, 16 foram arquivados a pedido do Ministério Público. O estudo "O bom policial tem medo", da Human Rights Watch, analisou 64 casos ocorridos entre 2009 e 2015 no estado do Rio de Janeiro com evidências de uso ilegal da força policial. Em 36 deles, os promotores não apresentaram denúncias, só 8 foram a julgamento e apenas em 4 os policiais envolvidos chegaram a ser condenados. O estudo também elencou métodos utilizados pelos policiais envolvidos em casos de uso ilegal de força para acorbertar seus crimes: "Eles ameaçam testemunhas. Eles colocam armas nas mãos das vítimas. Eles removem cadáveres da cena do crime e os levam ao hospital, alegando que tentavam “socorrê-los”. É importante ressaltar que a polícia brasileira mata muito: segundo dados do último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 5.159 pessoas morreram em decorrência de intervenção policial no Brasil em 2017. O número é quase o dobro de homicídios registrados em latrocínios (2.460).