Em agosto deste ano, estreou nos cinemas o filme “Megatubarão 2”, que, como já diz o próprio nome, conta a história fictícia de uma tripulação que enfrenta tubarões gigantes — pela segunda vez.
A criatura que aparece no longa-metragem de fato nadou pelos oceanos em algum momento da pré-história: dentes fossilizados e vértebras mineralizadas encontrados por cientistas atestam que existiram, sim, tubarões gigantes de até 18 metros de comprimento. Para fins de comparação, o tubarão-branco, considerada a espécie mais perigosa atualmente, mede cerca de 6,5 metros.
Esses animais gigantes, conhecidos como megalodontes — ou, no nome científico, otodus megalodon —, estão extintos há mais de 3,5 milhões de anos. Mesmo que a humanidade não conheça todos os animais do oceano, especialistas consideram altamente improvável que esses tubarões ainda estejam por aí.
“O megalodonte não era apenas um grande tubarão costeiro que certamente já teria sido avistado [caso ainda existisse], mas também um predador do topo da cadeia alimentar de qualquer predador marinho vivo. Como tal, ele teria uma enorme influência nos ecossistemas oceânicos”, explicou o pesquisador de biodiversidade marinha Jack Cooper à Live Science.
Mas, contrariando as evidências científicas, usuários no TikTok passaram a compartilhar uma teoria conspiratória de que a Nasa, agência espacial americana, estaria escondendo a existência do último megalodonte vivo.
Com centenas de milhares de visualizações, publicações em inglês e português alegam, com imagens, que a organização teria matado um espécime de tubarão gigante em setembro — ou novembro, a depender da peça — e estaria escondendo os vestígios da operação, que tem até nome: Seafall.
Essa teoria conspiratória parece ter origem em uma história que circulou nos EUA pouco antes da estreia do filme “Megatubarão 2”, que dizia que um marinheiro teria descoberto uma área marítima usada pela Nasa para estudar espécies estranhas e raras chamada “Zona F”.
Vamos por partes:
- Nenhuma das imagens presentes nas peças de desinformação é real. Ou se trata de edições, ou de frames da franquia “Megatubarão” ou apenas registros de tempestades no mar;
- É fato que a Nasa está estudando, em parceria com a WHOI (Instituição Oceanográfica Woods Hole), o fundo do mar. Não há, no entanto, registro de que exista uma “Zona F”;
- Também não encontramos nenhuma evidência de que tenha ocorrido uma operação Seafall. Na verdade, o único resultado no site da Nasa é sobre uma operação de 2010 intitulada “Antarctica's Weddell Sea, Fall 2010 Operation IceBridge”. Caso existisse, a operação nem teria nome tão original assim: existe um jogo de tabuleiro sobre exploração marítima chamado SeaFall Legacy.
Então, para resumir: não há nenhum indício de que a Nasa esteja escondendo um megalodonte ou sequer que os megatubarões ainda existam.
Mesmo uma teoria que também circulou nas redes, mas com menor viralização, que diz que a ciência estaria tentando “recriar” o megalodonte, não para em pé: um estudo publicado no periódico científico PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences) estimou que essas criaturas seriam muito vulneráveis às mudanças climáticas.
E mesmo que essas espécies gigantes não existam, fica aqui o aviso para os entusiastas dos megalodontes não subestimem os tubarões “de tamanho reduzido”: apesar de raros, já foram registrados ataques do animal no país. Desde 1992, houve 77 casos e 26 mortes apenas em Pernambuco. O Brasil é um dos países com a maior letalidade de ataques.
Por causa das festas de fim de ano, esta é a última A Que Ponto Checamos de 2023. Voltamos em janeiro com mais checagens das coisas mais absurdas que aparecem nas redes!