Posts usam vídeo editado para sugerir que ato bolsonarista teve público maior que Parada LGBTQIA+ de 2023

Por Luiz Fernando Menezes

28 de fevereiro de 2024, 15h31

São enganosas as publicações que comparam imagens do ato convocado por Jair Bolsonaro (PL) no último domingo (25) em São Paulo com registros da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de 2023 para alegar que o primeiro evento reuniu mais gente que o segundo. A gravação da Parada compartilhada pelos posts desinformativos foi registrada nas primeiras horas do evento. Além disso, a filmagem foi editada para sugerir que havia menos pessoas na manifestação.

A comparação que usa o vídeo descontextualizado acumulava ao menos 10 mil curtidas no Instagram e centenas de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta quarta-feira (28).

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Selo não é bem assim

Do lado esquerdo, imagem do ato bolsonarista do dia 25 vem acompanhada dos dizeres ‘185 mil’; do lado direito, imagem da Parada 2023 com legenda ‘3 milhões’

Publicações nas redes têm comparado imagens do ato bolsonarista na avenida Paulista do último domingo (25) com vídeos da Parada LGBTQIA+ de 2023 para sugerir que a estimativa de público de ambos os eventos estaria errada e que a manifestação organizada pelo ex-presidente teve maior adesão. As peças, no entanto, usam uma versão editada de um vídeo do evento do orgulho que foi gravado no período da manhã, quando havia menos pessoas na avenida.

As imagens que têm sido compartilhadas nas redes como se fossem prova de que a Parada não reuniu 3 milhões de pessoas em 2023 foram publicadas originalmente pelo UOL no dia 11 de junho daquele ano, data do evento, às 12h26. Elementos presentes no vídeo — e que foram recortados das peças de desinformação —, no entanto, apontam que a gravação foi feita ainda mais cedo: é possível ver, por exemplo, que as estruturas e carros elétricos que seriam usados na passeata ainda estavam sendo montadas naquele momento (veja abaixo).

Imagens de outros momentos da Parada 2023 mostram um público visualmente maior do que o das peças que têm circulado nas redes (veja aqui e aqui).

Vale ressaltar que a estimativa de público da Parada LGBTQIA+ 2023 não foi feita pela Rede Globo, como alegam as peças de desinformação. Os próprios organizadores afirmaram que a expectativa era que cerca de 3 milhões de pessoas comparecessem ao ato, que se estendeu das 11h às 18h.

É fato, no entanto, que a Parada do Orgulho costuma reunir um grande público. De acordo com a Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo), o evento de São Paulo é o maior ato LGBTQIA+ do mundo e atrai grande quantidade de turistas internacionais.

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Já a estimativa do ato bolsonarista citada pelas peças desinformativas foi feita por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo). Segundo o Monitor do Debate Político no Meio Digital, que calcula o público usando uma metodologia que se baseia em imagens aéreas e em um software treinado para contar cabeças, cerca de 185 mil pessoas compareceram ao evento do último domingo (25).

Um número diferente, no entanto, foi publicado pelo governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos). De acordo com a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), 750 mil pessoas compareceram à manifestação. Em nota enviada ao Estadão, a secretaria disse que a estimativa foi feita pela Polícia Militar por meio de um coeficiente de ocupação com base nas fotos aéreas e “informações das equipes em terra”.

As divergências nos números da SSP-SP e da USP têm gerado disputa e desinformação nas redes, como mostrou o Aos Fatos.

A peça de desinformação traz ainda um áudio falso em que o apresentador William Bonner chama Bolsonaro de “Bozo”. Não há registro de fala semelhante do jornalista.

Referências:

1. UOL
2. Valor
3. O Globo
4. Embratur
5. Monitor do Debate Político no Meio Digital
6. Estadão
7. Aos Fatos

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