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🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Agosto de 2017. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Três declarações contraditórias de André Fufuca, presidente interino da Câmara

Por Luiz Fernando Menezes e Tai Nalon

29 de agosto de 2017, 02h55

André Luís de Carvalho Ribeiro — para as urnas André Fufuca (PP-MA), para os íntimos Fufuquinha — é o presidente interino da Câmara a partir desta terça-feira (29). Ele assume a Casa durante a viagem do presidente Michel Temer à China. Temer, por sua vez, foi substituído por Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Câmara. A chefia da Casa deveria ter sido ocupada por Fábio Ramalho (PMDB-MG), mas ele acompanha Temer na viagem.

Nesta semana, Fufuca poderá estar à frente de votações que pretendem alterar substancialmente o funcionamento do sistema representativo brasileiro. A Câmara planeja votar dois projetos da reforma política: a cláusula que proíbe coligações partidárias e a que estabelece um fundo público para as campanhas.

Aos Fatos foi a discursos do deputado federal, a projetos de lei de sua autoria e a declarações feitas antes de assumir interinamente a presidência da Casa para descobrir o que diz e o que pensa André Fufuca.

Veja, abaixo, o que checamos.


CONTRADITÓRIO

O deputado disse que o marido da primeira-dama [de Bacabal, no Maranhão] era um pau-mandado. Ora, ele quer dizer o quê? Que a mulher deve ser submissa na política, que o papel da mulher é apenas ser submissa? Ele tentou passar a imagem de submissão da mulher. (...). Não é essa prática machista, esse sentimento de derrota que não passa que irá fazer com que essa cidade [de Bacabal] melhore.

Este trecho foi retirado de um discurso que Fufuca fez em repúdio a ofensas à primeira-dama do município de Bacabal, Patrícia Vieira, atribuídas ao candidato que perdeu as eleições para o seu marido. O deputado considerou o ato, em suas palavras, machista.

Porém, foi o mesmo Fufuca que classificou uma conduta segundo ele “afeminada” como negativa. Durante uma discussão do processo de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no Conselho de Ética da Câmara, foi acusado pelo deputado Júlio Delgado (PSB-MG) de chamar o ex-presidente da Casa pelo apelido de “papi”. Por isso, segundo Delgado, o deputado não podia integrar a comissão que julgava Cunha.

Como resposta, Fufuca chamou o adversário de “canalha”, e negou ter usado o apelido, já que vinha “de um estado em que usar o termo ‘papi’, com todo respeito, é até afeminado”.


CONTRADITÓRIO

Ocorre que essa interpretação [que permite que o médico plantonista ultrapasse as 8h diárias de trabalho desde que respeite as 44h semanais], não assegura condições dignas de trabalho para uma atividade tão complexa, e muito menos visa um melhor desempenho dos profissionais, ao contrário: a jornada fica exaustiva e a população não tem um atendimento com qualidade.

Fufuca é formado em medicina e tem atuação parlamentar ligada à classe. A declaração está documentada na justificativa do seu projeto de lei (PL 7.465/2017), cujo pretexto é regulamentar a carga horária de plantões médicos. Hoje, um médico pode fazer plantões de até 24 horas, a depender da instituição, desde que seja respeitado o limite de 44 horas semanais previsto na Constituição Federal.

Na justificativa do seu projeto, Fufuca cita dados de um estudo atribuído à Faculdade de Medicina da USP segundo o qual médicos que fazem plantão de 12 horas ou mais podem colocar vidas em risco. Também argumentou que o limite de oito horas por dia “asseguraria maior rotatividade e oportunidade de profissionais médicos” e acarretaria em uma “melhoria dos serviços médicos e no interesse público”.

No entanto, em abril passado, Fufuca foi um dos 13 deputados maranhenses que votaram pela aprovação da reforma trabalhista. A nova legislação permitirá que, entre outras mudanças, a jornada de trabalho chegue a 12 horas por dia, desde que se respeite o limite de 48 horas semanais (44 horas normais mais quatro horas extras). O texto contrasta com os objetivos originais do deputado-médico de estabelecer rotinas menos extensas aos seus pares.

É verdade, entretanto, que as normas poderão ser negociadas por categoria profissional por meio de acordo coletivo. Outra possibilidade é que projetos de lei excepcionais que assegurem regimes diferenciados, como o que Fufuca propõe, sejam aprovados na Câmara e no Senado. Se as classes profissionais em questão serão contempladas com diferentes jornadas, entretanto, ainda não é possível saber.


CONTRADITÓRIO

Hoje dou mais uma caminhada na minha trajetória e na minha vida política, que ao mesmo tempo é um desafio fazer parte de um novo partido, que é reflexo de lutas populares. Espero poder fazer parte de uma mudança, construindo um grande projeto junto com aqueles que honram o nosso partido para realizar o sonho de milhares de maranhenses.

Essa declaração faz parte de um discurso proferido por Fufuca em outubro de 2013, quando se afiliou ao PEN. O deputado ainda disse que escolhera a sigla por causa da história nas lutas pela sustentabilidade e que tinha a intenção de engrandecer e poder construir um grande partido. “Nós [os integrantes do PEN] teremos um partido político respeitado, grande e que engrandeça o nosso país”, disse à época.

Porém, em menos de três anos, Fufuca deixou o partido que ajudaria a construir para se filiar ao PP e se tornar o segundo deputado do partido do estado do Maranhão. O PEN, por sua vez, tem três deputados em sua bancada na Câmara e planeja abrigar Jair Bolsonaro (PSC-RJ) para lançá-lo candidato à Presidência da República no ano que vem.


O ingresso de Fufuca no PP foi em março de 2016, a convite do presidente do partido, Ciro Nogueira (PI), e do então vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (MA). Um mês depois, no entanto, Fufuca herdou a presidência do diretório maranhense do partido depois que o próprio Waldir Maranhão posicionou-se contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e foi destituído do cargo.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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