Queiroga cita dados falsos de vacinação e exagera ao dizer que Bolsonaro apoia imunizantes

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Em depoimento à CPI da Covid-19 no Senado nesta quinta-feira (6), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, citou dados sobre vacinas distribuídas no país que não correspondem aos números divulgados por sua própria pasta. O cardiologista também exagerou ao afirmar que o presidente Jair Bolsonaro tem apoiado a campanha de vacinação, já que o mandatário segue dando declarações contrárias aos imunizantes.

Queiroga, que tomou posse em 23 de março, é o terceiro titular do Ministério da Saúde na gestão Bolsonaro a depor. Antes dele, a CPI ouviu Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.

Em resumo, o que checamos até agora:

  1. É FALSO que o governo federal já tenha distribuído mais de 77 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19. Segundo o Ministério da Saúde, foram entregues 71,3 milhões;
  2. Também não é verdade que o Brasil tenha ultrapassado em dias do mês de abril a marca de 1,8 milhão de vacinas aplicadas. De acordo com base oficial Localiza SUS, no pico de vacinação do mês, registrado no dia 20, foram administradas 1,2 milhão de doses;
  3. Uma declaração de Jair Bolsonaro em 24 de março também torna FALSA a alegação de Queiroga de que nunca teria discutido sobre o "tratamento precoce" com o presidente. O mandatário afirmou ter tratado do assunto em reunião com a presença do ministro;
  4. É FALSO que haja queda no número de casos confirmados de Covid-19. As médias recentes têm apresentado pequenas variações, indicando estabilidade na curva de casos.
  5. Ainda que o presidente tenha passado a vacinação como conquista do seu governo, é EXAGERADO afirmar que ele seja um apoiador da campanha de imunização. Bolsonaro segue dando declarações críticas aos imunizantes e já disse que não pretende se vacinar;
  6. A inexistência de bases de dados públicas que medem e comparam a distribuição de vacinas entre países do mundo torna INSUSTENTÁVEL a declaração do ministro de que o Brasil seria o quinto que mais entregou vacinas aos gestores locais;
  7. O Ministério da Saúde de fato não entregou cloroquina na gestão Queiroga. Porém, a declaração do ministro foi IMPRECISA porque ele omitiu que, em abril, foram entregues ao menos 100 mil comprimidos de hidroxicloroquina, uma droga análoga e igualmente ineficaz contra a Covid-19;
  8. É VERDADEIRO que uma pesquisa indicou que cerca de 85% da população brasileira pretende se vacinar, como afirmou o ministro. Segundo o Datafolha, 84% dos entrevistados que ainda não haviam sido imunizados pretendiam receber a vacina contra Covid-19.
  9. A parcela da população nos grupos prioritários de vacinação definido no PNI é bem próxima do número apresentado por Queiroga, 18,5%.


Mais de 77 milhões de doses de vacinas já foram distribuídas para secretarias estaduais e municipais.

A declaração do ministro é FALSA, pois o governo federal distribuiu 71.389.120 doses dos imunizantes CoronaVac, AstraZeneca/Oxford e Pfizer a estados e municípios até o momento, segundo dados do Localiza SUS, sistema do Ministério da Saúde, coletados na manhã desta quinta-feira (6).


No mês de abril, houve dias que ultrapassamos a meta de 1,8 milhão de indivíduos vacinados.

É FALSO que mais de 1,8 milhão de pessoas foram vacinadas em dias de abril passado, como afirmou o ministro Queiroga. Segundo a plataforma Localiza SUS, a meta citada por ele não foi alcançada no mês passado. O pico de vacinação em abril se deu nos dias 19 (1.005.048 doses aplicadas) e 20 (1.197.913 doses).


Não tratei com o presidente acerca de protocolo [para Covid-19], acerca de medicamentos. Não tive nenhuma conversa dessa natureza.

A declaração é FALSA porque o presidente Jair Bolsonaro afirmou publicamente ter conversado com o ministro sobre a adoção de um protocolo do chamado "tratamento precoce". Um dia depois da posse do médico no Ministério da Saúde, em 24 de março, o presidente disse que o assunto foi discutido em reunião no Palácio do Alvorada que, além de Queiroga, contou com governadores, ministros e os chefes do Legislativo e do Judiciário.

Em entrevista à imprensa após esse encontro, Bolsonaro, que apareceu ao lado de Queiroga, disse: “tratamos também [durante a reunião] de possibilidade de tratamento precoce. Isso fica a cargo do ministro da Saúde, que respeita o direito e o dever do médico 'off-label' tratar os infectados".


Hoje estamos assistindo a uma queda do número de casos [de Covid-19].

A declaração é FALSA, pois as médias recentes de casos confirmados de Covid-19 têm apresentado pequenas variações, indicando mais uma estabilidade do que uma queda. Segundo o levantamento do consórcio de veículos de imprensa desta quarta-feira (5), a média dos últimos sete dias foi de 58.951 novos casos diários. Na semana anterior, eram 57.384. A análise aponta ainda que o patamar atual teve uma variação mínima em comparação ao de duas semanas atrás, quando a média ficou em 59.149.


O presidente tem apoiado a campanha de vacinação.

Ainda que Bolsonaro tenha passado a usar dados da vacinação como conquistas de seu governo, a fala do ministro é EXAGERADA porque o presidente segue dando declarações que levantam suspeitas sobre os imunizantes e demonstrou não ter vontade de se vacinar.

Em discurso nesta quarta-feira (5), o presidente sugeriu que os esforços internacionais para acelerar a vacinação atendiam somente a interesses econômicos, e questionou: “Por que não se investe em remédio? Por que é barato demais? É lucrativo para empresas farmacêuticas ou para laboratórios investir no que é caro? Nós conhecemos isso".

O presidente já afirmou também em mais de uma ocasião que não iria se vacinar, baseando-se na falsa premissa de que já teria anticorpos contra a doença. Mais recentemente, ele passou a dizer que só se imunizaria depois do último brasileiro.

Bolsonaro também levantou suspeita sobre a qualidade das vacinas em uma série de ocasiões no início deste ano, quando os imunizantes começaram a ser aplicados no Brasil. Segundo o contador de declarações do Aos Fatos, ele disse 19 vezes em 2021 que as vacinas seriam "emergenciais" e não teriam comprovação científica, o que não é verdade.

Antes de passar a tratar a vacina contra Covid-19 como agenda positiva do governo, Bolsonaro foi uma das principais vozes no país contrárias à adoção dos imunizantes. Ao longo do ano passado, ele deu diversas declarações contra a CoronaVac e chegou a cancelar um contrato de intenção de compra da vacina em outubro. Quando os testes desse imunizante foram interrompidos em razão do que, mais tarde, se comprovou ser um suicídio, o presidente disse que a CoronaVac causaria “morte, invalidez e anomalia”.

Já ao se posicionar contra uma suposta cláusula do contrato da Pfizer que eximiria a empresa de responsabilidade sobre efeitos colaterais, o presidente disse: “se você virar um jacaré, é problema seu”.


(...) o que faz do Brasil o quinto país que mais distribui doses de vacinas.

A declaração do ministro foi classificada como INSUSTENTÁVEL porque não existem bases de dados públicas que apontem e comparem números de doses de vacinas distribuídas por país. A plataforma Our World in Data, por exemplo, compila informações sobre doses efetivamente aplicadas, não apenas repassadas pelos governos aos gestores locais.

Mesmo considerando esta base de dados, a fala do ministro seria duvidosa. No ranking, o Brasil ocupa a quarta posição entre os que mais aplicam vacinas, levando em conta os números absolutos. Com 45,6 milhões de doses administradas até 5 de maio, o país fica atrás de EUA (249,57 milhões), Índia (159,93 milhões) e Reino Unido (50,68 milhões).

Porém, se consideradas as doses aplicadas em relação à população total, o Brasil cai para a 72ª posição: 21,49 vacinas aplicadas a cada cem habitantes.


Eu não autorizei distribuição de cloroquina na minha gestão. Eu não tenho conhecimento que esteja havendo distribuição [cloroquina].

De fato, o Ministério da Saúde não distribui o medicamento a estados e municípios desde dezembro do ano passado, de acordo com dados do Localiza SUS. Porém, somente na gestão Queiroga, iniciada em 23 de março, a pasta já repassou ao menos 100 mil comprimidos de hidroxicloroquina, droga análoga e igualmente sem eficácia comprovada contra a Covid-19. Assim, a declaração do ministro foi classificada como IMPRECISA.

As 100 mil doses de hidroxicloroquina foram enviadas para Presidente Prudente (SP) em 27 de abril deste ano. No mês anterior, Limeira (SP) recebeu do governo federal 27.500 comprimidos da droga. Porém, como a plataforma do Ministério da Saúde não indica a data exata desta remessa, não há como determinar se ela ocorreu na gestão Queiroga. Ainda não há dados disponíveis para maio.


85% da população quer receber a vacina, mostra uma pesquisa.

A declaração do ministro é VERDADEIRA. Em março, pesquisa realizada pelo Datafolha mostrou que 84% dos entrevistados que ainda não haviam sido imunizados pretendiam receber a vacina contra Covid-19. A proporção foi maior que a registrada em janeiro (79%) e em dezembro de 2020 (73%).


Temos 17,1% da população [do grupo prioritário no Programa Nacional de Imunizações] com as duas doses.

Cerca de 18,5% (14.885.717) das 80.530.030 pessoas que integram o grupo prioritário do PNI (Programa Nacional de Imunizações) receberam as duas doses de vacinas contra a Covid-19 até o momento. Os números foram extraídos da plataforma Localiza SUS na tarde desta quinta-feira (6). Assim, a fala do ministro recebeu o selo VERDADEIRO.

Outro lado. Aos Fatos entrou em contato com o Ministério da Saúde na tarde desta quinta e informou que estava verificando declarações do ministro à CPI. Eventuais respostas enviadas pela pasta serão acrescentadas posteriormente nesta checagem.

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