Maconha causa câncer; agrotóxicos não fazem mal à saúde; o nazismo é de esquerda; escolas públicas promovem erotização infantil; PT tem ligações com o PCC. Informações falsas ou controversas têm pontuado declarações de ministros anunciados pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), mostra levantamento de Aos Fatos em posts e vídeos nas redes sociais, em reportagens e em entrevistas concedidas pelos novos integrantes do primeiro escalão do Executivo federal.
Confira abaixo o que encontramos.
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Erotização infantil e satanismo
Damares Alves, futura ministra de Direitos Humanos, da Família e dos Direitos da Mulher notabiliza-se por palestras, todas disponíveis online, onde aborda temas que se destacaram entre as notícias falsas propagadas nas eleições presidenciais. Exemplo disso são as hipóteses de que as crianças são erotizadas ou receberam ‘kit satânico’ nas escolas públicas.
Para defender a existência de uma suposta erotização infantil, Damares distorceu, em uma palestra de 2013, a origem e a faixa etária indicada de cartilhas educativas. Na ocasião, ela afirmou que o livro francês Aparelho Sexual e Cia ( Zep, pseudônimo do suíço Phillipe Chappuis, e Hélène Bruller, 2007) é vendido para crianças de 2 a 3 anos. A editora da publicação no Brasil, a Companhia das Letras afirmou, porém, que o livro destina-se a adolescentes. Nos últimos meses, as redes sociais foram tomadas por vídeos, imagens e links que afirmavam categoricamente que a obra era parte do famigerado ‘kit gay’, o projeto Escola Sem Homofobia, o que não é verdade. A informação falsa chegou a ser propagada inclusive pelo presidente eleito Bolsonaro em entrevista ao Jornal Nacional.
Na mesma palestra, a agora futura ministra também disseminou informações falsas ao dizer que a gestão de Marta Suplicy (ex-PT, hoje MDB) na Prefeitura de São Paulo contratou uma ONG para "ensinar professores de creches sobre ereção de bebês e masturbação". Como fonte, Damares citava uma reportagem de 2004 do Estado de S. Paulo, que, por sua vez, não traz a informação citada por ela na palestra.
O que o jornal denunciou, na verdade, foi a contratação dos serviços do Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual (GTPOS), ONG ligada à própria Marta Suplicy, "para desenvolver um projeto de sexualidade e direitos reprodutivos nas escolas". Não há qualquer menção a “ereção de bebês”.
Já em uma palestra em 2016, Damares afirmou que um "kit satânico" estaria sendo distribuído nas escolas pelo governo, mas essa informação provou-se falsa, como Aos Fatos checou durante as eleições. Na realidade, o kit nada mais era do que o material de apoio ao projeto educacional BÚ! Histórias de Medo e Coragem.
Distribuído em algumas escolas, o material pretendia incentivar os alunos a produzirem conteúdos sobre medos e coragem por meio da leitura e produção de contos. Esse projeto é uma das ações de incentivo a literatura do Programa Endesa Brasil de Educação e Cultura e do Ministério da Cultura.
Damares Alves é advogada e pastora da Igreja do Evangelho Quadrangular. Sua carreira política começou em meados de 2010, quando trabalhou para o senador Arolde de Oliveira (PSD). Desde 2015, ela é assessora parlamentar do senador Magno Malta (PR).
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Maconha causa câncer
O futuro ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), já divulgou informações controversas sobre o consumo de maconha durante uma audiência da Comissão da Seguridade Social e Família de maio de 2015 na Câmara dos Deputados. Para ele, não há sentido legalizar a droga, já que ela “dá câncer”. Nesse mesmo discurso, Mandetta chegou a ironizar o consumo da erva dizendo que: “se o cara começa na maconha, passa pra cocaína, vai no crack, acaba votando no PT no final do processo todo”.
Por mais que o consumo de maconha traga riscos à saúde, como o aparecimento de sintomas de bronquite crônica e interferências em funções cognitivas e motoras, ainda não é possível correlacionar o câncer com a droga. Segundo o estudo de 2015 “An epidemiologic review of marijuana and cancer: an update”, da revista Cancer, Epidemiology, Biomarkers & Prevention, que reuniu 34 estudos epidemiológicos sobre maconha e câncer, não há como ter certeza se o consumo aumenta o risco de contrair a doença.
Um estudo deste ano, publicado na revista americana Chest, revisou outros artigos que tratam somente da correlação com doenças do pulmão. Segundo o artigo, “um grande estudo de corte e uma análise conjunta de seis estudos de caso bem realizados não encontraram evidências de uma ligação entre o fumo de maconha e o câncer de pulmão”.
Os dois estudos citados apontam que os riscos só serão realmente conhecidos quando forem realizadas mais pesquisas em comunidades onde o acesso a droga é maior (como acontece com o cigarro de tabaco, por exemplo).
Mandetta é médico ortopedista e entrou para a política em 2005, quando assumiu a pasta de Saúde da prefeitura de Campo Grande (MS), durante o governo de Nelson Trad Filho (MDB). Em 2010 foi eleito deputado federal, cargo no qual permanece até hoje. Também foi presidente da Unimed da capital de Mato Grosso do Sul de 2001 a 2004.
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Conservadorismo brasileiro
Quando aceitou o convite de Bolsonaro, o futuro ministro da Educação, Ricardo Veléz Rodriguez, disse que adotaria uma posição de “elaboração de normas no contexto da preservação de valores caros à sociedade brasileira, que, na sua essência, é conservadora”. Porém, o resultado das duas últimas pesquisas nacionais sobre a aceitação de pautas e visões conservadoras e progressistas no país mostram uma realidade distinta.
O levantamento realizado pelo Datafolha concluiu que a maioria das pessoas acredita que imigrantes “contribuem com o desenvolvimento e a cultura” (70%), que a homossexualidade “deve ser aceita por toda a sociedade” (74%) e que os cidadãos não deveriam ter o direito à posse de armas (55%). Tais resultados aproximam a opinião pública da visão progressista.
A pesquisa do Ideia Big Data, por sua vez, apontou que 65,5% dos brasileiros acreditam que pessoas do mesmo sexo devem ter o direito de se casar; que 62,6% concordam que esses casais possam adotar crianças; e que 62,4% acham que direitos humanos devem valer para todos, incluindo bandidos. As posições também são distintas do pensamento conservador a que Veléz Rodriguez se referia.
Por outro lado, os brasileiros são, de fato, mais conservadores quando o assunto é a liberação de drogas e do aborto, de acordo com os dois levantamentos: 55,4% não acham que a maconha deve ser legalizada, segundo o Ideia Big Data. A regulamentação do aborto é reprovada por 70% dos entrevistados pelo Datafolha.
Ricardo Veléz Rodriguez é professor-colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora). Em suas falas, já se posicionou favoravelmente ao Escola Sem Partido e criticou o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Foi indicado pelo professor Olavo de Carvalho logo após a bancada evangélica se posicionar contra o primeiro nome, do educador Mozart Neves.
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Agrotóxico como remédio
“Tenho certeza de que não há ‘veneno’ nenhum. É discurso porque, primeiro, as pessoas só usam defensivos quando necessário, como remédios”, disse a deputada federal e futura ministra da Agricultura Tereza Cristina (DEM-MS) em um evento na Câmara de Campo Grande em junho deste ano. Defensora ferrenha do uso do agrotóxicos, a líder da bancada ruralista na Câmara Federal foi apelidada por seus colegas de Musa Veneno pelo empenho na tramitação do PL 6299/2002, que flexibiliza regras de controle de agrotóxicos no Brasil.
A certeza de que os defensivos agrícolas não causam mal à saúde vai, porém, contra diversos estudos científicos, como o Science and Total Environment de 2017. Segundo a pesquisa, que reuniu a bibliografia de diversos outros artigos sobre o tema, “as associações estatísticas entre a exposição a certos agrotóxicos e a incidência de algumas doenças são convincentes e não podem ser ignoradas”, ainda que seja difícil elucidar os impactos dos produtos na saúde humana devido a vários fatores, como tipo de pesticida, tempo de exposição e características ambientais.
Os dados disponíveis sobre danos à saúde causados pelos defensivos no Brasil também são alarmantes. Foram registrados 4.003 casos de intoxicações por agrotóxicos agrícolas no país em 2017, cerca de 11 por dia, segundo o Ministério da Saúde e a Fundação Fiocruz.
Dentre os efeitos mais preocupantes associados à exposição a agrotóxicos, segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva, “os mais preocupantes são as intoxicações crônicas, caracterizadas por infertilidade, impotência, abortos, malformações , neurotoxicidade, manifestada através de distúrbios cognitivos e comportamentais e quadros de neuropatia e desregulação hormonal, ocorrendo também em adolescentes, causando impacto negativo sobre o seu crescimento e desenvolvimento dentre outros desfechos durante esse período”. As informações constam do Dossiê Científico e Técnico contra o PL 6299/02 (parte 1 e parte 2).
Já o Atlas dos Agrotóxicos calcula que, de 2007 a 2014, pelo menos 1.186 pessoas morreram intoxicadas por defensivos agrícolas, uma média de 148 mortes por ano. Ainda assim, o documento alerta para uma subnotificação das ocorrências: calcula-se que, para cada caso de intoxicação notificada, outros 50 não sejam notificados.
Tereza Cristina é engenheira agrônoma, produtora rural e deputada federal pelo Mato Grosso do Sul desde 2015, quando ainda era filiada ao PSB. Ela foi uma das responsáveis pelo apoio declarado da Frente Parlamentar da Agropecuária (que reúne hoje 262 parlamentares) a Jair Bolsonaro ainda antes do primeiro turno das eleições.
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Nazismo era de esquerda
O futuro ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Novo), publicou em setembro deste ano um artigo na plataforma Medium em que sustenta que o nazismo era parte da esquerda e classificou o movimento liderado por Adolf Hitler de “socialismo de preto” (em um paralelo com o comunismo, que seria o “socialismo de vermelho”).
A informação, claro, é falsa, mas chegou a circular com tal força que a Embaixada da Alemanha no Brasil fez um vídeo explicando a história do nazismo naquele país e explicando que o movimento era uma ideologia cunhada na extrema-direita: "devemos nos opor aos extremistas de direita, não devemos ignorar, temos que mostrar nossa cara contra neonazistas e antissemitas".
No Brasil, essa hipótese começou a ser ventilada no início dos anos 2000 por Olavo de Carvalho, com a justificativa de que o uso do termo "socialista" no nome do partido Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães indicaria tratar-se de uma ideologia esquerdista.
Ao site da emissora alemã Deutsche Welle, o historiador Wulf Kansteiner, da Universidade de Aarhus, e autor do livro In pursuit of German memory (Em busca da memória alemã), afirmou que os nazistas jamais seguiram políticas de esquerda: "ao contrário, propagavam valores da extrema direita, um extremo nacionalismo, um extremo antissemitismo e um extremo racismo. Nenhum especialista sério considera hoje o nazismo de alguma forma um fenômeno de esquerda".
Já de acordo com a historiadora Stefanie Schüler-Springorum, diretora do Centro para Pesquisa sobre Antissemitismo da Universidade Técnica de Berlim, houve tentativa na Alemanha, na década de 1960, de classificar o nazismo como um movimento socialista. A tática, segundo relato dela à DW, era uma tentativa de proteger o "verdadeiro nacionalismo" e se distanciar do nazismo: "Na política e ciência, porém, está mais do que consolidado que o nazismo é um movimento de extrema direita, porque rejeita a democracia e os direitos humanos, além de dividir pessoas em grupos e hierarquizá-las".
O Museu do Holocausto, em Israel, afirma em seu site que os desdobramentos do Tratado de Versailles, que selou a paz após a Primeira Guerra Mundial, gerou um clima de frustração entre alemães que, "junto a intransigente resistência e alertas sobre a crescente ameaça do comunismo, criou solo fértil para o crescimento de grupos radicais de direita na Alemanha, gerando entidades como o Partido Nazista".
Ricardo de Aquino Salles foi candidato a deputado federal pelo Partido Novo nessas eleições, mas não conseguiu ser eleito. Antes da pasta, o advogado também foi secretário do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e também ocupou a pasta de Meio Ambiente paulista durante o governo tucano.
Durante a campanha eleitoral deste ano, ele defendeu uma política da “Tolerância Zero” em que propunha balas de fuzil como a solução para questões como “praga do javali” e “esquerda e o MST”. O partido Novo, ao qual Salles é filiado, manifestou-se dizendo que não aprovava a mensagem.
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Pesquisas fake por Bolsonaro
O futuro ministro da Secretaria Geral da Presidência e coordenador da campanha vitoriosa de Jair Bolsonaro, Gustavo Bebianno (PSL), já lançou mão de pesquisas falsas em favor do seu candidato em publicações no Instagram, rede social que mais usa.
A primeira era uma suposta pesquisa de político mais honesto do Brasil. A imagem compartilhada por Bebianno é de um post do site Hoje Notícias, que já foi tirado do ar. A Fundação Transparência Política Internacional, à qual é atribuído o ranking, também não existe. Um versão semelhante da notícia falsa publicada por Bebianno já foi checada por Aos Fatos, durante o período eleitoral.
Outra falsa pesquisa compartilhada por Bebianno foi sobre apoio feminino a Bolsonaro. Ele compartilhou a imagem de um post do site Jornal Publi Cidade sobre um suposto aumento do apoio das mulheres por conta da defesa à castração química de estupradores. O texto do próprio post contradiz o título ao não mencionar nenhuma pesquisa e ao citar como fonte da informação uma reportagem do UOL com entrevistas de simpatizantes de Bolsonaro. A reportagem do UOL, de junho desse ano, cita a rejeição das mulheres, de acordo com pesquisas de intenção de votos da época, e busca entender o que motivava as que apoiavam o então candidato do PSL.
Advogado, Bebianno aproximou-se de Bolsonaro em 2017 e, no começo de 2018, assumiu a presidência do PSL, logo após a filiação do hoje presidente eleito. A partir daí, tornou-se um dos principais coordenadores da campanha. Logo após a eleição de Bolsonaro, Bebianno deixou a presidência do PSL e, em 12 de novembro, foi indicado ao primeiro escalão do futuro governo.
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Escola Sem Partido
Símbolo da Operação Lava Jato e futuro ministro da Justiça, o ex-juiz Sérgio Moro minimizou a importância do projeto Escola Sem Partido para o governo que integrará a partir de janeiro. Na entrevista coletiva após a confirmação da sua indicação, no começo de novembro, ele disse que não havia “proposta concreta sobre este tema” por parte da administração Bolsonaro. A fala ignora que pilares do Escola Sem Partido constam na plataforma de governo apresentada pelo hoje presidente eleito nas eleições, como o ensino “sem doutrinação e sexualização precoce”.
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Médicos cubanos
O futuro ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), também disseminou informações falsas a respeito do programa Mais Médicos, que será tutelado por ele a partir de 1º de janeiro. Segundo o ortopedista e deputado federal publicou em sua biografia oficial, o governo federal “tratou esses trabalhadores [médicos cubanos], não como trabalhadores individuais, mas como trabalhadores de um país como uma commodity, atingindo os trabalhadores, retendo seus salários, retendo seus documentos, proibindo seu deslocamento livre no território brasileiro”.
Mas não é verdade que o governo brasileiro fazia a retenção de salários dos médicos cubanos. Como Aos Fatos já explicou em uma checagem anterior, graças a um acordo com a Opas (Organização Panamericana de Saúde), o Brasil pagava o salário dos profissionais é destinado à organização, que dividia o valor para o médico e para o governo de Cuba, que ficava com a maior parte.
Também não foram identificadas informações que atestem o fato de o governo reter os documentos dos médicos cubanos e a suposta proibição de deslocamento pelo território brasileiro.
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Aliança do PT com o PCC
O futuro ministro da Educação, Ricardo Veléz Rodriguez, também cercou-se polêmicas em 2014 ao dizer, em seu perfil no Facebook, que o PT estaria ligado aos “criminosos da facção mais perigosa que opera no Brasil, com táticas de guerrilha urbana, o PCC”.
O suposto vínculo entre o partido e a facção vem de 2006, quando o então secretário de Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, disse que haviam inquéritos que apontavam uma “correlação” entre os dois. Segundo uma ligação interceptada de criminosos do PCC, a facção criminosa combinou ataques contra políticos, menos os do PT, o que poderia indicar alguma ligação.
Logo após, o presidente do PFL da época, Jorge Bornhausen, e o então candidato José Serra (PSDB) acusaram o PT de envolvimento com a facção. Foi aberto um inquérito para apurar a ligação entre os dois. Aos Fatos não encontrou nenhuma atualização sobre o caso. Portanto, além de não haver provas que atestem o vínculo, o caso também se referia apenas ao Estado de São Paulo.
Houve ainda o caso do deputado estadual Luiz Moura (PT-SP), que teria participado de uma reunião na qual estariam presentes integrantes do PCC, segundo a polícia. A suspeita fez com que ele fosse expulso do partido. Mais uma vez, o caso não angariou provas que pudessem atestar ligações diretas e formais entre o PT e o PCC.
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Maconha reduz Q.I de jovens
Futuro ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra (MDB), que também é médico, publicou no Twitter em agosto deste ano que “maconha reduz o QI” ao compartilhar uma reportagem do G1 sobre uma tese da UFMG de que usuários de maconha tinham mais dificuldade para passar nas matérias da faculdade.
Porém, a reportagem não traz qualquer afirmação parecida: houve comparação de rendimento escolar entre usuário e não-usuários (apenas 50,7% dos estudantes que fumam maconha passaram direto em todas as disciplinas, enquanto entre os não usuários a proporção foi de 66,1%, por exemplo), mas sem definição de causalidade.
Por mais que existam estudos que sugerem que o consumo de maconha por adolescentes podem diminuir sua capacidade mental, há outros que mostram o contrário: em 2016, um artigo da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos estudou a influência da erva em gêmeos e constatou que foram encontradas “poucas evidências para sugerir que o uso de maconha adolescente tem um efeito direto sobre o declínio intelectual”.
Esta será a segunda vez do médico Osmar Terra no comando de uma pasta ministerial. O emedebista foi ministro do Desenvolvimento Social no governo de Michel Temer (MDB). Em sua carreira política ele também foi prefeito de Santa Rosa (RS), secretário de Saúde do Rio Grande do Sul e é deputado desde 2001.
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Rombo da Previdência
O futuro ministro da Casa Civil e atual ministro extraordinário de Transição, Onyx Lorenzoni (DEM), foi um crítico contumaz da Reforma da Previdência enviada ao Congresso pelo presidente Michel Temer (MDB) em dezembro de 2016. Para barrar o projeto, ele lançou mão, inclusive, de informações incorretas.
Durante audiência da comissão especial que analisava o projeto, em abril de 2017, Lorenzoni afirmou que o problema principal do Regime Geral de Previdência Social é a unificação da previdência rural, "que, na verdade, é assistência e, por isso, deficitária" com a urbana, que seria, de acordo com Lorenzoni, superavitária.
Porém, em 2016, a previdência urbana teve déficit de R$ 46,3 bilhões e a rural, R$ 103,4 bilhões, em valores nominais, de acordo com o Ministério da Fazenda. Esse era o dado mais recente disponível na época da fala do hoje ministro.
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A cruzada contra o globalismo
Ernesto Araújo, futuro ministro das Relações Exteriores, também é conhecido por ter opiniões controversas, muitas das quais não podem ser comprovadas factualmente. Em seu blog pessoal, por exemplo, ele cita a existência de uma política globalista: “Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. Essencialmente é um sistema anti-humano e anti-cristão”.
Posição que também é adotada pelo presidente americano, Donald Trump, a teoria propaga que ONU, União Europeia, China e ONGs financiadas por bilionários como George Soros comandariam um plano para dominação global e substitução das culturas tradicionais por uma moral secular, cosmopolita e esquerdista.
De acordo com o professor de Relações Internacionais da FAAP e da PUC-SP, David Magalhães, a tese, originalmente defendida no Brasil por Olavo de Carvalho em seu texto “Do Marxismo Cultural”, publicado no jornal O Globo em 2002, foi concebida pelo escritor Willian S. Lind. Segundo ele, o movimento revolucionário comunista preconizava introduzir seus ideais em todas as instituições que influenciavam a cultura, como igrejas, universidades, escolas e imprensa.
Ainda segundo essa teoria, os marxistas teriam conseguido ocupar todos os “meios de pensamento” dos EUA, das universidades aos estúdios de Hollywood. Segundo Olavo de Carvalho: “seus dogmas macabros, vindos sem o rótulo de ‘marxismo’, são imbecilmente aceitos como valores culturais supra-ideológicos pelas classes empresariais e eclesiásticas, cuja destruição é o seu único e incontornável objetivo. Dificilmente se encontrará hoje um romance, um filme, uma peça de teatro, um livro didático onde as crenças do marxismo cultural” não apareçam.
Ernesto Araújo atualmente é diplomata há 29 anos e diretor do Departamento dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Internacionais do Itamaraty. Junto com Ricardo Veléz, é o segundo ministro indicado pelo filósofo Olavo de Carvalho.
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Os reclusos da Esplanada
O levantamento realizado por Aos Fatos nos perfis de redes sociais, blogs, artigos, reportagens e entrevistas concedidas pelos futuros ministros de Bolsonaro esbarrou na falta de informações públicas e verificáveis de outros membros da futura Esplanada dos Ministérios. É o caso de Roberto Campos Neto (Banco Central), André Luiz de Almeida Mendonça (AGU), General Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo), Tarcísio Gomes de Freitas (Ministério da Infraestrutura), Gustavo Henrique Canuto (Desenvolvimento Regional), General Fernando Azevedo e Silva (Ministério da Defesa), Wagner Rosário (Controladoria Geral da União), General Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Paulo Guedes (Ministério da Economia) e Bento Costa Lima Leite (Ministério de Minas e Energia).
Outro lado. Aos Fatos entrou em contato com os dez ministros que tiveram declarações analisadas nesta reportagem, mas não obteve respostas até a publicação desta reportagem.
*Esta reportagem foi atualizada às 15h03 do dia 2 de abril de 2019 para acrescentar novas informações que refutam a tese de que o nazismo era um movimento de esquerda.