Não é verdade que um homem foi gravado manuseando os ponteiros de um relógio dentro do Palácio do Planalto às 12h35 do dia 8 de janeiro deste ano, horas antes do início dos ataques golpistas à sede dos Três Poderes, e que isso provaria que a invasão foi obra de “infiltrados”. As imagens que circulam nas redes foram gravadas pelas câmeras de segurança do prédio às 15h52, cerca de meia hora após o início dos atos antidemocráticos. Além disso, o relógio mostrado no vídeo não funcionava há mais de dez anos.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam ao menos 200 mil visualizações no TikTok e 6.000 mil compartilhamentos no Facebook nesta quarta-feira (26).
Momento exato que os cúmplices de Lula trocaram a hora do relógio: 12:35.
Publicações nas redes têm compartilhado um vídeo em que um homem manuseia os ponteiros de um relógio exposto no terceiro andar do Palácio do Planalto para sugerir que havia pessoas no local antes de manifestantes bolsonaristas invadirem os prédios dos Três Poderes na tarde de 8 de janeiro. A tese, que tenta provar a existência de “infiltrados” de esquerda nos atos, não se sustenta porque:
- a cena foi gravada pelas câmeras de segurança do Palácio do Planalto após o início da invasão;
- e o relógio mostrado no vídeo, que pertencia ao rei D. João 6º, não funcionava há mais de dez anos.
As imagens compartilhadas pelas peças de desinformação mostram um trecho da gravação das câmeras de segurança do corredor do terceiro andar do Palácio do Planalto disponibilizada pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional) no último final de semana. No registro original, é possível ver que a cena foi gravada por volta das 15h52 daquele dia (veja abaixo).
Segundo as cronologias do 8 de janeiro divulgadas até o momento por autoridades, incluindo o relatório do ex-interventor na segurança pública do Distrito Federal e atual secretário-executivo do GSI Ricardo Cappelli, os atos de vandalismo começaram por volta das 15h daquele domingo. No horário da gravação, portanto, já havia se passado meia hora desde o início da invasão.
O relógio em questão, obra de Balthazar Martinot (1636-1714) que foi trazida por Dom João 6º ao Brasil em 1808, não funcionava há pelo menos dez anos, conforme explicou a Secom em nota enviada ao Aos Fatos anteriormente. Isso significa, portanto, que o horário marcado na peça não pode ser levado em consideração.
Pouco antes das cenas que têm circulado nas redes, o relógio foi derrubado por outro invasor. A queda fragmentou e deformou o objeto, cuja restauração completa ainda não é tida como certa pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
São recorrentes peças de desinformação em que bolsonaristas buscam atribuir a responsabilidade pela destruição causada pelos atos golpistas de 8 de janeiro a “infiltrados” da esquerda. O Aos Fatos já desmentiu, inclusive, outras publicações que usavam o horário registrado pelo relógio de D. João 6º como suposta prova dessa tese.
Colaborou João Ernane Barbosa.