Imagens da praça dos Três Poderes gravadas por um drone durante os atos antidemocráticos de 8 de janeiro não provam que havia infiltrados entre os golpistas que depredaram prédios públicos em Brasília, como alegam posts nas redes. As imagens, gravadas a partir das 17h46, mostram um momento em que a Polícia Militar do Distrito Federal, a Polícia Federal e a Polícia Legislativa já haviam agido para controlar a situação. Os ataques começaram por volta das 15h, segundo informações da imprensa e relatório do secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli, que foi interventor federal na segurança pública do Distrito Federal.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 600 mil visualizações no Tik Tok nesta terça-feira (21).
Os caras já estavam quebrando tudo, já tinham quebrado tudo. 17h47 ninguém tinha entrado, ninguém, assim, dos patriotas, mas alguém entrou, 2h horas antes, e quebrou tudo, alguém facilitou, alguém abriu alguma porta lá dessas entradas subterrâneas lá e facilitou a entrada desse povo aí.
Posts nas redes têm difundido uma filmagem feita por um drone a partir das 17h46 do dia 8 de janeiro para sugerir que a depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília, teria sido provocada por “infiltrados” de esquerda. As imagens provariam que a polícia estava presente e que os manifestantes não teriam tentado invadir os prédios — o que é mentira. Os atos de vandalismo começaram horas antes do início da filmagem, por volta das 15h. No horário em que o vídeo foi gravado, a situação já havia sido parcialmente controlada pelos agentes de segurança.
Imagens veiculadas pela imprensa e a cronologia dos ataques esquematizada no relatório de Ricardo Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça que foi interventor federal na segurança pública do Distrito Federal, mostram que apoiadores de Bolsonaro acampados em frente ao Quartel-General do Exército começaram a marchar em direção à Esplanada dos Ministérios por volta das 13h.
Quase duas horas depois, às 14h43, uma contenção feita pela PM é rompida pelos manifestantes, que partem em direção ao Congresso Nacional. Por volta das 15h40, imagens da CNN Brasil mostram gabinetes de parlamentares destruídos, vidraças quebradas e o plenário da Câmara dos Deputados tomado por golpistas com roupas nas cores verde e amarelo.
Imagens mostram também que, por volta desse mesmo horário, os golpistas já haviam destruído o plenário do STF (Supremo Tribunal Federal). Um exemplo é o mecânico Fábio de Oliveira, preso na última sexta-feira (17) pela PF na Operação Lesa Pátria, que foi filmado sentado na cadeira do ministro Alexandre de Moraes.
Imagens da Câmara dos Deputados mostram que, às 16h10, uma maquete do Congresso é destruída por pessoas que carregavam bandeiras do Brasil.
Naquele mesmo horário, manifestantes de verde e amarelo tentaram invadir o plenário da Câmara, como mostram imagens da Polícia Legislativa (veja abaixo).
Os golpistas começaram a ser expulsos pelas forças policiais por volta das 17h30, como também foi registrado pelo Senado. Os ataques, no entanto, seguiam nas áreas internas e externas do Congresso. Às 17h35, manifestantes atearam fogo em uma viatura policial (veja abaixo).
A Câmara dos Deputados informou ao jornal O Estado de S. Paulo que a invasão do local ocorreu entre 14h45 e 17h45. Isso significa que as imagens do drone difundidas pelas peças checadas foram registradas logo após o fim da invasão ao prédio do Legislativo. Imagens veiculadas pela CNN Brasil às 18h16 mostram que a situação já havia sido contida e que os golpistas se concentravam na área externa dos prédios dos Três Poderes.
Infiltrados. Como suposta prova da ação de “infiltrados” de esquerda, as peças de desinformação difundem imagens de câmeras do Palácio do Planalto divulgadas em janeiro pelo Fantástico, da Globo. Na gravação, um homem que vestia uma camiseta com o rosto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — posteriormente identificado como Antônio Cláudio Alves Ferreira — derrubou um relógio trazido por Dom João 6º ao Brasil em 1808. As câmeras mostram que a ação ocorreu às 15h33.
Preso pela PF no dia 23 de janeiro, Ferreira é apoiador de Jair Bolsonaro, diferentemente do que sugerem as peças enganosas. Reportagem do jornal O Globo que foi até sua residência em Catalão (GO) mostrou uma série de elementos que provariam que o vândalo é eleitor do ex-presidente, como uma bandeira do Brasil na fachada, adesivos de campanha colados ao portão de entrada e relatos de vizinhos.
Desde o dia 8 de janeiro, bolsonaristas tentaram emplacar em diversas ocasiões a tese de que os atos golpistas seriam fruto da ação de eleitores de esquerda infiltrados. Não há, no entanto, qualquer indicativo de que isso seja verdade.