Não é verdade que um dispositivo chamado Nanotex, criado pela Universidade de Engenharia Elétrica de Campinas (SP), seja capaz de reduzir o valor da conta de energia elétrica, como alegam publicações nas redes. Além de tal universidade não existir, um especialista consultado pelo Aos Fatos testou e comprovou que o aparelho não tem qualquer eficácia na redução do consumo e pode, inclusive, oferecer riscos.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 7.100 compartilhamentos no Facebook até a tarde desta sexta-feira (12).
Universidade brasileira [Universidade de Engenharia Elétrica de Campinas] desenvolve tecnologia [dispositivo Nanotex] que reduz absurdamente [em 57%] a conta de luz
Um anúncio que circula nas redes mente ao afirmar que uma suposta Universidade de Engenharia Elétrica de Campinas teria inventado um dispositivo capaz de reduzir em até 57% o valor da conta de luz. De acordo com as publicações enganosas, o Nanotex reduziria o consumo ao estabilizar a rede elétrica injetando íons negativos. Nada disso é verdade, e há indícios de que se trata de um golpe.
- Não há qualquer universidade em Campinas que tenha esse nome. O que existem são faculdades ou cursos de engenharia elétrica dentro de universidades. O anúncio, no entanto, não cita nominalmente qualquer instituição de ensino localizada na cidade paulista;
- Em busca no site do INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), Aos Fatos não encontrou registro de nenhum produto com o nome Nanotex;
- Não é possível economizar energia ao “injetar íons negativos” na rede elétrica. A explicação técnica sobre o funcionamento do aparelho, portanto, é enganosa;
- De acordo com o engenheiro eletricista Adoniran Freitas, que testou o produto, não há qualquer componente do Nanotex que gere uma redução no consumo de energia. Seu uso, inclusive, pode trazer riscos, como queimaduras ou curto-circuito.
De acordo com o anúncio veiculado nas redes, a energia seria composta por íons, e a explicação para o alto valor das contas seria o fato de uma grande quantidade de íons positivos serem transmitidos pela rede elétrica. A solução para reduzir o consumo — e, consequentemente, o preço da conta — seria então injetar íons negativos na rede para estabilizá-la. Nada disso tem lastro na realidade.
“A corrente do nosso sistema elétrico está relacionada com o movimento de elétrons e não de íons. Não é possível economizar energia injetando íons na rede elétrica, não é possível sequer injetá-los na rede, principalmente através de uma tomada”, afirmou Adoniran Freitas em entrevista ao Aos Fatos.
De acordo com o engenheiro, o dispositivo nada mais é do que uma carcaça plástica com três componentes eletrônicos montados em seu interior: um led, um resistor e um capacitor. Além de nenhum deles ter a capacidade de reduzir o consumo, a lâmpada de LED, que acende quando o aparelho é conectado à rede elétrica, pode inclusive aumentar ligeiramente o valor da conta.
O problema maior apontado por Freitas, no entanto, é que o dispositivo pode trazer riscos. Caso a carcaça plástica não seja antichama, por exemplo, há possibilidade de queimaduras ou até de um princípio de incêndio. Além disso, componentes eletrônicos ligados diretamente à rede elétrica sem qualquer controle podem entrar em curto ou explodir.
O Nanotex é vendido com diversos nomes em sites de comércio eletrônico ao menos desde 2020 por valores entre R$ 79 e R$ 229. Nos comentários dos clientes, a maioria dos relatos é de que o dispositivo não funciona. Em queixas registradas no Reclame Aqui, consumidores que testaram o aparelho afirmam não ter tido qualquer redução na conta de energia elétrica (veja aqui e aqui).
Não há atualmente no mercado nenhum dispositivo que possa ser ligado à tomada para reduzir o consumo de energia. Em 2018, por exemplo, o Proteste testou cinco modelos de supostos economizadores, e nenhum alcançou os resultados prometidos.
Há, no entanto, mudanças simples nos hábitos que podem resultar em economia na conta: