🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Outubro de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

É falso que Caraguatatuba registrou 10 mil casos de mal súbito associados à vacina contra a Covid-19

Por Marco Faustino

24 de outubro de 2023, 13h26

Não é verdade que ocorreram 10 mil casos de mal súbito decorrentes da vacinação contra a Covid-19 em Caraguatatuba (SP), cidade do litoral norte de São Paulo. O número citado pelas peças de desinformação se refere ao total de atendimentos feitos pelo Samu no município nos dois primeiros quadrimestres deste ano. Dos 4.294 casos classificados como mal súbito, nenhum foi associado à imunização. Também são enganosas as alegações feitas pelos posts de que há um excesso de mortes no país neste ano e que as vacinas são experimentais.

Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam centenas de compartilhamentos no Facebook e centenas curtidas no Instagram até a tarde desta segunda-feira (23). As peças de desinformação também circulam no WhatsApp, plataforma na qual não é possível estimar o alcance dos conteúdos (fale com a Fátima).


Selo falso

10 mil óbitos de mal súbito em Caraguatatuba por causa da vacina [contra a Covid-19]

Em vídeo, político John Goki Kage mente ao dizer que vacina contra a Covid-19 causou 10 mil casos de mal súbito em Caraguatatuba

Em vídeo que circula nas redes, o suplente de deputado estadual John Goki Kage (Podemos-SP) faz uma série de alegações enganosas sobre as vacinas contra a Covid-19:

  • O político engana ao afirmar que o município de Caraguatatuba (SP) registrou 10 mil casos de mal súbito decorrentes da imunização neste ano. O número se refere, na verdade, ao total de atendimentos feitos pelo Samu no município nos dois primeiros quadrimestres de 2023;
  • Também não é verdade que dados apontam um aumento de 15% nas mortes registradas este ano no Brasil em comparação com anos anteriores. Além de o cálculo ser incorreto, o total de óbitos em 2023 é inferior ao total ao registrado anualmente desde 2019;
  • Por fim, é falso que as vacinas contra a Covid-19 são experimentais. Todos os imunizantes aprovados para uso contra a doença no Brasil tiveram eficácia e segurança atestadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária);

O número de supostas reações à vacina de Covid-19 citado por Kage aparece em um texto publicado no site oficial da Prefeitura de Caraguatatuba em 11 de outubro. Ali, a administração municipal informa que o Samu realizou um total de 9.549 atendimentos entre janeiro e agosto, sendo 4.294 ligados a casos de mal súbito. Essa classificação, explica o texto, é dada a uma ampla gama de situações de saúde, que vão da desidratação ao AVC (acidente vascular cerebral).

Contatada por Aos Fatos, a Prefeitura de Caraguatatuba afirmou que desde o início da campanha de imunização contra a Covid-19, em 25 de janeiro de 2021, não houve nenhum caso de mal súbito por reação à vacina no município. Até o momento, foram aplicadas 371.096 doses do imunizante, e foram registrados apenas 29 casos de reações adversas.

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Excesso de mortes. No vídeo, o político também afirma que foi registrado no Brasil um excesso de mortes de 15% em 2023 e que os números estariam ligados aos efeitos colaterais da vacinação. O percentual citado aparece em post de 16 de outubro compartilhado por Kage no X que compara o suposto número de óbitos deste ano com o total documentado em 2019, um ano antes da pandemia.

O cientista de dados e coordenador da Rede Análise da Covid-19 Isaac Schrarstzhaupt explicou ao Aos Fatos que a comparação é incorreta, já que usa dados consolidados de outros anos com os números de 2023, que ainda não foram fechados. Além disso, de acordo com Schrarstzhaupt, o excesso de óbitos é calculado sobre a média registrada em determinado período, e não em relação a um ano específico.

De acordo com o Portal da Transparência do Registro Civil, o número de óbitos registrados até o momento em 2023 é inferior aos dados consolidados de anos anteriores (veja abaixo):

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Indenizações. Por fim, é fato que países como Austrália, Japão e Coreia do Sul estão indenizando cidadãos em razão de efeitos colaterais moderados e graves comprovadamente causados pela aplicação das vacinas contra a Covid-19. Alguns desses programas de compensação, no entanto, não são novidade: no Japão, por exemplo, acordos como esse existem desde 1976 e abarcam uma ampla gama de vacinas.

No que se refere especificamente às vacinas contra a Covid-19, o procedimento tem sido adotado pelo Covax, iniciativa de distribuição de imunizantes liderada pela OMS (Organização Mundial da Saúde). A organização ressalta, no entanto, que o fato de alguns indivíduos desenvolverem reações adversas graves não prova que as vacinas não são seguras.

“Ao serem vacinadas, as pessoas se protegem da probabilidade de morte e de casos graves, e também das possíveis implicações de saúde a longo prazo e de hospitalização que podem resultar de uma infeção por COVID-19”, explica a OMS.

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Autor. John Goki Kage concorreu a uma vaga de deputado estadual em São Paulo nas eleições de 2022 e não se elegeu. Na peça de desinformação, ele agradece a deputados estaduais paulistas por terem aprovado um projeto de lei de autoria do Poder Executivo que anula as multas aplicadas a pessoas físicas e jurídicas pelo descumprimento de normas de enfrentamento à pandemia da Covid-19.

Procurado por Aos Fatos para comentar as alegações do vídeo, Kage não respondeu até a publicação desta checagem.

Referências:

1. Prefeitura de Caraguatatuba
2. Anvisa
3. Portal da Transparência do Registro Civil
4. Governo da Austrália
5. Japan Times
6. Korea JoongAng Daily
7. OMS
8. TSE
9. Alesp
10. G1

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