🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Janeiro de 2021. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Em dois anos de governo, Bolsonaro deu ao menos três declarações falsas ou distorcidas por dia

Por Amanda Ribeiro

5 de janeiro de 2021, 12h37

Desde a posse, em janeiro de 2019, o presidente Jair Bolsonaro deu 2.187 declarações falsas ou distorcidas em discursos, entrevistas, postagens nas redes e encontros com apoiadores, revela o contador do Aos Fatos. Isso significa que, em média, ele recorreu a informações enganosas três vezes ao dia nesses dois anos de mandato.

O volume diário de desinformação foi significativamente maior em 2020, marcado por pandemia, crise econômica e eleições municipais. No ano passado, o Aos Fatos classificou como falsas ou distorcidas 1.582 declarações do presidente, uma média de 4,3 por dia. Em 2019, eram 1,6. A quantidade de declarações checadas também aumentou: se, no ano retrasado, foram verificadas 1.065 frases, em 2020 o número quase triplicou, chegando a 3.382.

O presidente falseou e distorceu mais ao falar sobre a pandemia de Covid-19: foram 909 declarações enganosas de diferentes aspectos do novo coronavírus, o que corresponde a 41,6% de tudo que foi classificado por Aos Fatos como desinformação no discurso de Bolsonaro até o momento.

O argumento falacioso mais repetido nesses dois anos (67 vezes) foi o de que o STF (Supremo Tribunal Federal) impediu que Bolsonaro agisse contra a pandemia e delegou todas essas atribuições aos gestores locais. A corte decidiu, na realidade, que prefeitos e governadores têm legitimidade para tomar medidas locais de restrição, mas não eximiu o Planalto de agir no que caberia ao governo federal.

A promoção de remédios e tratamentos sem eficácia comprovada também foi preponderante na desinformação presidencial. A hidroxicloroquina, citada primeiro em 19 de março, recebeu atenção especial, mesmo quando estudos apontaram que ela era ineficaz contra a Covid-19. Bolsonaro defendeu em ao menos 28 ocasiões o uso do remédio contra a doença e, em outras 24, associou, sem lastro científico, a droga ao baixo número de mortes no continente africano.

Meio ambiente. Questões ambientais foram o segundo tema em que o presidente citou mais desinformação. Em dois anos, 173 declarações foram classificadas como falsas ou distorcidas, o que corresponde a 7,9% do total de informações enganosas checadas. A narrativa mais repetida — usada em 20 ocasiões — é a de que o Brasil seria o campeão mundial de preservação ambiental. Não é, segundo os dados internacionais disponíveis.

Em 2019 e em 2020, a maior parte das falas sobre meio ambiente coincidiu com meses em que foram registrados mais incêndios em biomas como a Amazônia e o Pantanal, entre julho e novembro. Esses períodos concentram 76,3% das declarações enganosas do presidente a respeito de temas ambientais.

Em uma delas, repetida 15 vezes, Bolsonaro sustenta que, por ser úmida, a Amazônia não poderia pegar fogo, o que é falso. Em outra, dita 11 vezes, ressalta que o número de focos de incêndio em 2019 foi inferior à média de anos anteriores, o que também não procede.

Apesar das diferenças entre os biomas, o discurso adotado por Bolsonaro para se defender das queimadas no Pantanal foi similar. Nos dois casos, ele apontou que as regiões eram muito extensas (o que dificultaria a fiscalização) e culpou ambientalistas, acusando-os sem provas de roubar recursos na Amazônia e de impedir a criação de gado no Pantanal.

Economia. Tema que sempre alegou desconhecer, a economia foi o terceiro assunto a concentrar mais falas enganosas do presidente nesses dois anos de governo: 7,7% das frases falsas e distorcidas. Uma das mais repetidas (cinco ocasiões) foi a de que o Brasil seria o único país com reservas de nióbio.

Em outros cinco momentos, Bolsonaro enganou ao discutir o histórico da Selic. Ele insistiu que a taxa básica de juros teria chegado a 60% no governo FHC (PSDB), sendo que o percentual máximo no período foi de 45%.

Onde mais erra. As transmissões semanais no Facebook, principal estratégia de comunicação do governo com apoiadores, concentraram a maior parte das declarações enganosas dos últimos dois anos: 30,7% das frases checadas como falsas ou distorcidas foram extraídas das lives feitas pelo presidente. Logo em seguida no ranking aparecem as entrevistas, com 28,9% do total de desinformação verificada.

Fora das lives, o comportamento do presidente em postagens nas redes sociais é mais protocolar e registra menos desinformação — em geral, Bolsonaro se limita a publicar conteúdos veiculados antes por ministros. Já nas transmissões, ele adota um tom mais espontâneo e de improviso, o que gera parte das contradições registradas pelo Aos Fatos.

A mais marcante delas se refere às eleições municipais: apesar de anunciar, em postagem no Twitter de 28 de agosto, que não apoiaria candidatos durante o pleito de 2020, o presidente realizou quatro lives entre o fim de outubro e o início de novembro para promover candidatos de diversas cidades. Isso motivou a abertura de investigações pelo Ministério Público em nove estados.

Referências:

1. Aos Fatos (Fontes 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12)
2. G1 (Fontes 1 e 2)
3. Valor Econômico
4. The Conversation
5. BBC Brasil
6. Correio Braziliense (Fontes 1 e 2)
7. Twitter (@jairbolsonaro)

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