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É falso que estudo concluiu que carga viral do Sars-CoV-2 é 251 vezes maior em vacinados
Publicações nas redes sociais falseiam os resultados de um estudo feito no Vietnã ao alegar que os cientistas identificaram em vacinados contra a Covid-19 uma carga viral do novo coronavírus 251 vezes maior que a de pessoas que não foram imunizadas (veja aqui). Na realidade, a pesquisa comparou a quantidade de cópias do Sars-CoV-2 encontrada em indivíduos que pegaram a variante delta com a de infectados por cepas anteriores do vírus.
Publicações com o conteúdo enganoso somavam centenas de compartilhamentos no Facebook nesta segunda-feira (30) e foram sinalizadas por Aos Fatos como FALSO na ferramenta de verificação da plataforma (saiba como funciona). Publicações semelhantes também circularam no Instagram e no Twitter.
Artigo pré-impresso do prestigioso Grupo de Pesquisa Clínica da Universidade de Oxford, publicado em 10 de agosto no The Lancet, descobriu que indivíduos vacinados carregam 251 vezes a carga do vírus Covid-19 em suas narinas em comparação com os não vacinados
Não é verdade que pessoas vacinadas que pegaram Covid-19 apresentam nível de carga viral do novo coronavírus 251 vezes superior ao de indivíduos que não foram imunizados, como alegam postagens nas redes sociais com base em um estudo vietnamita. A pesquisa, porém, compara a quantidade de cópias do Sars-CoV-2 entre indivíduos contaminados pela variante delta e infectados com outras cepas do vírus.
O estudo analisou um surto de 62 infecções pela Covid-19 em junho deste ano no Hospital para Doenças Tropicais de Ho Chi Minh, no Vietnã. Os pesquisadores constataram que a carga viral de profissionais de saúde que pegaram a variante delta foi 251 vezes maior que a taxa de trabalhadores infectados com as cepas mais comuns entre março e abril de 2020. O pré-print — artigo ainda não revisado por outros cientistas — está no repositório do periódico científico The Lancet desde o dia 10 de agosto.
Apesar de relatar que os profissionais haviam tomado as duas doses da vacina AstraZeneca, a pesquisa não atribuiu a alta carga viral à imunização, mas à maior capacidade de transmissão da delta em relação à cepa original do Sars-CoV-2. Para os pesquisadores, o avanço da variante torna necessária a manutenção de medidas de higienização e distanciamento mesmo em áreas onde a cobertura vacinal é mais alta.
Mel Markoski, professora de Biossegurança da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre), afirmou ao Aos Fatos que, embora o estudo cite a vacinação entre os profissionais de saúde, “em nenhum momento o artigo faz essa comparação de imunizados ou não contra a Covid-19. O dado se refere a casos pela Delta em relação ao vírus original”, diz Markoski.
Tampouco procede a alegação de que os próprios imunizantes aumentariam a carga viral, de acordo com Letícia Sarturi, doutora em imunologia pela USP (Universidade de São Paulo): “As pessoas que tomam a vacina não terão carga viral devido ao imunizante. Isso acontece pela infecção” Segundo ela, ainda que infectados pela delta, vacinados apresentam mais mecanismos de defesa para prevenir a evolução da doença, como a resposta imunocelular, do que quem não se vacinou.
Referências:
1. SSRN
2. CNN Brasil
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