🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Agosto de 2021. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

É falso que estudo concluiu que carga viral do Sars-CoV-2 é 251 vezes maior em vacinados

Por Marco Faustino

30 de agosto de 2021, 16h15

Publicações nas redes sociais falseiam os resultados de um estudo feito no Vietnã ao alegar que os cientistas identificaram em vacinados contra a Covid-19 uma carga viral do novo coronavírus 251 vezes maior que a de pessoas que não foram imunizadas (veja aqui). Na realidade, a pesquisa comparou a quantidade de cópias do Sars-CoV-2 encontrada em indivíduos que pegaram a variante delta com a de infectados por cepas anteriores do vírus.

Publicações com o conteúdo enganoso somavam centenas de compartilhamentos no Facebook nesta segunda-feira (30) e foram sinalizadas por Aos Fatos como FALSO na ferramenta de verificação da plataforma (saiba como funciona). Publicações semelhantes também circularam no Instagram e no Twitter.


Artigo pré-impresso do prestigioso Grupo de Pesquisa Clínica da Universidade de Oxford, publicado em 10 de agosto no The Lancet, descobriu que indivíduos vacinados carregam 251 vezes a carga do vírus Covid-19 em suas narinas em comparação com os não vacinados

Não é verdade que pessoas vacinadas que pegaram Covid-19 apresentam nível de carga viral do novo coronavírus 251 vezes superior ao de indivíduos que não foram imunizados, como alegam postagens nas redes sociais com base em um estudo vietnamita. A pesquisa, porém, compara a quantidade de cópias do Sars-CoV-2 entre indivíduos contaminados pela variante delta e infectados com outras cepas do vírus.

O estudo analisou um surto de 62 infecções pela Covid-19 em junho deste ano no Hospital para Doenças Tropicais de Ho Chi Minh, no Vietnã. Os pesquisadores constataram que a carga viral de profissionais de saúde que pegaram a variante delta foi 251 vezes maior que a taxa de trabalhadores infectados com as cepas mais comuns entre março e abril de 2020. O pré-print — artigo ainda não revisado por outros cientistas — está no repositório do periódico científico The Lancet desde o dia 10 de agosto.

Apesar de relatar que os profissionais haviam tomado as duas doses da vacina AstraZeneca, a pesquisa não atribuiu a alta carga viral à imunização, mas à maior capacidade de transmissão da delta em relação à cepa original do Sars-CoV-2. Para os pesquisadores, o avanço da variante torna necessária a manutenção de medidas de higienização e distanciamento mesmo em áreas onde a cobertura vacinal é mais alta.

Mel Markoski, professora de Biossegurança da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre), afirmou ao Aos Fatos que, embora o estudo cite a vacinação entre os profissionais de saúde, “em nenhum momento o artigo faz essa comparação de imunizados ou não contra a Covid-19. O dado se refere a casos pela Delta em relação ao vírus original”, diz Markoski.

Tampouco procede a alegação de que os próprios imunizantes aumentariam a carga viral, de acordo com Letícia Sarturi, doutora em imunologia pela USP (Universidade de São Paulo): “As pessoas que tomam a vacina não terão carga viral devido ao imunizante. Isso acontece pela infecção” Segundo ela, ainda que infectados pela delta, vacinados apresentam mais mecanismos de defesa para prevenir a evolução da doença, como a resposta imunocelular, do que quem não se vacinou.

Referências:

1. SSRN
2. CNN Brasil


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Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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