É falso que Brasil produziu vacina contra Covid-19 em segredo com ajuda de Israel

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Não é verdade que o governo Bolsonaro iniciou secretamente a produção de uma vacina contra a Covid-19 com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e com supervisão de cientistas israelenses, como afirma corrente que circula nas redes sociais (veja aqui). O imunizante fabricado pela instituição é a vacina Oxford/AstraZeneca, cujo desenvolvimento é de conhecimento público desde que foi iniciado, em meados de 2020. Em nota enviada ao Aos Fatos, a fundação descartou envolvimento ou influência de Israel em suas atividades.

Postagens com o conteúdo enganoso reuniam ao menos 1.987 compartilhamentos no Facebook nesta quarta-feira (24) e foram marcadas com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (entenda como funciona). A peça de desinformação também circula no WhatsApp, mas, devido à natureza do aplicativo, não é possível estimar seu alcance.


500 mil mais 6 milhões por semana com um maquinaria e cinco cientistas todos vindos de Israel, 40 estagiários que ficaram 90 dias em Israel e mais 300 funcionários recrutados nas universidades

É falso que a produção da vacina de Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19 pela Fiocruz foi mantida em segredo pelo governo federal ou que conta com a supervisão de cientistas, estagiários ou funcionários recrutados em universidades israelenses. Todo o processo envolvendo a produção do imunizante no Brasil é de conhecimento público desde junho de 2020. Em nota enviada ao Aos Fatos, a Fiocruz descartou a participação de Israel em quaisquer de suas atividades relacionadas à fabricação da vacina.

O anúncio de que a Fiocruz produziria no Brasil a vacina de Oxford foi feito em junho de 2020, quando foi divulgada a parceria da instituição com o Ministério da Saúde. Em julho do mesmo ano, os termos da parceria foram acertados e, em setembro, foi assinado um contrato de Encomenda Tecnológica garantindo à Bio-Manguinhos (unidade de produção de remédios e vacinas da Fiocruz) o acesso a 100,4 milhões de doses do IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo), para a produção nacional da vacina. O material é importado da China.

Tampouco foi mantida em segredo a expectativa de que a Fiocruz passasse a produzir o IFA a partir do segundo semestre de 2021. Isso já estava previsto no contrato assinado em setembro. Recentemente, a fundação antecipou essa previsão e informou que a fabricação deve começar a partir de maio.

O primeiro lote com cerca de 500 mil doses fabricadas pela fundação foi entregue no dia 17 de março. Nesse mesmo dia, Maurício Zuma, diretor da Bio-Manguinhos, disse que até o fim do mês a fundação deve entregar cerca de 6 milhões de doses por semana, até atingir o total de 100,4 milhões previstas no contrato com a AstraZeneca.

Ao Aos Fatos, a Bio-Manguinhos descartou (confira aqui e aqui) qualquer envolvimento, apoio ou influência de Israel na produção nacional do imunizante.

CIBS. O texto que vem sendo compartilhado nas redes também menciona que a Fiocruz contará com o PIVFI (Parque Industrial de Vacinas), o maior da América Latina. Mas, além de o nome correto ser CIBS (Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde), as primeiras menções sobre a unidade, que de fato deve ser o maior centro de processamento de produtos biotecnológicos da América Latina, datam de 2019 - e a previsão atualizada é de que o parque industrial só fique pronto daqui a quatro anos.

Registro definitivo. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou o uso emergencial da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório britânico AstraZeneca em 17 de janeiro. Já em 29 de janeiro, a Fiocruz enviou à agência o pedido de registro definitivo da vacina, que foi concedido em 12 de março.

Esta peça de desinformação também foi checada pelo Boatos.org.


De acordo com nossos esforços para alcançar mais pessoas com informação verificada, Aos Fatos libera esta reportagem para livre republicação com atribuição de crédito e link para este site.

Referências

  1. G1 (1, 2, 3 e 4)
  2. Fiocruz (1, 2, 3, 4, 5 e 6)
  3. Agência Brasil (1 e 2)
  4. Folha de SP
  5. Boatos.org

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