Deputados governistas lideram desinformação sobre Covid-19 entre parlamentares no Twitter

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Os deputados federais Osmar Terra (MDB-RS), Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Carla Zambelli (PSL-SP) foram os parlamentares que mais engajaram ao publicar desinformação sobre Covid-19 no Twitter desde que a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou a doença como uma pandemia, mostra levantamento do Radar Aos Fatos.

A reportagem analisou os mil tweets sobre o novo coronavírus com mais engajamento publicados por deputados e senadores entre 11 de março e 15 de dezembro. Das mensagens avaliadas, 299 (30%) tinham alguma alegação falsa ou imprecisa. Esses tweets (disponíveis nesta tabela) somaram 3,3 milhões de interações (retweets e curtidas), 31% do total de 10,4 milhões da amostra analisada.

Sozinho, Terra, com 104 mensagens desinformativas que geraram mais de 1 milhão de interações, foi responsável por cerca de um terço dos tweets e do engajamento desse universo. Em abril, no começo da pandemia, o Radar já tinha identificado o deputado como o parlamentar que mais havia publicado desinformação sobre Covid-19 até então.

Já Eduardo Bolsonaro publicou 42 tweets com informações falsas ou imprecisas que acumularam 621 mil interações. Zambelli teve 27 mensagens que somaram 312 mil curtidas e retweets.

A deputada Bia Kicis (PSL-DF) e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) aparecem em seguida na lista dos parlamentares que mais geraram engajamento ao reproduzir desinformação em publicações populares sobre a pandemia no Twitter. Juntos, os cinco concentram 71,8% de todas as interações conseguidas com conteúdo falso, impreciso ou insustentável no levantamento.

A apuração também permitiu identificar, dentro do universo de publicações checadas, qual a proporção de posts com desinformação em relação ao total de tweets de cada parlamentar. De novo, Osmar Terra se destaca: das 150 publicações do emedebista que foram checadas, quase 70% (104) tinha alegações incorretas, a maior proporção entre os dez parlamentares com maior número de tweets analisados.

Todos os parlamentares citados foram procurados pela reportagem. Carla Zambelli e Bia Kicis questionaram o resultado da análise (veja a íntegra das respostas ao fim do texto). Os demais deputados e senadores ainda não enviaram suas respostas.

Predomínio governista. A análise mostra ainda um predomínio de governistas entre os parlamentares que mais difundiram desinformação sobre a pandemia. Dos 37 deputados e senadores com ao menos uma mensagem desinformativa na amostra pesquisada, 29 (78%) são apoiadores do governo Jair Bolsonaro.

A concentração é ainda maior se o engajamento é usado como métrica — o grupo somou 95% das interações dos tweets com desinformação sobre Covid-19 que foram checados.

No levantamento, foram extraídos por meio da API do Twitter os tweets sobre Covid-19 publicados desde março por 476 contas ativas de parlamentares encontradas pela reportagem. Isso inclui deputados e senadores eleitos (mesmo aqueles licenciados) e suplentes que já tenham assumido o cargo. Desses, 76 tiveram tweets entre os mil mais populares, que foram analisados individualmente.

Principais temas. O assunto mais recorrente da desinformação sobre Covid-19 disseminada por parlamentares no Twitter foi a defesa do uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença, como a hidroxicloroquina. Houve desinformação sobre o tema em 38,1% (114) dos tweets.

O maior defensor de supostos tratamentos da Covid-19 com medicamentos foi Eduardo Bolsonaro, com 28 tweets sobre este tema, seguido por Carla Zambelli (21) e Bia Kicis (14).

Também apareceram com frequência publicações contrárias à adoção de medidas de isolamento social (23,3%), cuja eficácia como medida de contenção da disseminação do coronavírus já foi atestada por estudos científicos.

Osmar Terra foi o maior crítico do isolamento social no levantamento feito pelo Radar Aos Fatos. O deputado publicou 51 dos 70 tweets com desinformação sobre a medida, ou 72%. Em vários dos posts, Terra se referiu ao isolamento como “quarentena inútil”.

Dados incorretos sobre mortes por Covid-19, dentro ou fora do Brasil, foram o assunto de 12,3% dos tweets com desinformação. Aqui também Osmar Terra foi o maior responsável pelo conteúdo incorreto, com 22 tweets de um total de 37.

Outros dois temas com relativo destaque foram o uso de alegações insustentáveis ou dados incorretos para minimizar a intensidade ou duração da pandemia (6,3%) e a desinformação sobre vacinas (5,3% dos posts).

Oposição. Entre os oito parlamentares da oposição que publicaram tweets com desinformação sobre Covid-19, os principais alvos foram o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), seu governo ou seus aliados. Este foi o tema de 10 dos 15 tweets com informações incorretas ou insustentáveis vindas de opositores como Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Érika Kokay (PT-DF).

Os posts de parlamentares da oposição com desinformação sobre Covid-19 somaram cerca de 150 mil interações, menos de 5% do total obtido pelos posts com alegações enganosas.

Outro lado. A deputada federal Carla Zambelli afirmou que defendeu “o uso de hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina baseada em uma reportagem de vídeo da revista VEJA, na qual médicos afirmam que estavam utilizando dos medicamentos citados.” Ela também negou ter tirado de contexto a fala de um representante da OMS sobre lockdown e disse que a checagem ignora “as conclusões de médicos a respeito do assunto e que estão na linha de frente trabalhando para salvar vidas” (veja a íntegra da resposta aqui).

A deputada federal Bia Kicis declarou que parte das checagens são baseadas na “suposição” de que ela defende medicamentos sem eficácia comprovada. “Em se tratando de um tema novo e onde praticamente tudo é experimental, qual o contraponto?” disse.

“Ao destacar textos em que dou minha visão sobre vacina, isolamento social e temas semelhantes, vocês confundem fake news com opinião. O meu posicionamento sobre essas questões é público e sempre embasado em algum estudo ou documento que comprove minhas palavras”, afirmou (veja a íntegra da resposta aqui).

Todos os parlamentares citados na checagem que serviu de base para esta reportagem foram procurados por e-mail entre o fim da manhã e o começo da tarde de quarta-feira (16) para saber se gostariam de comentar o resultado do levantamento. O Aos Fatos aguarda as respostas e as acrescentará neste texto à medida que chegarem.

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