Joedson Alves/Agência Brasil

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Abril de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

1 em cada 4 parlamentares cotados para CPMI do 8 de janeiro amplificou desinformação sobre ataques

Por Bianca Bortolon, Ethel Rudnitzki e Milena Mangabeira

28 de abril de 2023, 12h00

Nove dos 35 parlamentares cotados até o momento para compor a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do 8 de janeiro já publicaram nas redes desinformação ou acusações infundadas sobre os ataques golpistas. Esse grupo é composto por deputados e senadores da oposição, que disseram, sem apresentar evidências, que os atos foram obra de infiltrados e organizados pelo governo Lula (PT).

  • Cinco parlamentares acusaram, sem provas, integrantes do atual governo de responsabilidade pelos atos;
  • Quatro amplificaram teoria conspiratória sobre o vandalismo ter sido provocado por infiltrados;
  • Três veicularam desinformação sobre as condições dos presos pelos ataques.

Autor de um dos requerimentos para abertura da CPMI, o deputado André Fernandes (PL-CE) foi um dos mais veiculou desinformação nas semanas seguintes aos atos. Ele é investigado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por envolvimento com os ataques por ter feito uma publicação convocando para manifestação em 8 de janeiro em Brasília. Após os atos, ele condenou a depredação do patrimônio público, mas tentou justificar o uso de violência pelos manifestantes.

Tuíte do deputado federal André Fernandes (PL-CE) com uma mensagem de Olavo de Carvalho, na qual ele afirma que o STF força a população à violência.

No dia seguinte, Fernandes desinformou ao sair em defesa dos presos por vandalismo. Em tuíte que atingiu mais de 565 mil visualizações, ele afirmou que uma idosa teria morrido durante a detenção, o que não é verdade. Veja noi final da reportagem o que ele disse ao Aos Fatos sobre essas alegações.

Tuíte do deputado federal André Fernandes (PL-CE) divulgando a notícia falsa de que uma senhora idosa teria morrido durante detenção realizada pela Polícia Federal.

Os senadores Eduardo Girão (Novo-CE) e Marcos do Val (Podemos-ES) também disseminaram nessa época informações enganosas sobre as condições dos presos, afirmando, por exemplo, que haveria crianças entre os detidos.

Já para tentar emplacar a teoria de que infiltrados foram responsáveis pelo quebra-quebra, Do Val usou imagens de drones, que, na verdade, foram feitas após os atos e mostram a situação já parcialmente controlada por agentes de segurança. Ao Aos Fatos, a assessoria do senador disse que, com "a instalação dos trabalhos da CPMI, vamos conseguir provar quem são os verdadeiros responsáveis pela destruição ocorrida no dia 8 de janeiro".

Sem provas, a mesma acusação foi feita por outros três parlamentares cotados para compor a CPMI do 8 de janeiro. O senador Jorge Seif (PL-SC) publicou um vídeo no dia 28 de fevereiro insinuando que já haveria pessoas infiltradas dentro do Congresso antes da invasão, mas não é possível saber o momento em que as imagens foram gravadas.

Vídeo publicado pelo senador Jorge Seif com acusações infundadas sobre infiltrados

Ao anunciar a nomeação da senadora Damares Alves (Republicanos-DF) para compor o colegiado, o líder do partido, senador Mecias de Jesus (Republicanos-AM), também disse que os indicados ajudarão a identificar infiltrados entre os envolvidos.

Para sustentar a tese, bolsonaristas argumentam que não há histórico de violência nos protestos organizados pela direita. Porém, em dezembro de 2022, manifestações terminaram em vandalismo nas ruas de Brasília. Na época, também foram disseminadas falsas imagens nas redes com alegações sobre supostos infiltrados.

EM BUSCA DE CULPADOS

Tentando afastar a responsabilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus apoiadores nos atos golpistas, bolsonaristas também têm feito acusações infundadas sobre o envolvimento de agentes do governo Lula (PT) na organização dos ataques ocorridos no dia 8 de janeiro.

"O que o descondenado teme tanto? Alguém ficaria surpreso se numa investigação fossem descobertos infiltrados no 8/JAN?", tuitou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), referindo-se a Lula. Em outra publicação, ele reproduziu uma imagem postada por Marcos do Val que mostra o petista em meio a cacos de vidro e diz que irá desvendar "os verdadeiros responsáveis pelos ataques aos Três Poderes", insinuando que os atuais investigados não teriam envolvimento nos atos.

Tuíte do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) agradecendo ao senador Marcos do Val (Podemos-ES) por supostamente mostrar os verdadeiros responsáveis pelo vandalismo no Planalto.

Outras publicações afirmam que Lula e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, sabiam dos atos de antemão, mas não agiram. A teoria ganhou força nas após a divulgação de imagens do circuito interno do Palácio do Planalto revelarem que o ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência, general Gonçalves Dias, circulava em meio aos golpistas sem mostrar resistência.

"Quanto mais informações aparecem, mais fica claro o envolvimento desse governo irresponsável nos atos do dia 08 de janeiro", postou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Embora o atual governo tenha sido avisado do risco de manifestações violentas, não há evidências do envolvimento de seus integrantes nas ações. Até o momento, os investigados pelo STF pelos atos do dia 8 de janeiro são todos ligados ao movimento bolsonarista ou ao governo Bolsonaro.

NO GOVERNISMO, CONTRADIÇÃO

Apesar de não terem compartilhado posts que possam ser classificados como desinformação ou acusações infundadas sobre o 8 de janeiro, parlamentares governistas cotados para a CPMI se contradisseram nos últimos meses sobre a necessidade de instauração do colegiado.

Imediatamente após os ataques, oito congressistas governistas que podem ir para a comissão — como os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Renan Calheiros (MDB-AL) — defenderam a abertura de CPI para investigar os acontecimentos. Os parlamentares chegaram a coletar assinaturas para protocolar um pedido de abertura dos trabalhos.

Além deles, também defenderam a criação da comissão, os deputados Chico Alencar (PSOL-RJ), Tarcisio Motta (PSOL-RJ) e Rogério Correia (PT-MG) e os senadores Eduardo Braga (MDB-AM), Fabiano Contarato (PT-ES) e Humberto Costa (PT-PE).

Poucas semanas depois, no entanto, com o anúncio do posicionamento oficial do governo de que os órgãos federais deveriam conduzir as investigações e que uma CPMI poderia travar a agenda legislativa, os parlamentares passaram a se opor à instauração da comissão. Rodrigues, que é líder do governo no Congresso, chegou a afirmar então que a comissão seria usada pela oposição para obstruir as investigações.

Governistas voltam atrás e voltam a apoiar a instalação da CPMI do 8 de janeiro.

Nos últimos dias, uma nova mudança de posição do governo levou a base a defender mais uma vez a comissão. Após a divulgação de imagens de Gonçalves Dias no Palácio do Planalto durante os atos, sete governistas agora cotados para a comissão, e que não haviam se posicionado sobre a CPMI, passaram a defender os trabalhos.

OUTRO LADO

Aos Fatos entrou em contato nesta quinta-feira (27) com as assessorias dos parlamentares citados por disseminar informações verificadas como enganosas ou infundadas. Em resposta, o senador Marcos do Val disse que "com a instalação dos trabalhos da CPMI vamos conseguir provar quem são os verdadeiros responsáveis pela destruição ocorrida no dia 08 de janeiro. O Brasil merece saber quem está manipulando a opinião pública”.

Já deputado André Fernandes afirmou que suas publicações desinformativas sobre os presos foram feitas antes de anúncios oficiais da PF (Polícia Federal) e baseadas em informações veiculadas pela OACB (Ordem de Advogados Conservadores do Brasil). Com relação aos infiltrados, ele alegou que "há vídeos de manifestantes de verde e amarelo ajudando a PM a prendê-los no dia". As gravações, entretanto, não foram enviadas junto com a resposta.

Os demais parlamentares citados não responderam até a publicação desta reportagem, na manhã de sexta-feira (28). O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.

Referências:
1. G1
2. Aos Fatos (1, 2, 3, 4 e 5)
3. UOL (1 e 2)
4. Estadão

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