Indiciado por fraude em certificado de vacinação, Bolsonaro mentiu 575 vezes sobre vacinas durante mandato

Por Amanda Ribeiro e Ethel Rudnitzki

19 de março de 2024, 17h41

A Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 16 pessoas nesta terça-feira (19) por participação em um esquema de fraude em certificados de vacinação contra a Covid-19. A infração investigada pelas autoridades é um reflexo da retórica negacionista do ex-presidente: ao longo de seu mandato, Bolsonaro mentiu ao menos 575 vezes sobre as vacinas contra a Covid - é como se, da decretação da pandemia pela ONU até o fim de seu mandato, ele contasse uma mentira a cada dois dias. Os dados são do contador de declarações falsas e enganosas de Bolsonaro, atualizado pelo Aos Fatos entre 2019 e 2022.

Na estratégia de desinformação sobre a vacina, os principais argumentos buscavam blindar o governo de denúncias de corrupção e críticas na demora para a aquisição de imunizantes:

  • A mentira mais repetida fazia menção às negociações de compra da vacina indiana Covaxin. Em ao menos 68 ocasiões, Bolsonaro alegou que as denúncias de corrupção não se sustentavam, já que seu governo não teria pago pelo imunizante. O caso, no entanto, envolvia irregularidades contratuais, como falsificação de documentos e pressão para aquisição do produto;
  • Para alegar que a campanha de vacinação do Brasil não estava atrasada, o ex-presidente também distorceu 57 vezes a posição do país no ranking de recordistas na imunização. A declaração considerava apenas números absolutos e não a taxa de vacinados proporcional à população;
  • Para justificar o atraso na compra de imunizantes da Pfizer, Bolsonaro também afirmou 37 vezes que o governo não comprou vacinas sem aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e disse 36 vezes que nenhum outro país havia comprado imunizantes em 2020, duas alegações falsas.
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O ex-presidente também disseminou mentiras para atacar a segurança e a eficácia dos imunizantes, que em ao menos 39 ocasiões classificou como “emergenciais” ou “experimentais”. A alegação ignorava que todas as vacinas aprovadas para uso no Brasil haviam passado por três fases de testes, que comprovavam seus benefícios no combate à doença.

A campanha do então presidente contra a vacinação também foi sustentada com o argumento enganoso de que os imunizantes contra a Covid-19 poderiam causar Aids. A declaração, repetida oito vezes, levou Bolsonaro a virar alvo de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal).

O ex-presidente também enganou a população sobre seu próprio estado vacinal. Em 17 ocasiões, afirmou que não precisaria se vacinar, já que já havia contraído a Covid-19. Na verdade, a imunidade adquirida pela infecção não é duradoura e é menos eficiente que a vacinação para prevenir o agravamento da doença.

As afirmações enganosas sobre os imunizantes representam apenas 8,5% de todas as mentiras ditas por Bolsonaro durante seu mandato como presidente. Segundo levantamento do Aos Fatos, foram 6.676 declarações falsas ou distorcidas — uma média de 4,58 por dia — ao longo dos quatro anos de governo.

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Fraude no Telegram. Em reportagem publicada em setembro do ano passado, o Aos Fatos mostrou que criminosos praticavam no Telegram uma fraude similar à investigada pela Polícia Federal no caso da família Bolsonaro. No esquema, que envolvia uma clínica da rede municipal do Rio de Janeiro, os fraudadores vendiam cartões de vacinação falsos e incluíam um registro oficial no sistema do SUS (Sistema Único de Saúde).

O caso gerou uma ação da AGU (Advocacia-Geral da União) contra o Telegram, que aguarda julgamento. Em janeiro deste ano, a reportagem verificou que, a despeito da repercussão, a fraude continuava sendo ofertada na plataforma.

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Referências:

1. g1 (1, 2)
2. Aos Fatos (1, 2, 3, 4, 5)
3. BBC
4. Uol

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