🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Julho de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Fala de Gilmar Mendes é manipulada para desinformar sobre o processo eleitoral

Por Marco Faustino

14 de julho de 2023, 17h38

Uma fala editada do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, de 2018, tem sido difundida por publicações nas redes sociais para dar a entender que uma fragilidade denominada “mesário pianista” teve origem com o uso do sistema eletrônico de votação, e que não tem sido coibida pela Justiça Eleitoral. São omitidos trechos em que Mendes diz que o cadastro biométrico dos eleitores vinha sendo realizado pela Justiça Eleitoral para impedir esse tipo de ocorrência, que tem probabilidade baixíssima de mudar o resultado de uma eleição. A prática também ocorria na época da votação manual, feita exclusivamente em cédulas de papel.

Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 50 mil compartilhamentos no Facebook e 5.000 curtidas no Instagram nesta sexta-feira (14).


Selo não é bem assim

Gilmar Mendes reconhece que o sistema eletrônico de votação tem falhas e que ‘mesários pianistas’ podem votar por qualquer eleitor faltante!

Fala editada do ministro do STF Gilmar Mendes, em 2018, engana ao fazer crer que uma fragilidade que permite a votação em nome de eleitores faltantes seja recorrente e não coibida pela Justiça Eleitoral

Posts nas redes compartilham uma fala editada do ministro Gilmar Mendes, de 6 de junho de 2018, para fazer crer que a fraude do “mesário pianista” — pessoa que vota pelo eleitor faltante — é uma falha do sistema eletrônico de votação e que nada foi feito para coibir a prática. Foram omitidos trechos em que o ministro diz que o cadastro biométrico vinha sendo implementado pela Justiça Eleitoral para corrigir o problema, e que o golpe não tem poder para alterar o resultado de um pleito.

A fragilidade apontada pelo magistrado já ocorria em eleições realizadas exclusivamente por meio de cédulas em papel, a chamada votação manual. Assim, não é verdade que essa possibilidade de falsificação do voto passou a ocorrer com a introdução das urnas eletrônicas.

Confira abaixo a fala completa de Gilmar Mendes:

Em sua fala, Mendes diz que as fragilidades do sistema eleitoral eram conhecidas e apontadas pela Justiça Eleitoral, que trabalhava para saná-las. Uma delas consistia na figura do “mesário pianista”. Após o horário de encerramento da votação (às 17h), os mesários podiam verificar os eleitores que não tinham aparecido para votar. Em seguida, o mesário conseguia liberar a urna e votar em nome desses eleitores. Segundo Mendes, essa ocorrência, que não era relevante, foi detectada em lugares longínquos do Brasil.

(...) isto não leva a distorções significativas. Pode ser marginal. Sequer elegeria, em princípio, um vereador”, disse Gilmar Mendes, em trecho suprimido pelas peças checadas.

Uma solução que vinha sendo implementada desde 2014 era o cadastro biométrico — sistema que verifica eletronicamente as impressões digitais do eleitor antes de liberar a urna para votação. O trecho em que Mendes fala sobre essa solução e o avanço no cadastro biométrico dos eleitores pela Justiça Eleitoral também foi suprimido pelas peças de desinformação.

Tanto é que, já na gestão do Ministro Toffoli, deu um passo significativo e avançou para a ideia da biometria, que acabou aprovada, e que já, agora, provoca mudanças em todo o nosso sistema de identificação”, disse Gilmar Mendes.

A fala do magistrado ocorreu durante o julgamento de uma medida cautelar no âmbito da ADI 5889, ação proposta pela PGR (Procuradoria-Geral da República) contra a obrigatoriedade do voto impresso, que foi declarada inconstitucional em 2020.

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BIOMETRIA EM 2022


Mais de 118 milhões de brasileiros puderam votar por meio da biometria em 2022, o que representou 75,52% do eleitorado. A votação por biometria não foi obrigatória, porque o cadastramento biométrico foi suspenso em 2020 em razão da pandemia. O TSE projeta que o cadastro da biometria de 100% do eleitorado deve ocorrer em 2026.

Os mesários foram orientados a fazer quatro tentativas de reconhecimento biométrico dos eleitores nas eleições do ano passado. Caso não fosse possível, havia um procedimento alternativo para que o eleitor pudesse votar:

  • O presidente da mesa deveria conferir se o número do título digitado no terminal do mesário correspondia à identificação do(a) eleitor(a);
  • Depois de confirmada a identidade, o presidente da mesa deveria perguntar o ano de nascimento do(a) eleitor(a) para digitá-lo no terminal do mesário;
  • Se o ano informado correspondesse àquele cadastrado na urna, o presidente posicionava o próprio dedo polegar ou indicador no sensor biométrico para atestar o procedimento;
  • Antes de votar, o(a) eleitor(a) deveria assinar o Caderno de Votação.

Camadas extras de segurança. De acordo com o TSE, há diversas formas de auditar os resultados de uma eleição, como o RDV, o log das urnas, as auditorias pré e pós-eleição, a verificação dos códigos-fonte, a lacração dos sistemas, o lacre físico das urnas, a identificação biométrica do eleitor, e a oficialização dos sistemas.

No dia da eleição, ainda é realizado um teste de integridade das urnas com o objetivo de avaliar a segurança na captação e contagem do voto. O exame consiste na realização de uma votação paralela à oficial, com o propósito de comprovar que o voto digitado na urna é exatamente aquele que será contabilizado.

Referências:

1. YouTube
2. TSE (Fontes 1, 2, 3, 4 e 5)
3. STF (Fontes 1 e 2)
4. Conjur
5. TRE-PE
6. TRE-AL
7. Aos Fatos

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