🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Novembro de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Um terço dos tweets mais populares de bolsonaristas sobre eleição dos EUA tem desinformação

Por Bruno Fávero, Débora Ely, João Barbosa e Milena Mangabeira

10 de novembro de 2020, 15h46

Um terço (33%) dos cem tweets mais populares que perfis bolsonaristas publicaram na última semana sobre as eleições presidenciais dos EUA continha alguma desinformação ou reproduzia teorias da conspiração sobre o pleito, mostra levantamento do Radar Aos Fatos. Esses posts somaram mais de 500 mil interações (curtidas e retweets), ou cerca de 30% do total gerado pelas publicações populares do grupo sobre esse assunto.

O discurso enganoso mais difundido pelo grupo é o de que o pleito americano foi fraudado para beneficiar o democrata Joe Biden, que derrotou o presidente americano Donald Trump no sábado (7). Na última semana, o Aos Fatos publicou 17 checagens desmentindo alegações de fraude na disputa.

Influenciadores e parlamentares que apoiam Bolsonaro foram os principais responsáveis por publicar conteúdo desinformativo. Entre esses nomes aparecem, por exemplo, os blogueiros Allan dos Santos e Leandro Ruschel e o escritor Olavo de Carvalho. Entre os parlamentares, destacam-se os deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Caroline de Toni (PSL-SC) e Douglas Garcia (PTB-SP).

Para a análise, foram coletados 2.672.529 tweets publicados ou retweetados por 718.708 perfis entre 1º e 8 de novembro que continham termos relacionados às eleições americanas. Em seguida, foi aplicada uma técnica que agrupa os perfis coletados de acordo com o quanto interagem na rede —perfis que se retuitam muito, por exemplo, tendem a ficar no mesmo grupo.

Além do grupo bolsonarista, que concentrou 11,3% dos perfis que participaram do debate, foi possível identificar outros dois grandes grupos de discussão sobre as eleições americanas, ilustrados na imagem abaixo:

  • Vermelho: Composto principalmente de perfis simpáticos ao presidente Jair Bolsonaro, demonstra apoio a Trump e é crítico de Biden. É o menor dos grupos, mas concentra toda a desinformação que o Aos Fatos encontrou no debate.

  • Azul: Maior dos três grupos, inclui perfis que compartilharam principalmente conteúdo noticioso, mas com tendência crítica a Trump.

  • Verde: Também majoritariamente crítico a Trump, mas dominado por influenciadores digitais, como Felipe Neto, e com forte presença de posts de humor.

Veja abaixo a análise detalhada de cada grupo:

Rede vermelha (11,35% dos perfis)

Composta principalmente por perfis próximos ao presidente Jair Bolsonaro, como blogueiros de extrema-direita e parlamentares da base do governo, é amplamente dominada por conteúdo simpático a Donald Trump ou crítico a Joe Biden (89%), como o exemplo abaixo do perfil @taoquei1:

Entre as críticas a Biden, o discurso que mais aparece (12%) é a preocupação com como será a atuação do presidente eleito em relação à Amazônia.

Como já mencionado, também é o grupo que concentra desinformação sobre as eleições, como acusações infundadas de que aconteceram fraudes para beneficiar o candidato democrata na disputa.


Parte desses tweets ainda usa as eleições americanas para lançar dúvidas sobre a integridade do processo eleitoral brasileiro.

Rede azul (43,06% dos perfis)

Concentra principalmente informações e análises sobre as eleições americanas. Dos cem tweets com mais engajamento deste grupo, 57 foram classificados como comentários opinativos (30) e notícias (27) pela análise do Radar.

Dentre os comentários, a maioria —18, no total— dirigia críticas aos presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro. Destacou-se, sobretudo, a mensagem do humorista Fabio Porchat, mencionando a denúncia contra o senador Flávio Bolsonaro pelo suposto esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Em seguida, o tweet com mais repercussão foi do comentarista da GloboNews Guga Chacra.

Já no campo das notícias, as mensagens com mais engajamento foram uma do G1 informando, no sábado (7), a vitória de Joe Biden, e uma de Guga Chacra noticiando, na sexta-feira (6), que o democrata havia ultrapassado o republicano na contagem de votos no estado da Pensilvânia.

Nesta rede de discussão, também houve mensagens em tom de humor (24%) referentes à disputa americana e publicações celebrando a vitória de Joe Biden (19%). O tweet da chef Paola Carosella comemorando o resultado das urnas foi o de maior engajamento da rede — teve 34.040 curtidas e 1.724 retweets.

Rede verde (35,73% dos perfis)

Amplamente dominada por influenciadores digitais, a rede de tweets verde teve como seu maior expoente o youtuber Felipe Neto. Dos 100 tweets com mais engajamento, 17 foram criados por ele, abordando dois principais temas: comentários sobre o processo eleitoral dos EUA e críticas ao posicionamento de Donald Trump em alegar fraude nos votos pelos correios.

O tweet de Felipe Neto com mais engajamento é sobre a vitória do democrata Joe Biden no estado de Wisconsin, divulgado pelo canal CNN. A mensagem é acompanhada de um gif de humor.

O youtuber também criticou as alegações de fraude nos votos pelos correios levantadas por Donald Trump. Segundo o candidato derrotado, esses votos seriam “corruptos” e somente aqueles presenciais deveriam ser considerados legais. Trump incentivou os eleitores republicanos a não votarem pelos correios, optando pelo comparecimento no dia da eleição. Comentários acerca do processo eleitoral totalizaram 37% das mensagens no grupo verde.

Nesta rede, o influencer e criador do Voz da Comunidade, Rene Silva, também se destacou. É dele o tweet com mais engajamento no grupo, com mais de 100 mil interações. A publicação faz referência a um vídeo de pessoas comemorando na Filadélfia durante a apuração dos votos, que colocava Joe Biden à frente nos resultados. A gravação viralizou principalmente por trazer os norte-americanos dançando na rua ao som de “Baile de Favela”, do cantor Mc João.

Mas a categoria de mensagem que ocupou o grupo verde foi o humor. Dos 100 tweets analisados, 58% usaram memes para criticar o posicionamento de Donald Trump diante da derrota, expectativas sobre o comportamento do presidente brasileiro Jair Bolsonaro e mensagens relacionadas à contagem de votos demorada.

Outro lado. Em contato com o Aos Fatos, Leandro Ruschel afirmou que "o procurador-geral americano acabou de abrir investigações, por 'alegações substanciais' de irregularidades nas eleições. Estaria ele promovendo desinformação? Não reconheço a legitimidade da sua agência, ou de nenhum outro órgão, para arbitrar a verdade e acredito que ela produz desinformação sistemática, buscando impor uma agenda de esquerda, em boa parte dos casos". A íntegra da resposta pode ser vista aqui.

A reportagem também entrou em contato com Allan dos Santos, Olavo de Carvalho, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Caroline de Toni (PSL-SC) e Douglas Garcia (PTB-SP), mas não teve resposta até a publicação deste texto.

sobre o

Radar Aos Fatos faz o monitoramento do ecossistema de desinformação brasileiro e, aliado à ciência de dados e à metodologia de checagem do Aos Fatos, traz diagnósticos precisos sobre campanhas coordenadas e conteúdos enganosos nas redes.

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