Ao longo das últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro tem dado uma série de declarações falsas e contraditórias sobre o novo coronavírus, que já tem centenas de casos confirmados no Brasil. Em um esforço para monitorar a desinformação sobre o tema, Aos Fatos tem checado, contextualizado e, quando necessário, desmentido afirmações do presidente.
Confira abaixo o resumo de todas as verificações feitas até o momento. Para ter acesso ao conteúdo completo das checagens, basta clicar em cada um dos números.
25 de março
1. Ao contrário do que afirma Bolsonaro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não anunciou que pretendia retomar as atividades econômicas nos Estados Unidos a partir do dia 25 de março. Em discurso na Casa Branca, “reabrir” a economia americana até o domingo de Páscoa, que cai no dia 12 de abril.
2. Também não é verdade que a cloroquina e a hidroxicloroquina tenham sido aprovadas pela FDA, agência sanitária americana, para uso em casos específicos de Covid-19. De acordo com nota da agência divulgada no dia 19 de março, os estudos estão ainda em fase experimental.
3. Por mais que a OMS enquadre em grupos de risco da Covid-19 apenas pessoas acima dos 60 anos ou com algum comprometimento préviode saúde, é impreciso afirmar que os mais jovens e saudáveis não correm qualquer tipo de risco. De acordo com estudo da CDC (Center for Disease Control) com base em dados dos EUA, 20% dos pacientes internados com Covid-19 tinham entre 20 e 44 anos.
24 de março
1. Em uma tentativa de minimizar os riscos do novo coronavírus, o presidente afirma que a doença é como uma gripe comum, o que é falso. Por mais que ainda não seja possível determinar com precisão a taxa de letalidade da Covid-19, cientistas estimam que ela gire em torno de 1,6%, número bem maior do que o verificado para a gripe, que é de 0,1%.
2. Ainda que seja correto afirmar que idosos, e não crianças, fazem parte do grupo de risco da Covid-19, cientistas e autoridades de saúde apontam que jovens são potenciais disseminadores da doença, já que tendem a apresentar sintomas menos graves. Por isso, a premissa do argumento de Bolsonaro é falsa, já que o fechamento das escolas pode ajudar a conter a disseminação da doença, inclusive entre os mais velhos.
3. O presidente se mostra contraditório ao afirmar que surgiu “o sinal amarelo” ao governo federal no momento em que foi realizado o resgate dos brasileiros expatriados em Wuhan em fevereiro deste ano. Isso porque, no fim de janeiro, ele mesmo descartou a possibilidade de realização da operação, afirmando que seria muito caro e que precisava pensar na vida de 210 milhões de brasileiros.
4. Ao dizer que 90% da população é assintomática ao contrair a Covid-19, Bolsonaro dá uma declaração insustentável, já que ainda não há dados conclusivos sobre o assunto. Contudo, estudos preliminares têm mostrado que as taxas podem ser menores do que as apresentadas pelo presidente: três estudos indicam números que vão de 30% a 59%. Já outro aponta um número similar, de 86%.
5. Ao tentar estabelecer uma correlação entre o clima italiano e a velocidade de disseminação do novo coronavírus, Bolsonaro mais uma vez traz um argumento insustentável, já que não é corroborado por dados conclusivos. Por mais que estudos tenham apontado que em regiões mais quentes o vírus se espalha com menor velocidade, o diretor-executivo do programa de emergências em saúde da OMS afirmou que pode ser uma "falsa esperança" acreditar que o novo coronavírus seja sazonal como a gripe.
6. Ao fazer referência a um vídeo publicado por Dráuzio Varella no dia 30 de janeiro — antes que fosse decretada a pandemia, portanto — em que o médico afirma que o novo coronavírus causaria à população "um resfriadinho de nada", Bolsonaro omite que o médico já se corrigiu ao menos três vezes, alertando para o isolamento social e a adoção de medidas de higiene. Por tirar a informação de contexto, sua fala foi considerada imprecisa.
7. Bolsonaro acerta ao afirmar que são raros os casos fatais de pessoas abaixo dos 40 anos sem problemas crônicos de saúde, já que os grupos de risco, de acordo com a OMS, são pessoas acima dos 60 anos e com algum comprometimento prévio de saúde. Isso não significa, no entanto, que os mais jovens não demandem cuidados. De acordo com estudo do CDC, órgão de saúde americano, 20% dos pacientes com Covid-19 internados nos EUA estavam na faixa dos 20 aos 44 anos.
8. É verdade que a população italiana tem uma porcentagem maior de idosos do que a brasileira: atualmente, 23,2% dos habitantes do país europeu estão acima dos 65 anos. No Brasil, a taxa é bem menor: apenas 9,6% da população é idosa.
23 de março
1. Não é verdade que a Medida Provisória 927, que flexibiliza as leis trabalhistas durante a pandemia do novo coronavírus, prevê ajuda do governo quando o empregado tiver o seu contrato trabalhista suspenso. O texto diz apenas que o empregador pode, se desejar, conceder ao empregado "ajuda compensatória mensal, sem natureza salarial, durante o período de suspensão contratual".
2. É falso que ninguém esteja demitindo por causa do novo coronavírus. Apenas no Ceará, 5.000 pessoas já foram demitidas no setor de bares e restaurantes.
3. Bolsonaro se contradiz ao admitir que trabalhadores poderiam ficar sem receber salários por causa da Medida Provisória 927, que previa a suspensão de contratos de trabalho por quatro meses. Anteriormente, ele havia dito que o governo entraria “com uma ajuda” para os trabalhadores suspensos nesse período, mas isto não estava previsto no texto.
4. O presidente acerta ao dizer que, por enquanto, não há tratamento ou vacina contra o novo coronavírus.
22 de março
1. Bolsonaro está correto ao dizer que está faltando remédios à base de cloroquina e à hidroxicloroquina. Usados para tratar malária, artrite reumatoide e lúpus, os medicamentos estão passando por testes ainda preliminares para combater a Covid-19 e, mesmo sem comprovação de que sejam eficazes, passaram a ser comprados pela população.
21 de março
1. Bolsonaro é contraditório ao dizer que reconhece a seriedade do momento em razão da pandemia do novo coronavírus, porque ele minimizou diversas vezes o impacto do vírus na saúde pública brasileira e menosprezou recomendações da OMS e do Ministério da Saúde de evitar aglomerações.
20 de março
1. É verdade, como diz Bolsonaro, que a China já registra queda acentuada de novos casos confirmados de coronavírus. Segundo a OMS, desde o dia 12 de fevereiro, quando o país teve 15.200 novos registros, o número tem caído. No dia 19 de março, último dado disponível, foram apenas 126.
2. Bolsonaro acerta ao dizer que pessoas com alimentação deficitária são mais propensas a serem infectadas pelo novo coronavírus. Segundo o Ministério da Saúde, “pessoas com deficiências alimentares podem ter o sistema imunológico fragilizado, o que possibilita a infecção pelo coronavírus e a evolução para quadros mais severos”.
19 de março
1. Bolsonaro é impreciso ao dizer que os EUA liberaram remédio com potencial de tratar o novo coronavírus, porque, na verdade, foi liberado apenas o tratamento experimental, não o seu uso para a população.
18 de março
1. Não é verdade que Bolsonaro cumpre todas as orientações sanitárias. No dia 15 de março, ele não seguiu recomendação do Ministério da Saúde de evitar aglomerações e cumprimentou manifestantes na frente do Palácio do Planalto.
2. É falso que o presidente não convocou a população para atos em apoio ao governo. Ele fez esse chamado ao menos três vezes: por mensagem de WhatsApp a aliados; em discurso em Boa Vista; e por meio da Secom, que divulgou as manifestações no Twitter.
3. Também é falso que Bolsonaro não foi ao encontro das pessoas que participavam de ato pró-governo em Brasília, mas que elas que foram até o presidente. Bolsonaro foi até a grade na frente do Planalto cumprimentá-las.
4. Não é verdade que a única vez que Bolsonaro criticou o Legislativo e o Judiciário foi em entrevista no dia 15 de março. Em ao menos outras três ocasiões ele atacou os dois poderes: quando criticou projeto aprovado pelo Congresso; quando publicou no Twitter vídeo hostil ao STF; e quando incentivou a ida aos atos anti-Congresso e anti-Judiciário do último dia 15.
5. É falso que a jornalista Vera Magalhães tenha divulgado que o presidente estaria organizando manifestações para 31 um março na frente de quartéis. Ela, na verdade, publicou um tweet com imagem que vinha sendo compartilhada em grupos de WhatsApp e que convoca para os atos.
6. Também é falso que Vera Magalhães tenha tirado de contexto um vídeo de 2015 ao noticiar que Bolsonaro convocou aliados para atos pró-governo. O material publicado pela jornalista traz referências a fatos mais recentes, como a facada que Bolsonaro sofreu em 2018. É impossível, portanto que seja de cinco anos atrás.
7. O presidente se contradiz ao listar o fechamento de fronteiras como uma medida a ser tomada para conter o coronavírus, porque, anteriormente, ele havia dito que a Lei de Migração impediria esse tipo de ação.
8. Bolsonaro foi impreciso ao negar que tenha posto em risco a saúde de manifestantes pró-governo ao cumprimentá-los em frente ao Palácio do Planalto no último domingo (15). Apesar de já ter recebido resultado negativo de um exame para o novo coronavírus, o presidente ainda não havia sido submetido ao segundo teste, e poderia estar infectado.
9. Bolsonaro também cometeu uma imprecisão ao dizer que o novo coronavírus começou se disseminar na China entre outubro e novembro, porque ainda não há consenso sobre qual foi o caso original. O governo chinês considera que a primeira contaminação foi em novembro, mas pesquisadores apontam que foi em dezembro.
10. É verdade, como disse Bolsonaro, que o governo publicou no Diário Oficial da União o pedido de reconhecimento de estado de calamidade pública até o dia 31 de dezembro de 2020 em decorrência do coronavírus.
11. Também é verdade, que não há vacina contra o novo coronavírus. Segundo a OMS,“possíveis vacinas e alguns tratamentos específicos ainda estão sob investigação.
16 de março
1. Não é verdade que a gripe seja mais fatal que o coronavírus, como disse Bolsonaro. Estudos preliminares sobre a taxa de mortalidade do coronavírus — cujos índices variam entre 1,6% e 3,9% — confirmam que ela é superior à da gripe comum, que gira em torno de 0,1%.
2. Também é falso que cruzeiros foram proibidos de aportar no país. Segundo o Ministério do Turismo as embarcações serão avaliadas de forma individual e as medidas serão adotadas caso a caso.
3. É falso que o Brasil não pode fechar fronteiras devido à Lei de Migração. O decreto 9.199/2017, que regulamenta a lei, prevê a possibilidade de proibição de entrada no país por questões de saúde, desde que com ordem expressa do Ministério da Saúde.
4. Para justificar seu contato com apoiadores no dia 15 de março apesar das recomendações de evitar aglomerações, o presidente comparou a sua atitude à de outras autoridades que foram a evento com 1.300 convidados dias antes. A declaração foi classificada como imprecisa, porque Bolsonaro não considerou que, no dia de tal evento, ainda não havia recomendações sanitárias de evitar contato social.
15 de março
1. Bolsonaro se contradiz ao dizer que aglomerações aumentam o risco de disseminação do coronavírus, porque, em declarações anteriores, ele havia minimizado o impacto do contato com multidões.
2. O presidente também foi contraditório ao dizer que tomava as devidas precauções contra a infecção pelo coronavírus, porque, no mesmo dia, descumpriu orientações do Ministério da Saúde de evitar aglomerações e cumprimentou diversos apoiadores na porta do Palácio do Planalto.
3. O presidente acerta ao afirmar que a doença causada pelo novo coronavírus pode ser fatal para pessoas idosas ou portadoras de doenças crônicas. Elas integram o grupo de risco previsto por órgãos internacionais, composto por idosos, diabéticos e indivíduos com problemas no coração e nos pulmões.
12 de março
1. Após convocar a população para atos em apoio ao governo, Bolsonaro mais uma vez se contradisse ao orientar o público a não participar das manifestações devido ao coronavírus e, depois, ao aparecer à porta do Palácio do Planalto no dia do evento para cumprimentar apoiadores.
11 de março
1. É falso que a gripe seja mais fatal que o coronavírus. Estudos preliminares sobre a taxa de mortalidade do coronavírus — cujos índices variam entre 1,6% e 3,9% — confirmam que ela é superior à da gripe comum, que gira em torno de 0,1%.
Esta lista foi atualizada no dia 26 de março.
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