🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Setembro de 2023. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Starlink, de Elon Musk, passará a oferecer planos corporativos no Brasil

Por Alexandre Aragão

6 de setembro de 2023, 18h54

A Starlink, empresa de Elon Musk que oferece conexão banda larga via satélite, começará a atender empresas no Brasil.

Em operação com planos individuais no Brasil desde o início do ano, segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), a empresa anunciou parceria com a TGS (Telefónica Global Solutions) para expandir a oferta no país também a planos corporativos.

A Starlink tem revolucionado a conectividade na Amazônia — como indicam antenas apreendidas em garimpos ilegais em terras indígenas. Expandir a oferta a empresas amplia a gama de usos, por exemplo, ao agronegócio.

A Plataforma de hoje é sobre os satélites de Elon Musk.

EM 5 PONTOS:

  • Por que a tecnologia da Starlink é inovadora;
  • A presença da empresa já muda hábitos na região amazônica;
  • A Anatel diz participar de operações para coibir crimes;
  • Elon Musk é um homem de 52 anos que, na melhor das hipótese, age como adolescente;
  • Deixar infraestrutura essencial sob o controle de alguém assim é um grande risco.

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🛰️ Os satélites de Elon Musk

Dias após a invasão da Ucrânia, em fevereiro do ano passado, o ministro de Transformação Digital do país, Mykhailo Fedorov, publicou um tuíte pedindo a Elon Musk que a Starlink oferecesse acesso à internet no território ucraniano.

Musk atendeu a demanda de Fedorov em 12 horas. Três meses depois, cerca de 150 mil ucranianos já usavam a conexão de banda larga da Starlink, tanto para usos cotidianos como para apoiar a estratégia militar de defesa — com o uso de drones on-line, por exemplo.

  • Os satélites da Starlink orbitam a Terra a uma distância de cerca de 550 km, menor do que a utilizada pela maioria dos serviços de internet via satélite geoestacionário (de até 35 mil km), o que permite menor tempo de resposta (latência);
  • Sozinhos, os satélites cobrem áreas menores do que equipamentos mais distantes, mas a Starlink oferece uma rede de satélites;
  • A qualidade do serviço é muito superior à de qualquer concorrente;
  • Como opera em conjunto com a SpaceX, que também pertence a Musk, a empresa possui mais satélites em órbita do que todas as concorrentes somadas;
  • O objetivo de Musk é que, até 2027, a rede da Starlink cubra toda a superfície do planeta.


Contagem regressiva. Foguete da SpaceX decola para lançar satélite da Starlink na órbita da Terra (Reprodução/YouTube)


“A chegada da internet via satélite Starlink em aldeias indígenas de São Gabriel da Cachoeira já tem provocado mudanças sociais entre os indígenas”, publicou na semana passada o jornal A Crítica, de Manaus. Segundo a reportagem, “cursos on-line, monitoramento do território via grupo de WhatsApp e até uso do Pix têm ganhado espaço”.

Com a possibilidade de uso em embarcações, meio de transporte essencial na região amazônica, a Starlink também mudou a forma de navegar, como Ronaldo Lemos descreveu na Folha de S.Paulo. Maquininhas de cartão de crédito se tornaram comuns, de acordo com o episódio mais recente do podcast Rádio Novelo Apresenta.

A Anatel destaca à Plataforma que “tem colaborado com a Polícia Federal para identificação de usuários que irregularmente deslocam equipamentos para instalação junto aos garimpos ilegais, realizando a instalação por conta própria, sem anuência ou intervenção das prestadoras”.

Segundo a agência reguladora, ela “tem participado de operações coordenadas pelo Ministério da Justiça, com participação da Polícia Federal, Ibama e outros órgãos”.

Apesar de ser óbvio o impacto que a empresa de Musk teve na região, a agência diz que “foram localizados equipamentos via satélite de prestadoras diversas para atendimento destes garimpos”.


Ao infinito. Satélite da Starlink é lançado para orbitar a Terra (Reprodução/YouTube)


Elon Musk, 52 anos, se comporta como um adolescente em diversas ocasiões. Há muito o bilionário já despencou no abismo do ego, e a compra por US$ 44 bilhões e subsequente autoimplosão da rede anteriormente conhecida como Twitter é apenas o exemplo mais ruidoso.

O episódio é narrado em detalhes na biografia de Musk escrita por Walter Isaacson — biógrafo também de Leonardo Da Vinci e de Steve Jobs —, que terá lançamento mundial em 12 de setembro.

O Wall Street Journal publicou um trecho do livro que narra a obsessão de Musk em transformar o Twitter no que chamou de “visão original” para a X.com, empresa que ele fundou em 1999 — antes de se tornar cofundador do PayPal — e que hoje imagina como um “app de tudo”, como o WeChat na China.

É possível vislumbrar um futuro em que a Starlink ofereça um serviço imbatível — e as pessoas sejam obrigadas a ter conta no X para poderem utilizá-lo, cumprindo parte do propósito desse “app de tudo”.

Personagem controvertido desde que emergiu, Musk já foi objeto de uma biografia lançada em 2015, mas que exalta seus feitos e é pouco crítica sobre suas visões, como escrevi em uma resenha na época. Em poucos anos, a imagem pública do empresário mudou muito — para pior. É por isso que o imortal Ruy Castro, mestre das histórias de vida, desaconselha que autores optem por perfilar pessoas que ainda respiram.

Esse impacto negativo vem de episódios como a atuação da Starlink na guerra da Ucrânia. Apesar de ter posado como salvador da pátria, Musk pressionou os Estados Unidos nos meses seguintes para arcar com os custos de operação da empresa, sob a ameaça de interromper o serviço, o que teria consequências militares. O governo mais poderoso do mundo foi obrigado a ceder.

Eis o risco que é deixar infraestrutura essencial nas mãos de um bilionário instável e egocêntrico. Pelo menos ele sabe que a Terra não é plana.

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