Casos como a Operação Lava Jato e a Operação Zelotes, de grande repercussão política e midiática, têm impacto em como o país vê a corrupção. São esses casos que também têm preponderância sobre os índices sociais e econômicos monitorados pela Transparência Internacional. Em 2015, auge das repercussões de ambos os escândalos, o Brasil caiu sete posições no ranking baseado no IPC (Índice de Percepções de Corrupção), desenvolvido pela entidade.
O índice mede essa percepção em uma escala de 0 a 100, sendo 0 a pior percepção possível e 100, a melhor. Suspeitas sobre autoridades, partidos, funcionários públicos, empresas, executivos e operadores, falta de transparência pública, pouco acesso a informação confiável sobre o poder — tudo isso tem impacto na avaliação. O país computou 38 pontos.
Essa medição é baseada em um cálculo feito a partir de 12 fontes de dados diferentes, abordando dimensões como cumprimento à Convenção Anti-Suborno da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), indicadores de controle de corrupção medidos pelo Banco Mundial, liberdade de imprensa e até o Índice de Orçamento Aberto, medido pela International Budget Partnership.
O Ministério Público Federal cita episódios considerados "emblemáticos" para o combate à corrupção no Brasil, como o caso da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), na década de 1990, e o Mensalão, em meados de 2000 — além da Zelotes e da Lava Jato. Esta última foi destaque no mais recente relatório da Transparência Internacional sobre o índice.
"Lidando com muitos casos de corrupção, o Brasil tem sido abalado pelo escândalo da Petrobras", notou a entidade.
Com isso em vista, Aos Fatos preparou um vídeo (veja acima) que localiza vários dos escândalos de corrupção brasileiros desde a década de 1990 e mostra como eles coincidem com oscilações na percepção de corrupção no país.
O levantamento também revela que o Brasil ainda se sai melhor do que alguns países de economia emergente. Aos Fatos analisou dados de China, Índia, México, Rússia e Turquia e constatou que, embora o Brasil não seja modelo internacional, seus pares não raro têm pior avaliação.
Nota: de 1995 a 2011, os dados foram multiplicados por 10, considerando que a metodologia mudou, sendo anteriormente o máximo 10, e posteriormente, 100
É possível ver que o Brasil está 11 pontos acima do patamar visto em 1995. A Turquia, que atualmente figura em melhor posição, só conquistou um ponto em 20 anos, após ter oscilado bastante no período.
A China, por sua vez, disparou 15 pontos, mas ainda fica aquém do Brasil, enquanto Rússia e México estão em uma posição ruim.
Para se ter uma ideia, quando se trata de disponibilidade de dados orçamentários, o Brasil é um dos países mais bem colocados do mundo, em sexto lugar entre pouco mais de 100 países, acordo com dados de 2015 do Open Budget Survey.
Considera-se também a existência de uma Lei de Acesso à Informação, em vigor desde 2012, que regulamenta o acesso de qualquer pessoa a dados do governo.
No entanto, ainda pesam contra o Brasil uma percepção de burocracia pesada e ineficiente e, sobretudo, uma sensível piora nos níveis de cumprimento de combate à corrupção por parte do poder público.
Segundo a análise da Transparência Internacional, que reúne dados de institutos de pesquisa, centros de pesquisas, ONGs, empresas e organizações internacionais, o Brasil piorou significativamente sua capacidade de combater a corrupção. Em 2011, o país estava positivo em 0,15 ponto num ranking que vai de -2,5 pontos a 2,5 pontos. Agora, o país está com -0,38 pontos.
* Gráficos por Volt Data Lab
** Você pode acessar todos os dados tabelados dessa reportagem nesta tabela ou na página do Volt no Github