Na quarta-feira (30), centenas de prefeitos de 16 estados brasileiros aderiram ao movimento “sem FPM não dá, as prefeituras vão parar” — e paralisaram atividades administrativas. A principal reclamação é sobre a queda do valor transferido pelo governo federal via FPM (Fundo de Participação de Municípios) e os supostos atrasos nesses repasses.
Além do aumento do FPM, os prefeitos reivindicam a recomposição de repasses do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), tributo estadual alterado pela lei complementar nº 194/2022, aprovada no governo Jair Bolsonaro (PL), que reduziu a arrecadação e repasse os municípios, e outras pautas que tendem a diminuir gastos das gestões municipais.
Mas, afinal, o que é o FPM e por que ele diminuiu no governo Lula (PT)? Aos Fatos explica, abaixo:
- O que é o FPM?
- Como os repasses são calculados?
- Por que os repasses às cidades diminuíram em 2023?
- O que está sendo feito para resolver o problema?
1. O que é o FPM?
Criado pela emenda constitucional nº 18, em 1965, o FPM é uma transferência obrigatória da União para os municípios brasileiros. Atualmente, o artigo 159 da Constituição determina que 22,5% da arrecadação líquida do IR (Imposto de Renda) e do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) deve compor o fundo.
Os repasses são realizados a cada dez dias pela STN (Secretaria do Tesouro Nacional), vinculada ao Ministério da Fazenda, com base na arrecadação do período anterior. O montante global é transferido ao Banco do Brasil, que fica responsável por realizar os repasses às contas correntes dos municípios, com base em critérios determinados em lei.
Do total do FPM, 20% são descontados para o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação).
De acordo com a CNM (Confederação Nacional dos Municípios), o FPM é a principal receita de sete em cada dez municípios brasileiros. Como os repasses não são vinculados, o montante recebido por cada município pode ser alocado da maneira que preferirem.
2. Como os repasses são calculados?
A quantia que cada município recebe é regulada pela lei complementar nº 62/1989. A legislação determina que o FPM deve seguir a seguinte divisão:
- 10% do valor deve ser destinado às capitais;
- 90% aos demais municípios do interior.
Cada uma dessas duas classificações possui critérios diferentes para determinar o coeficiente de participação do FPM. No caso dos municípios do interior, o valor do repasse é maior para municípios com maior população.
Quem realiza esse decisão normativa.
cálculo anualmente é o TCU (Tribunal de Contas da União) com base nos dados populacionais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O tribunal publica os coeficientes por meio de3. Por que os repasses às cidades diminuíram em 2023?
De acordo com levantamento da CNM, houve queda de repasses em julho e agosto, quando comparados com o mesmo mês em 2022: o mês de julho fechou com uma queda de 8,63% e agosto com uma redução de 8%.
Dados do Tesouro Nacional também evidenciam a queda de repasses aos municípios (veja gráfico abaixo). Até o dia 28 de agosto deste ano, a União repassou R$ 96,9 bilhões via FPM, o que corresponde a cerca de R$ 12,1 bilhões por mês, em média. Em 2022, o governo repassou R$ 153,5 bilhões (em valores corrigidos pelo IPCA), uma média mensal de R$ 12,7 bilhões.
A queda do valor total dos repasses do FPM vem da redução da arrecadação, de acordo com a CNM. Segundo dados da Receita Federal, de janeiro a julho, por exemplo, houve queda na arrecadação total do IPI (-12,9% em relação a 2022), do IRPF (-3,5%) e do IRPJ (-5,6%).
A confederação também aponta que houve um aumento das restituições do IR: foram R$ 4,3 bilhões em 2023, um número 56% maior do que em 2022.
Censo. Originalmente, a decisão normativa 201, que determinava os valores em exercício em 2023, levava em conta os dados parciais do Censo 2022 para o cálculo dos coeficientes do FPM. Em julho, o TCU publicou uma nova decisão que passou a vigorar já naquele mês, dessa vez com os dados consolidados do Censo. Isso fez com que cidades que registraram queda populacional também tivessem uma redução em seus repasses.
O governo, no entanto, aprovou a lei complementar 198/2023 para tentar reduzir essas perdas: o texto determina que a redução do coeficiente deve ser gradativa e anual a partir da publicação de um novo censo demográfico. Em 2023, por exemplo, os municípios só terão 10% da redução prevista devido ao critério populacional.
4. O que está sendo feito para resolver o problema?
O governo se reuniu com lideranças do movimento na quarta-feira (30), a fim de tentar conter o protesto. Uma das ações propostas é a aceleração do PLC nº 136/2023, que propõe um crédito extra de R$ 27 bilhões a estados e municípios para compensar a perda de arrecadação pelas mudanças no ICMS.
Outro projeto que prevê um alívio nas contas municipais é o PL 334/2023, que foi aprovado na Câmara na quarta-feira (30). O texto prorroga a desoneração da folha de pagamento em alguns setores e diminui a contribuição previdenciária de todos os municípios até 2027. O PL agora aguarda aprovação no Senado.
Aos Fatos também entrou em contato com o Ministério da Fazenda para questionar se o governo planeja alguma outra ação para reverter a queda dos repasses. A pasta, no entanto, não respondeu até a publicação desta reportagem.