Tânia Rêgo/Agência Brasil

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Outubro de 2018. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

O que é fato nas declarações de Bolsonaro na última semana

Por Luiz Fernando Menezes e Ana Rita Cunha

22 de outubro de 2018, 19h30

Mesmo sem participar de debates, Jair Bolsonaro, candidato à Presidência da República pelo PSL, vem gravando entrevistas, lives e postando declarações nas redes sociais. Na última semana, o deputado fez declarações classificadas como falsas ao falar sobre a proposta de criação de novas estatais pelo plano de governo de Haddad e também sobre a classe “mais rica” sofrer com a crise da mesma maneira que as mais baixas no Brasil.

Veja, abaixo, o que checamos.


FALSO

[O plano de governo de Haddad propõe] Criar mais estatais. — Jair Bolsonaro, em entrevista ao SBT

Não há, em nenhum lugar do plano de governo de Haddad, qualquer menção à criação de novas estatais. Em relação a esse tema, o texto foca em propostas de melhoria da administração e fortalecimento de empresas já existentes.

Algumas propostas em relação às empresas do governo estão relacionadas à “racionalização” da atividade estatal “para direcionar a ação estatal aos que mais precisam” e à incrementação da “cultura de avaliação da própria Administração”. Segundo o plano, a ideia é que haja “uma gradativa construção de uma gestão pública que não seja regida exclusivamente por uma cultura de controles burocráticos que interdite a ação estatal”.

O texto também defende o fortalecimento “da capacidade de coordenação, financiamento e planejamento” de estatais que já existem como a EBC (Empresa Brasil de Comunicação), a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) a EPL (Empresa de Planejamento e Logística).

Outro lado. A reportagem entrou em contato com a assessoria do candidato para que ele pudesse se posicionar em relação às checagens. Até a última atualização, no entanto, Aos Fatos não havia recebido nenhuma resposta.


CONTRADITÓRIO

Eu não prego a violência, muito pelo contrário, eu prego a não violência. — Jair Bolsonaro, em live no Facebook no dia 14 de outubro

O candidato à Presidência da República já fez declarações, durante sua carreira parlamentar, nas quais pregava, sim, a violência, como em casos de estupros e tortura. Durante a campanha presidencial, mesmo que em tom de brincadeira, voltou a fazer apologia à violência, dizendo que vai “fuzilar a petralhada aqui do Acre”.

Em 1999, em entrevista ao Câmara Aberta, programa da Band, Bolsonaro disse ser favorável à tortura: “Pau-de-arara funciona. Sou favorável à tortura, tu sabe disso. E o povo é favorável também”. Hoje, segundo a Folha de S.Paulo, o candidato diz que se referia à “medidas enérgicas, que alguns consideram tortura”.

Bolsonaro também disse, em uma discussão com a deputada Maria do Rosário (PT-RS) em 2003, que “jamais estupraria você porque você não merece”. Também à Folha, Bolsonaro disse que foi vítima injusta de agressão por parte de Maria do Rosário e apenas respondeu à uma ofensa anterior.

Já em 2008, durante uma solenidade no Clube da Aeronáutica no Rio de Janeiro, Bolsonaro disse que “para o crime que ele [o então presidente FHC] está cometendo contra o país, sua pena deveria ser o fuzilamento". Foi a segunda vez que Bolsonaro ameaçou o ex-presidente: em 1999, na entrevista à Band citada anteriormente, ele disse que seria impossível mudar o Brasil por meio do voto. Segundo ele, “você só vai mudar, infelizmente, quando nós partirmos para uma guerra civil aqui dentro. E fazendo um trabalho que o regime militar não fez. Matando 30 mil, e começando por FHC”. O candidato do PSL se defendeu dizendo que era “força de expressão”.

No começo de setembro, Bolsonaro, em evento de campanha eleitoral em Rio Branco, capital do Acre, utilizou um tripé de câmera para imitar uma arma de fogo depois de dizer: “Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre, hein? Vamos botar esses picaretas para correr do Acre. Já que eles gostam tanto da Venezuela, essa turma tem de ir pra lá. Só que lá não tem nem mortadela, hein, galera. Vão ter de comer é capim mesmo”. Bolsonaro mais uma vez disse que a expressão foi uma “figura de linguagem, uma hipérbole”.

Outro lado. A reportagem entrou em contato com a assessoria do candidato para que ele pudesse se posicionar em relação às checagens. Até a última atualização, no entanto, Aos Fatos não recebeu nenhuma resposta.


FALSO

No Brasil, você não pode falar em “mais ricos”, tá todo mundo sufocado. — Jair Bolsonaro, em entrevista ao SBT

Tanto nas pesquisas domiciliares, como a Pnad Contínua do IBGE, quanto nos estudos que combinam os dados coletados da Pnad indicam aumento da riqueza concentrada no grupo mais rico da população. Por isso, a declaração de Bolsonaro foi considerada FALSA.

Existem várias formas de medir concentração de riqueza de um país. Nas pesquisas domiciliares como a Pnad, feita pelo IBGE consegue-se capturar bem a renda do trabalho, mas a renda do capital (investimentos financeiros, aluguel de imóveis entre outros). Para entender a concentração de renda do capital, a melhor fonte são os dados da Receita Federal. Existem ainda estudos que calculam a situação de renda combinando as duas fontes de dado: Receita Federal e Pnad.

De acordo com o levantamento do pesquisador Marc Morgan da Escola de Economia de Paris, orientando do economista francês Thomas Piketty, os 10% mais ricos da população brasileira em 2015 acumulavam 55% da renda nacional, ante 54% em 2001. Na outra ponta, os 50% mais pobres acumulavam 12% da renda nacional em 2015, um ponto percentual a mais do que em 2001. O estudo usou dados da Pnad e da Receita Federal.

Os dados da Pnad de 2017, também mostram a alta concentração da renda. Em 2017, 10% da população brasileira concentrou 43% da renda nacional. O grupo de 1% mais ricos da população brasileira, com rendimento médio mensal de R$ 27.213, recebia em 2017, em média, 36,1 vezes o rendimento da fatia da população dos 50% mais pobres — com rendimento médio mensal de R$ 754.

Segundo o Relatório sobre a Distribuição da Renda e da Riqueza da População Brasileira divulgado pelo Ministério da Fazenda em 2016, com dados da Receita Federal de 2015, os 5% mais ricos do país, que correspondem a 1,3 milhão de pessoas, detinham 28% de toda a renda e riqueza declarada IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física). É média de patrimônio dos declarantes entre os 5% mais ricos era de R$ 1,307 milhões, com rendimento médio anual de R$ 543,5 mil. Se considerarmos os 0,1% mais ricos, que correspondem a 26,7 mil pessoas, eles acumulam 6% de toda a renda e riqueza declarada no IRPF no Brasil, com um média de patrimônio declarado de R$ 15,1 milhões e uma renda anual média de R$ 5,834 milhões.

Outro lado. A reportagem entrou em contato com a assessoria do candidato para que ele pudesse se posicionar em relação às checagens. Até a última atualização, no entanto, Aos Fatos não recebeu nenhuma resposta.


EXAGERADO

Em nenhum momento ele [General Mourão] falou em acabar com o 13º. — Jair Bolsonaro, em entrevista ao SBT

Por mais que o candidato à Vice-Presidência da República General Mourão (PRTB) não tenha dito que o 13º salário deveria acabar, ele já criticou o benefício, dizendo que era uma “jabuticaba” e que só no Brasil “que a pessoa entra em férias e ganha mais”.

A primeira vez o 13º foi alvo de Mourão foi no final de setembro, quando disse que “temos algumas jabuticabas que a gente sabe que é uma mochila nas costas de todo empresário. Jabuticabas brasileiras: 13º salário. (...) É complicado, e o único lugar em que a pessoa entra em férias e ganha mais é aqui no Brasil”.

No começo de outubro, Mourão também disse que “o 13º eu simplesmente disse que tem que ter planejamento, entendimento de que é um custo. Na realidade, se você for olhar, seu empregador te paga 1/12 a menos [por mês]. No final do ano, ele te devolve esse salário”.

Vale ressaltar, no entanto, que Mourão, após ser desautorizado por Jair Bolsonaro, também disse que o 13º “não pode acabar. O que eu mostrei é que tem que haver planejamento. Você vê empresa que fecha porque não tem como pagar. O governo tem que aumentar imposto, e agora já chegou no limite e não pode aumentar mais nem emitir títulos”. Para ele, para mexer nos benefícios, “só se houvesse um amplo acordo nacional para aumentar os salários. Os salários são muito baixos, né? Você olha a nossa faixa salarial e ela é muito ruim”, concluiu, sobre o tema.

Outro lado. A reportagem entrou em contato com a assessoria do candidato para que ele pudesse se posicionar em relação às checagens. Até a última atualização, no entanto, Aos Fatos não recebeu nenhuma resposta.


VERDADEIRO

Tem mais [emprego nos Estados Unidos] com o novo governo [Trump]. — Jair Bolsonaro, em seu perfil no Facebook

Bolsonaro acerta ao dizer que o governo Trump aumentou o emprego. A declaração, que já foi checada por Aos Fatos quando Bolsonaro foi o entrevistado do programa Roda Viva, da TV Cultura, foi feita durante a argumentação do candidato para que o Brasil passe a se relacionar melhor com os Estados Unidos, para que possamos praticar intercâmbio de políticas.

Segundo o Bureau of Labor Statistics, do Ministério do Trabalho Americano, o último índice de desemprego de pessoas com 16 anos ou mais estimado nos Estados Unidos foi de 3,7%, o menor desde janeiro de 2008, quando começa a série histórica. Desde que Trump assumiu, em janeiro de 2017, o desemprego caiu 1,1%.

No governo Obama (2009-2016), o desemprego tinha batido o recorde de fevereiro de 2008 (quando 4,9% da população estava desempregada). Em junho de 2016, o desemprego voltou a 4,9% e em novembro baixou para 4,6%. O desemprego oscilou até janeiro de 2017, quando Trump assumiu a Casa Branca e a taxa era de 4,8%. Desde esta época, no entanto, o desemprego só vem diminuindo.

Segundo o New York Times, em reportagem de maio, quando Trump bateu o recorde da taxa de desemprego, esse resultado pode ser explicado parcialmente pela “contração na força de trabalho”, ou seja, pessoas que saíram da força de trabalho e não somente pelo aumento do emprego no país.

Colaborou Ana Rita Cunha


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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