No 2º turno, troca de ataques entre Paes e Crivella tem alegações falsas e imprecisas

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No segundo turno da disputa pela Prefeitura do Rio, Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Crivella (Republicanos) fizeram alegações falsas, imprecisas ou mesmo contraditórias ao trocarem ataques e defenderem suas gestões à frente do município. Confira o que checamos a partir de declarações deles em entrevistas à imprensa, lives nas redes sociais e trechos do horário eleitoral gratuito na TV.


Eduardo Paes (DEM)

FALSO

Eu consegui fazer a concessão do setor privado de todo o saneamento da zona oeste da cidade - entrevista para O Globo em 18/11

A declaração é FALSA, pois a concessão mencionada por Paes não engloba toda a zona oeste carioca.

Para fins de administração, a Prefeitura do Rio divide a cidade em cinco áreas de planejamento. Em 2012, ela concedeu à iniciativa privada o serviço de coleta e tratamento de esgoto na área de planejamento 5 (AP-5), que engloba 22 bairros da zona oeste, entre eles alguns dos maiores da cidade, como Campo Grande e Santa Cruz. A concessão é operada pela empresa Zona Oeste Mais Saneamento.

No entanto, os bairros da área de planejamento 4 (AP-4), como Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e Jacarepaguá, também fazem parte da zona oeste. Estas regiões enfrentam historicamente problemas com a falta de saneamento. Em 2015, duas empresas chegaram a elaborar estudos para a prefeitura sobre a coleta e o tratamento de esgoto na AP-4. Três anos depois, já sob Crivella, a prefeitura anunciou o lançamento de uma parceria público-privada para a concessão do sistema de esgoto na região.

Até agora, a concessão não saiu do papel. O sistema de esgoto na AP-4 continua nas mãos da companhia estadual Cedae. Em junho passado, a companhia assinou termo de compromisso com o Ministério Público fluminense se comprometendo a adotar medidas para melhorar o tratamento de esgoto na região.


FALSO

Das 50 propostas de seu plano de governo, [Crivella], só cumpriu uma - inserção de programa eleitoral e vídeo no Twitter

A declaração é FALSA. Uma reportagem publicada pelo Aos Fatos em 25 de setembro mostrou que Crivella havia cumprido, até aquele momento, 10 das 50 promessas feitas no plano de governo entregue à Justiça Eleitoral em 2016. A avaliação do cumprimento das propostas foi feita a partir de informações de dados públicos da Prefeitura do Rio.


IMPRECISO

A cúpula da prefeitura e o próprio Crivella faziam parte do esquema [dos “guardiões”] - programa eleitoral de 23/11

A declaração é IMPRECISA, porque, de acordo com as reportagens que denunciaram a ação dos “guardiões do Crivella”, não há informações de que o prefeito e “a cúpula da prefeitura” participaram ativamente do caso.

A ação dos “guardiões do Crivella” foi revelada em reportagem da TV Globo. Em um grupo de WhatsApp com este nome, servidores públicos eram mobilizados para intimidar não só jornalistas que reportavam problemas em hospitais municipais, como cidadãos que falavam com a imprensa sobre esta situação.

Um dos grupos de WhatsApp nos quais as ações de intimidação eram organizadas era chamado justamente de “guardiões do Crivella”. O próprio Crivella e diversos secretários municipais integravam o grupo. No entanto, a reportagem informou que, nas mensagens às quais teve acesso, “não foi possível ver a manifestação de nenhuma dessas pessoas no grupo”.

De acordo com o Extra, Crivella confirmou que fazia parte do grupo. “Eu fui incluído nesse grupo, não postava, mas agradecia. Quando eu entrava, não via nada orquestrado contra a imprensa”, disse.


VERDADEIRO

A fila do Sisreg triplicou desde que ele [Crivella] se tornou prefeito - programa eleitoral de 20/11

A declaração é VERDADEIRA. O Sisreg (Sistema de Regulação) é o sistema da Prefeitura do Rio que controla as listas de espera para serviços de saúde na rede municipal carioca. A prefeitura disponibiliza na internet a lista de espera do Sisreg Ambulatorial, com pedidos para consultas e exames. Nesta quarta-feira (25), a fila do Sisreg tinha 386.953 pedidos — praticamente três vezes o número de 2 de janeiro de 2017 (132.541), conforme foi publicado no Diário Oficial do Município.

Por outro lado, houve queda no número de pedidos devolvidos, dado que mostra as solicitações que voltam para as unidades de saúde porque precisam de mais informações, como atualização do quadro clínico do paciente. A quantidade de pedidos devolvidos caiu de 529.434 em janeiro de 2017, segundo dados da prefeitura, para 283.509 em novembro deste ano.


Marcelo Crivella (Republicanos)

FALSO

O PSOL, dizem, vai tomar conta da secretaria de Educação [se Paes vencer] - Crivella em live no Facebook

A declaração é FALSA, porque Crivella não apresentou nenhum fundamento que servisse de base para a sua alegação e os citados já desmentiram publicamente a suposta combinação.

Um dos principais nomes do PSOL no Rio, o deputado federal Marcelo Freixo, chegou a anunciar o que chamou de “voto crítico” em Paes para que Crivella não seja reeleito. No entanto, Freixo disse que o PSOL fará oposição ao político do DEM caso ele seja eleito.

"Isso não significa apoio ao que representa o Eduardo. O PSOL tem que fazer oposição a ele na Câmara, tem que fazer a sua agenda e cobrar do prefeito o cumprimento de cada item”, disse Freixo, segundo o Extra.

No dia 18, o PSOL do Rio divulgou nota oficial dizendo que a posição do partido é que “o voto em Paes (...) é um veto a Crivella e ao bolsonarismo”, mas que “nunca fizemos e não faremos parte de uma eventual gestão de Paes”.

O vereador Tarcísio Motta rebateu em seu Twitter alegações de que seria o secretário de Educação em uma eventual gestão Paes. “Do Paes eu só recebi mesmo foi bomba na cabeça quando lutava junto com os profissionais de educação”, escreveu.

Paes, por sua vez, disse ser “mais fácil que os vereadores do Republicanos do Crivella” o apoiem do que os do PSOL, noticiou o UOL.

“Alguém duvida que o PSOL será oposição, caso eu seja eleito? Não, né. Mas, alguns estão aí, declarando voto anti-Crivella, em meu favor", declarou o candidato do DEM, que também desmentiu a aliança em seu Instagram.

Mesmo sem qualquer indício de que o PSOL vá ocupar cargo em uma eventual gestão de Paes, Crivella e aliados, como o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), têm tentado associar o ex-prefeito e o PSOL na campanha do segundo turno. Aliados do prefeito também foram flagrados distribuindo panfletos associando Paes a Freixo.


EXAGERADO

A pandemia, então, foi um grande desafio. E com 18 mil equipamentos que compramos um ano antes, conseguimos salvar mais de 130 mil pessoas que foram atendidas nas nossas unidades. - programa eleitoral de 20/11

A declaração é EXAGERADA, porque os equipamentos comprados no ano passado chegaram já durante a pandemia, em diferentes levas entre maio e julho, segundo informações da própria prefeitura.

A compra dos equipamentos citados por Crivella foi firmada no segundo semestre de 2019. Foram oito contratos com a empresa China Meheco, com um valor total pouco superior a R$ 300 milhões, para a aquisição de respiradores, tomógrafos e aparelhos de anestesia, entre outros tipos de equipamentos.

A chegada dos equipamentos foi amplamente divulgada no site oficial da Prefeitura do Rio. Texto publicado no dia 12 de maio falava da “primeira de seis operações entre a China e a cidade (...) para transportar 160 toneladas de aparelhos médicos”. Naquele dia, segundo dados do Painel Rio Covid-19, mantido pelo município, a cidade tinha 10.619 casos confirmados da doença e 1.172 mortes devido à Covid-19.

Outras cargas chegaram de navio, em 18 de maio, e de avião, em 3 de junho. O “sexto e último voo com equipamentos comprados pela Prefeitura na China” pousou no Rio em 1º de julho, dia em que a cidade registrava 57.879 casos confirmados de Covid-19 e 6.618 mortes decorrentes da doença.

Além disso, o número de pessoas “salvas”, segundo Crivella, é superior à quantidade de pessoas recuperadas da Covid-19 no Rio. Segundo o Painel Rio Covid-19, até o boletim das 18h de terça-feira (24), a cidade tinha 116.797 recuperados da doença de um total de 132.349 casos confirmados.


CONTRADITÓRIO

Não vai voltar o pedágio da Linha Amarela - horário eleitoral da noite de 23/11

A declaração é CONTRADITÓRIA, porque Crivella afirma que o pedágio da Linha Amarela “não vai voltar”, mas anteriormente disse que deixaria o pedágio em apenas um sentido.

Em 19 de outubro, Crivella visitou a praça de pedágio da Linha Amarela e afirmou, segundo o G1: “Nossa proposta para a linha amarela é manter o pedágio no ano que vem a R$ 4,30, que é o mesmo que se cobra na Ponte Rio-Niterói, que tem o mesmo tamanho e o mesmo fluxo de automóveis. Nós, até o final da pandemia, não vamos cobrar pedágio, mas a partir do ano que vem, os nossos planos são estes: manter esta via impecável como está e cobrando um pedágio justo, de R$ 4,30”.

Crivella reafirmou o compromisso de um pedágio neste valor na Linha Amarela em agenda de campanha na segunda-feira (23), segundo nota divulgada à imprensa por sua campanha via e-mail.

A prefeitura assumiu a gestão da Linha Amarela em setembro, após uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Sob a concessionária Lamsa, era cobrado um pedágio de R$ 7,50 em cada um dos dois sentidos da via.


IMPRECISO

[Eduardo Paes] foi denunciado pela Odebrecht, pela Andrade Gutierrez, pela Carioca Engenharia e pela OAS. - entrevista à CNN em 18/11

A declaração é IMPRECISA. Paes foi citado em delações feitas por executivos da Odebrecht e da OAS, mas não há informações de que tenha sido mencionado em colaborações da Andrade Gutierrez ou da Carioca Engenharia.

Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, disse ter repassado R$ 25 milhões em caixa dois para a campanha eleitoral de Paes em 2012, segundo o jornal O Globo. Em setembro, a defesa do ex-prefeito obteve na Justiça o acesso à delação.

Em 2017, executivos da OAS e da Carioca Engenharia negaram que Paes tivesse solicitado propina, noticiou O Globo.

O nome de Paes não aparece entre os entregues pela Andrade Gutierrez na delação homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2016. O suposto envolvimento direto de Paes com acordos criminosos envolvendo a Andrade Gutierrez e outras empreiteiras foi citado, no entanto, por Alexandre Pinto, seu ex-secretário de Obras. Em vídeo no seu canal no YouTube, Paes diz que “as sentenças que condenam o Alexandre Pinto deixam muito claro que ele era o chefe desse esquema criminoso.”

Já no caso da Odebrecht, dois delatores acusam Paes de ter recebido US$ 5,75 milhões no exterior. A investigação sobre o caso segue em aberto.

Outro lado. Aos Fatos entrou em contato com as duas campanhas nesta quarta-feira (25), mas não obteve retorno até a publicação da checagem.

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