🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Junho de 2020. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Não é João Pedro jovem que aparece em fotos segurando armas de fogo

Por Luiz Fernando Menezes

3 de junho de 2020, 13h54

Não é João Pedro Mattos Pinto, adolescente morto durante operação policial em São Gonçalo (RJ), quem aparece segurando armas de fogo em uma série de fotos reproduzidas por publicações nas redes sociais (veja aqui). Além de a fisionomia ser diferente, segundo constatou Aos Fatos ao comparar as imagens, o delegado que investiga o caso já afirmou que a vítima era inocente e não tinha envolvimento com bandidos.

Em 18 de maio, João Pedro foi baleado dentro da casa de seus tios, no Complexo do Salgueiro. Segundo testemunhas, ele brincava com outros jovens no quintal no momento em que teve início uma operação das polícias Civil e Federal na localidade. O grupo correu para dentro do imóvel quando os agentes arrombaram o portão e invadiram a casa atirando. Os policiais alegam que bandidos com quem trocavam tiros pularam o muro da residência e que também teriam feito disparos.

O laudo cadavérico aponta que João Pedro foi atingido nas costas por projétil calibre 556, o mesmo usado em armas de policiais envolvidos na ação, mas a confirmação ainda depende do resultado de análise de confronto balístico. Os agentes já foram afastados de atividades operacionais e o caso segue em investigação pela Polícia Civil.

Ao atribuir as fotos de maneira enganosa à vítima, publicações no Facebook buscam justificar a ação da polícia. Até a tarde desta quarta-feira (3), essas postagens acumulavam ao menos 5.000 compartilhamentos e foram marcadas por Aos Fatos com o selo FALSO na ferramenta de verificação da rede social (saiba como funciona).


FALSO

Taí o João Pedro inocente do fantástico de domingo passado.

Publicações que circulam nas redes sociais enganam ao afirmar que um adolescente que aparece em uma série de fotos segurando armas de fogo seria João Pedro Mattos Pinto, 14 anos, morto durante operação policial no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ), no dia 18 de maio. Uma comparação entre as imagens de ambos evidencia que as fisionomias dos jovens são diferentes.

Como pode ser verificado aqui, o formato do rosto do garoto nas imagens reproduzidas pelas postagens (à esquerda) é mais arredondado, os olhos, mais espaçados, a sobrancelha é mais fina e a testa é menor do que a de João Pedro (à direita).

Em busca reversa, Aos Fatos verificou que as fotos usadas nos posts aparecem em uma publicação de 1º de maio deste ano da página de Facebook Vila Norma, que compartilha imagens enviadas por seguidores. A legenda indica apenas que o adolescente retratado seria da Cohab de Realengo, um conjunto habitacional no bairro da Zona Oeste do Rio.

Além disso, fatos revelados pela imprensa sobre a investigação, como o depoimento de policiais envolvidos, de familiares e testemunhas, não apontaram qualquer envolvimento de João Pedro com bandidos, como sugerem as postagens. Inclusive, o titular da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo, Allan Duarte, que investiga o caso, afirmou que “de acordo com o apurado, a vítima era inocente, não registrava passagens anteriores”.

O adolescente foi morto com um tiro nas costas dentro da casa dos tios no Complexo do Salgueiro durante uma operação conjunta da Polícia Federal e da Polícia Civil para cumprir mandados de busca e apreensão contra líderes de uma facção criminosa da região. Segundo testemunhas, João Pedro e outros jovens brincavam na área externa da residência quando policiais arrombaram o portão e começaram a atirar. Eles tentaram se refugiar dentro da casa, onde o menino acabou sendo atingido.

De acordo com a polícia, os agentes entraram na casa porque bandidos com quem trocavam tiros teriam pulado o muro da residência para escapar. Os agentes afirmaram em depoimento que os criminosos também estavam armados e fizeram disparos naquele momento.

No imóvel, a perícia encontrou ao menos 70 marcas de tiros em três cômodos — a maioria feita de fora para dentro. O projétil que atingiu o menino era de calibre 556, o mesmo de armas usadas por policiais que estavam na ação. A confirmação da autoria do disparo, porém, ainda depende de resultado de confronto balístico pedido pela Polícia Civil.

A morte de João Pedro é investigada pela Corregedoria da PF e pela DHNSGI (Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí). Três policiais civis envolvidos na ação foram afastados de atividades operacionais em razão da investigação.

Referências:

1. G1 (Fontes 1 e 2)
2. Extra
3. UOL (Fontes 1 e 2)


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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