Uma foto da vereadora Marielle Franco (PSOL) com Marcello Siciliano (PHS), colega dela na Câmara Municipal do Rio, tem sido compartilhada nas redes sociais como se ele fosse um dos presos acusados do assassinato da parlamentar, o que não é verdade.
O vereador foi apontado por uma testemunha como um dos mandantes do crime e foi alvo de operações de busca e apreensão em 2018. Essa linha de investigação perdeu força com mudanças de versão por parte do denunciante, um ex-PM que teria envolvimento com milicianos, mas ainda não foi totalmente descartada, segundo o delegado titular da DH (Delegacia de Homicídios), Giniton Lages, que investiga o caso.
Ainda assim, como a foto não mostra Ronnie Lessa nem Élcio Vieira de Queiroz, os dois presos sob acusação de matar Marielle, as publicações analisadas, denunciadas ao Aos Fatos por usuários do Facebook e do WhatsApp, foram classificadas com o selo FALSO (entenda como funciona).
Tá ficando legal isto. Agora aparece foto da santinha Marielle de rostinho colado com um dos seus assassinos, que era guarda costas do presidente da Mangueira, preso por crimes diversos, as digitais da sua assessora aparece na maçaneta do Cobalt usado na execução. Êita, tá melhor que novela da Globo.
A imagem que vem sendo compartilhada com informações falsas foi postada pelo próprio vereador Marcello Siciliano em suas redes sociais logo após a morte de Marielle, em março de 2018.
Siciliano foi apontado como um possível mandante do assassinato em uma reportagem do jornal O Globo de maio de 2018. O vereador foi investigado no inquérito que apura o crime e policiais chegaram a cumprir mandados de busca e apreensão em sua casa e no seu gabinete na Câmara Municipal. De acordo com a versão de uma testemunha, a morte de Marielle teria sido encomendada por ele em razão de uma disputa fundiária com a vereadora em uma região controlada por milicianos na Zona Oeste que seria feudo eleitoral do parlamentar do PHS.
Siciliano depôs em dezembro de 2018 e negou as alegações da testemunha. Em janeiro deste ano, ele pediu ajuda da Anistia Internacional dizendo sofrer pressões para assumir a autoria do assassinato. Há suspeitas de que os delegados federais que apresentaram o PM como testemunha contra o vereador teriam ligações com adversários políticos de Siciliano na zona oeste do Rio, como o ex-deputado estadual e ex-conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado), Domingos Brazão, que hoje está preso.
Horas após a prisão dos ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz no dia 12 de março, Siciliano gravou um vídeo dizendo que segue na expectativa “para que esse crime cometido contra a Marielle e o Anderson seja solucionado de forma correta para que todos os envolvidos paguem e que eu, definitivamente, possa tocar minha vida”. A polícia não divulgou nenhuma ligação entre o vereador e os dois PMs até o momento.
Mesmo após a prisão dos dois acusados, o delegado Giniton Lages, da Delegacia de Homicídios da Capital, disse que a hipótese do envolvimento de Siciliano e outro miliciano, Orlando de Curicica, como mandantes do crime não está totalmente descartada. Porém, ele não detalhou se existem indícios que vinculem os dois acusados presos ao vereador e ao miliciano.
Também é falsa a informação que Siciliano teria sido guarda-costas do presidente da escola de samba Mangueira, o que nunca ocorreu.
Já a informação que “as digitais da assessora de Marielle aparecem na maçaneta do Cobalt usado na execução” é verdadeira, mas foi descontextualizada: segundo a polícia, a assessora quase entrou por engano no carro dos criminosos, que já estava ligado quando Marielle e sua equipe se dirigiam ao automóvel.
Outras postagens denunciadas por leitores também vêm acompanhadas de uma outra foto que já foi checada anteriormente por Aos Fatos. Segundo a peça de desinformação, a foto retrataria Marielle e Marcinho VP, ex-traficante com a qual supostamente teria sido casada.
A foto, que foi publicada na internet originalmente em agosto de 2005, não retrata nenhum dos dois.