🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Agosto de 2018. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Jornal paranaense não publicou que Moro 'deixou o Brasil em escombros'

Por Alexandre Aragão

15 de agosto de 2018, 18h20

Uma reportagem da Gazeta do Povo, do Paraná, foi distorcida para atribuir ao jornal a afirmação de que o juiz federal Sergio Moro “gerou desemprego e deixou o Brasil em escombros”. Na verdade, a reportagem do jornal paranaense trata da venda de duas plataformas incompletas que estavam sendo construídas pela Engevix, empresa envolvida na Lava Jato. A construtora entrou em recuperação judicial e não conseguiu concluir as obras. A matéria sequer cita o nome de Moro.

A informação distorcida é compartilhada na internet desde janeiro, quando publicações como o blog Esmael Moraes e o site Urbs Magna a postaram. Desde então, acumula pouco mais de 5.000 compartilhamentos, de acordo com a plataforma de monitoramento Crowdtangle. A informação enganosa se disseminou por várias outras fontes e voltou a circular nesta semana. A afirmação falsa também foi reproduzida por páginas como Brasil 247 e o blog Luíz Müller, e o conteúdo foi denunciado como enganoso por usuários do Facebook (entenda como funciona).

Veja, abaixo, o que Aos Fatos classificou como DISTORCIDO.


DISTORCIDO

'Moro deixou o Brasil em escombros', diz jornal de Curitiba

O título do blog Luíz Müller tira de contexto uma reportagem publicada em janeiro pelo colunista Lúcio Vaz, da Gazeta do Povo. O texto fala da venda de duas carcaças de plataformas de petróleo inacabadas. As plataformas estavam sendo construídas no estaleiro Rio Grande pela Ecovix, braço de construção naval da Engevix, que entrou em recuperação judicial após a Operação Lava Jato e não conseguiu cumprir o contrato firmado com uma subsidiária da Petrobras, a Tupi BV.

Os textos que atribuem a declaração falsa à Gazeta do Povo misturam trechos da reportagem original com opiniões e dados tirados de contexto. As publicações receberam o selo de DISTORCIDO por misturar elementos factualmente correstos, que constam da reportagem do jornal paranaense, com elementos que não fazem parte do seu repertório.

“Até a vetusta Gazeta do Povo, blog de extrema-direita, reconhece que o juiz Sergio Moro e sua Lava Jato destruíram milhares de empregos e deixaram escombros em todo o país”, diz trecho do post de Esmael Morais. O blog Luíz Müller afirma que, no caso reportado pela Gazeta do Povo, “houve um prejuízo bilionário maior do que a Lava Jato diz ter recuperado em quase 4 anos de operação” — informação falsa, que também não está no texto do jornal paranaense.

Tanto o texto do blog Esmael Moraes como o do Brasil 247 dizem que 24 mil funcionários do estaleiro ficaram desempregados. Essa é outra informação distorcida. O que a reportagem da Gazeta do Povo afirma é que esse foi o número de trabalhadores que atuaram no auge da construção e que, hoje, há cerca de 1.500 funcionários empregados no estaleiro.

Na reportagem, Vaz relata a disputa entre o Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande e a Petrobras em torno do destino final das carcaças das plataformas. Ele escreve que “as consequências da Lava Jato impediram a entrega dos três primeiros dos oito cascos [de plataformas de petróleo] contratados” pela Petrobras junto à Engevix, mas não atribui “culpa” a Moro, que sequer é citado.

De um lado o sindicato dos metalúrgicos defende que seria mais vantajoso terminar de construir as plataformas. Na reportagem, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Rio Grande (RS), Benito Gonçalves afirmou: “é uma lástima, um crime de lesa-pátria. Compraram o aço a preço de ouro e estão vendendo a preço de lixo”. Ele também não citou o juiz Moro.

Em nota à Gazeta do Povo, a Petrobras disse que optou por vender as carcaças como sucata e explicou que, “por questões de ordem técnica e econômica, a alternativa de aproveitar os blocos já fabricados não é a que melhor atende os interesses da Petrobras e de seus parceiros”.

A estatal também informou que o contrato celebrado com a Ecovix, subsidiária da Engevix responsável pela obra, foi encerrado em dezembro de 2016 “em razão dos inadimplementos contratuais e atrasos da Ecovix, que se mostrou incapaz de concluir as obras para as quais fora contratada”.

Outro lado. Aos Fatos entrou em contato com os blogs Esmael Morais e Luíz Müller, mas não obteve retorno até a publicação desta checagem.

O site Brasil 247, por sua vez, disse ter reproduzido o conteúdo do blog Esmael Morais, e afirmou: "Não se trata, portanto, de um conteúdo criado pelo Brasil 247, mas de reprodução de análise veiculada em outro veículo, devidamente informada ao público".

O Brasil 247 diz ainda que o pedido de informações enviado pela reportagem de Aos Fatos para se posicionar em relação à publicação "é um sinal de retaliação e também de que a agência Aos Fatos não tem qualquer interesse em melhorar o ambiente da informação no Brasil – mas apenas o de policiar determinados veículos de comunicação".

Segundo a edição do Brasil 247, "causa estranheza ao 247 que logo após a notificação extrajudicial encaminhada à agência Aos Fatos surja um pedido de informações sobre uma publicação veiculada em janeiro de 2018". Aos Fatos não havia recebido qualquer notificação extrajudicial até a última atualização desta reportagem.

"Registramos, por fim, que o Brasil 247 responsabilizará a agência Aos Fatos por qualquer dano causado à imagem do portal ou de seus colaboradores, ou, ainda, por qualquer tentativa de censura ou de penalidade que reduza o alcance de suas publicações em redes sociais, como o Facebook", disse ainda.

Veja aqui a íntegra da resposta do site.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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