É falso que Vai-Vai recebeu R$ 2,1 milhões via Lei Rouanet para desfile de 2024

Por Luiz Fernando Menezes

15 de fevereiro de 2024, 13h12

Não é verdade que a Vai-Vai, escola de samba que retratou policiais como demônios em uma de suas alas do desfile do Carnaval de São Paulo deste ano, recebeu R$ 2,1 milhões via Lei Rouanet, como afirmam publicações nas redes. Ainda que tenha solicitado o montante e tenha tido seu projeto aprovado pelo Ministério da Cultura, a agremiação não conseguiu captar o dinheiro. Não houve, portanto, verba da lei de fomento no financiamento do desfile deste ano, conforme afirmou a própria Vai-Vai em nota.

A peça de desinformação acumulava mais de dez mil curtidas no Instagram e centenas de compartilhamentos no Facebook até a tarde desta quinta-feira (15).

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Selo falso

Escola que retratou PMs como diabos recebeu R$ 2,1 milhões da Lei Rouanet.

Foto do desfile de 2024 mostra policial com asas e chifres de demônio; abaixo, legenda diz que Vai-Vai foi financiada com dinheiro público

São enganosas as publicações que afirmam que a escola de samba Vai-Vai, do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo, recebeu R$ 2,1 milhões via Lei Rouanet para o desfile de 2024. Conforme é possível verificar no Versalic, sistema do Ministério da Cultura, a agremiação teve um projeto aprovado para captar recursos via lei de fomento, mas não conseguiu arrecadar o valor mínimo (veja abaixo).

Print da base de dados da Lei Rouanet mostra que desfile da Vai-Vai solicitou R$ 2,19 milhões, mas não conseguiu captar nenhum valor
Sem caixa. Vai-Vai foi autorizada a captar R$ 2,1 milhões para seu desfile, mas não conseguiu arrecadar nada (Reprodução)

A informação incorreta foi publicada inicialmente na coluna de Igor Gadelha, no Metrópoles, na última quarta-feira (14), em texto intitulado “Escola que retratou PMs como diabos recebeu R$ 2,1 mi da Lei Rouanet”. Horas depois, no entanto, a reportagem foi atualizada e teve seu título alterado para “Governo autorizou R$ 2,1 mi a escola que satirizou PMs via Lei Rouanet”.

Conforme consta no próprio texto, a Vai-Vai explicou que “a agremiação não usou os recursos no desfile de 2024 porque não conseguiu arrecadar o mínimo exigido pela Lei Rouanet, de 20% do montante autorizado pelo governo”. A legislação de fato determina que o projeto só pode começar a movimentar os recursos se captar esse valor mínimo. A escola, portanto, deveria ter conseguido ao menos R$ 439,8 mil para poder sacar o dinheiro, o que não ocorreu.

Mesmo após a correção do Metrópoles, no entanto, usuários e políticos continuaram disseminando a alegação enganosa para criticar a escola, o governo federal e a própria Lei Rouanet.

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Polêmica. A Vai-Vai escolheu homenagear os 40 anos da cultura Hip Hop no Brasil em seu enredo do Carnaval 2024. Uma das alas, intitulada “Sobrevivendo ao Inferno” — referência ao álbum de mesmo nome do Racionais MC’s — gerou polêmica nas redes por retratar policiais como figuras demoníacas.

O Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo) emitiu uma nota repudiando o desfile da escola, alegando que ele desrespeitava as forças de segurança e demonizava a polícia. Deputados também enviaram ao governo de São Paulo um ofício para pedir que a agremiação não receba mais verba pública.

Em nota, a Vai-Vai disse que “a ala retratada no desfile de sábado, da escola de samba Vai-Vai, à luz da liberdade e ludicidade que o Carnaval permite, fez uma justa homenagem ao álbum e ao próprio Racionais MCs, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação”.

A escola ficou em oitavo lugar do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo, com 269,4 pontos. A campeã foi a Mocidade Alegre, com 270 pontos, que desfilou com o enredo “Brasileia Desvairada: a Busca de Mário de Andrade por um País”.

Referências:

1. Ministério da Cultura
2. Metrópoles (1 e 2)
3. Portal do Incentivo
4. Planalto
5. CNN Brasil (1 e 2)
6. UOL
7. Exame

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