Não é verdade que o governo do Rio Grande do Sul está exigindo que voluntários apresentem documentos de habilitação para pilotar barcos e jet-skis em missões de resgate, como alegam publicações nas redes. Em nota, a Brigada Militar (a PM gaúcha) negou que esteja realizando qualquer tipo de fiscalização similar durante as operações de salvamento das vítimas da enchente no estado.
As publicações enganosas acumulavam mais de meio milhão de curtidas no Instagram até a tarde desta terça-feira (7), além de centenas de compartilhamentos no Facebook. A peça de desinformação também circula no WhatsApp, plataforma em que não é possível estimar o alcance dos conteúdos (fale com a Fátima).
Tinha um monte de gente ajudando lá em Canoas, botando barco na água. Agora, estão proibindo em boa parte da cidade, da galera colocar barco na água. Estão pedindo autorização, vê se tem cabimento um negócio desses. Estão pedindo habilitação, arrais das pessoas que estão indo lá de jet-ski, estão pedindo arrais para as pessoas que têm barco
Publicações nas redes mentem ao afirmar que a Brigada Militar e o governo do Rio Grande do Sul estariam impedindo que donos de jet-skis e barcos ajudassem no resgate das vítimas das enchentes no estado. Segundo os posts, as autoridades estariam exigindo dos condutores o Arrais, documento necessário para conduzir embarcações.
Em nota publicada no X (ex-Twitter), a Brigada Militar negou que esteja notificando condutores e recolhendo veículos aquáticos (veja abaixo). A corporação ainda reforçou que “toda a ajuda é bem-vinda”.
🚨🚨🚨 Atenção!!! pic.twitter.com/FOuE21tT61
— Brigada Militar-RS (@brigadamilitar_) May 5, 2024
O subcomandante-geral da Brigada Militar, coronel Douglas Soares, também desmentiu em vídeo publicado no Instagram do governo gaúcho que a corporação esteja realizando operações de fiscalização e apreensão. A informação foi reforçada pelo comandante-geral da Brigada Militar, coronel Cláudio Feoli.
Um dos principais disseminadores da peça de desinformação foi o humorista Nego Di, que tem 9,6 milhões de seguidores no Instagram. O vídeo em que o influenciador cita a falsa exigência de habilitação para operações de resgate acumula, sozinho, 17 milhões de visualizações na rede.
Aos Fatos procurou Nego Di por email e via redes sociais no início da tarde desta terça-feira (7) para que ele pudesse comentar a checagem, mas não houve retorno até a publicação do texto.
Contexto. Publicações começaram a circular nas redes no último final de semana com alegações de que a Brigada Militar do Rio Grande do Sul e o Exército estariam fazendo barreiras de fiscalização e impedindo a passagem de voluntários com barcos e jet-skis. Uma das publicações mostra o viaduto na entrada do bairro Mathias Velho, em Canoas, uma das cidades mais atingidas.
A informação foi amplamente disseminada por influenciadores, como o humorista Nego Di, que é gaúcho, indignado com a possibilidade de bloqueio que impedisse a passagem da ajuda humanitária.
As publicações diziam que tanto a Brigada Militar como o Exército estariam exigindo documentos dos veículos aquáticos e de condutores. A jornalista Cristina Ranzolin, da RBS TV, afiliada da Globo, publicou nas redes a nota dos militares gaúchos e apurou que, em alguns casos, os documentos de fato foram requeridos pelo Exército, mas não pela Brigada Militar.
Aos Fatos questionou o Comando Militar do Sul sobre a operação. Esta reportagem será atualizada caso haja resposta. A reportagem também indagou a Brigada Militar sobre as imagens, mas ainda não houve retorno.
Até o momento, 90 pessoas morreram em decorrência do desastre climático que atinge o Rio Grande do Sul. O estado investiga outras quatro mortes. Há 132 desaparecidos, 361 feridos e 155.741 desalojados. 388 municípios foram afetados pelas tempestades, e 336 estão em estado de calamidade pública.
Aos Fatos já desmentiu uma série de peças de desinformação sobre a crise, como as que alegavam que veículos com doações estariam sendo barrados ou que compartilhavam imagens de outros desastres como se fossem registros da catástrofe no estado gaúcho (veja aqui e aqui).
A disseminação de mentiras sobre o desastre nas redes fez com que a Polícia Civil do Rio Grande do Sul anunciasse a abertura de oito investigações contra pessoas que compartilharam informações falsas.
Esta peça de desinformação também foi desmentida pela Agência Lupa.
Este texto foi atualizado às 14h31 do dia 8 de maio de 2024 para incluir mais informações sobre o contexto em que a desinformação viralizou.