Enchente no Vale do Taquari, no RS, não foi causada por abertura de comportas de barragens

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Não é verdade que a enchente que atingiu o Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, tenha sido causada porque as comportas de três barragens da região foram abertas ao mesmo tempo. Segundo a administradora das hidrelétricas, nenhuma delas possui comportas capazes de controlar a vazão das represas. O governo estadual também afirmou que não há indícios de que as barragens tenham influenciado no volume da enchente que atingiu a região.

As peças que trazem essa alegação se baseiam em uma fala do apresentador Alexandre Garcia que, por sua vez, repercute um trecho do ofício enviado pela Prefeitura de Bento Gonçalves (RS) à administradora das barragens. Ao todo, as publicações enganosas acumulam mais de 21 mil curtidas no Instagram e 14 mil compartilhamentos no Facebook.


Selo falso

A tragédia no RS não foi só causas da natureza. 3 represas abriram as comportas ao mesmo tempo.

Trecho de fala de Alexandre Garcia é compartilhado junto com legenda que sugere que enchente foi causada pela abertura de comportas

Publicações têm viralizado nas redes com alegação enganosa de que a enchente que atingiu o Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, foi causada pela abertura de comportas de três barragens ao mesmo tempo. A região tem três hidrelétricas — Castro Alves, Monte Claro e 14 de Julho —, mas nenhuma delas possui comportas ou estruturas semelhantes que poderiam ser utilizadas para controlar o fluxo de água.

Conforme explicado pela Ceran (Companhia Energética Rio das Antas), que administra as estruturas, elas “não têm capacidade de armazenamento e nem de regular o fluxo do rio, pois todo o excedente de água passa por cima da barragem”.

Em nota enviada ao Aos Fatos, a Secretaria de Meio Ambiente e Infraestrutura do governo gaúcho disse que “no caso da barragem Castro Alves da Ceran, atingida pelo evento climático, não há evidências de que as barragens tenham influenciado no agravamento da enxurrada”.

A afirmação vai ao encontro do posicionamento da secretária Marjorie Kauffmann em entrevista à Rádio Independente no domingo (10). Segundo ela, as barragens possuem pequenas comportas que são “incapazes de controlar o fluxo de água naquela quantidade” e, por isso, a operação nas barragens não teria influência no desastre. A secretária aponta que o que houve foi um excesso excepcional de chuva que fez a água passar por cima da barragem.

Foto mostra barragem de Castro Alves com vazão normal
Hidrelétrica. Em situações normais, vazão da água da hidrelétrica de Castro Alves ocorre por meio de fio d’água (Reprodução/Ceran).

Linha do tempo. Desde o dia 4 de setembro, publicações nas redes sociais passaram a especular que as comportas das barragens na região do Vale de Taquari teriam sido abertas, o que teria contribuído para aumentar as enchentes que atingiram a região.

Prefeitos se organizaram para questionar a Ceran sobre o assunto e, na sexta-feira (8), a gestão de Bento Gonçalves (RS) encaminhou um ofício à empresa com perguntas sobre a enchente que atingiu a região. Um dos questionamentos foi se houve fechamento ou abertura de alguma comporta. Na tarde daquele dia, a Ceran publicou a nota na qual explicou que não havia comportas nas barragens. Aos Fatos entrou em contato com a prefeitura para questionar se a companhia respondeu as outras perguntas feitas no ofício, mas não recebeu retorno até a publicação desta checagem.

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No mesmo dia, o apresentador Alexandre Garcia repercutiu o envio do ofício feito pela Prefeitura de Bento Gonçalves no programa Oeste Sem Filtro: “É preciso investigar, que não foi só a chuva, a chuva foi a causa original, mas em governo petista foram construídas, (...) três represas pequenas que aparentemente abriram as comportas ao mesmo tempo”, disse.

Por mais que as hidrelétricas tenham sido, de fato, inauguradas durante a gestão petista e tenham recebido financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social), vale ressaltar que elas são administradas pela Ceran, uma empresa privada que tem investimento da CEEE-G (Companhia Estadual de Geração de Energia Elétrica).

A fala de Garcia passou, então, a ser compartilhada nas redes como se ele tivesse culpado o PT pela enchente. No sábado (10), o chefe da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias, disse no X (ex-Twitter), que determinou a “imediata instauração de procedimento contra a campanha de desinformação promovida pelo jornalista”.

Nesta segunda-feira (11), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), disse, sem citar o nome de Garcia, que a Polícia Federal tem conhecimento das fake news referentes à crise humanitária no Rio Grande do Sul e que “adotará providências previstas em lei”.

Contatado pelo Aos Fatos, Garcia disse que “se baseou na procuradoria da prefeitura de Bento Gonçalves” e que apenas pediu investigação sobre o caso. Ele não comentou as declarações de Messias e Dino.

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