Rogério Melo/PR

🕐 ESTA REPORTAGEM FOI PUBLICADA EM Novembro de 2018. INFORMAÇÕES CONTIDAS NESTE TEXTO PODEM ESTAR DESATUALIZADAS OU TEREM MUDADO.

Em duas semanas, Bolsonaro voltou atrás em pelo menos oito propostas

Por Bárbara Libório e Luiz Fernando Menezes

9 de novembro de 2018, 15h05

O vaivém em propostas de campanha marcou as primeiras duas semanas de Jair Bolsonaro (PSL) como presidente eleito. Medidas como a redução de ministérios, a criação de novos impostos, a reforma da previdência e a transferência da embaixada em Israel sofreram recuos ou foram alvo de controvérsias entre o capitão reformado e membros da sua equipe desde a vitória no segundo turno das eleições.

Aos Fatos identificou pelo menos oito posições que foram repensadas pelo presidente eleito e explica quais são os seus status atuais:

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Na campanha, Jair Bolsonaro disse que reduziria os 29 ministérios atuais para 15. Atualmente, o presidente eleito considera 18.

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Os Ministérios da Agricultura e Meio Ambiente, que o capitão reformado prometera unir, hoje devem permanecer separados.

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Proposta do plano de governo, a fusão do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços ao superministério da Economia havia sido deixado de lado ainda na campanha eleitoral, após críticas dos representantes das indústrias. A última posição do governo Bolsonaro, no entanto, é pela união das pastas.

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A CGU (Controladoria-Geral da União) seria incorporada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Bolsonaro, no entanto, voltou atrás e pretende deixar a pasta com o status de ministério independente.

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Em relação a uma nova CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), Bolsonaro teve que desautorizar sua equipe pelo menos duas vezes — uma durante a campanha e outra após eleito. A posição do capitão reformado tem sido contrária à criação de novos impostos.

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No plano de governo de Bolsonaro, a proposta de reforma da previdência previa a implementação de um modelo de capitalização. Nos últimos dias, porém, o presidente eleito mostrou-se favorável ao texto proposto pelo governo Temer, que ele mesmo criticava antes das eleições e que eleva a idade mínima e o tempo de contribuição.

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Futuros ministros, Paulo Guedes (Economia) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil) também tiveram que corrigir declarações de Jair Bolsonaro a respeito da política cambial e do pagamento da dívida pública.

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A promessa de Bolsonaro de transferir a Embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, feita em diversos momentos da campanha e reiterada após sua eleição, agora já “não é certa”. Reações negativas de países árabes, grandes importadores de proteína animal brasileira, podem ter forçado o recuo.

Veja abaixo, em detalhes, as mudanças de ideia do presidente eleito:


redução de MINISTÉRIOS

Jair Bolsonaro mudou de ideia pelo menos três vezes sobre o número de ministérios que terá seu futuro governo. Boa parte das mudanças se deram por recuos nos planos de fusão de algumas pastas e do status de ministério de outras. A princípio, a redução seria de 29 ministérios para 15. Agora, Bolsonaro já considera que o número pode chegar a 18.

A proposta de redução do número de ministérios já constava no programa de governo de Bolsonaro. Em agosto, no início da campanha eleitoral, ele já dizia que queria reduzir o número de pastas de 29 para "15 ministérios, mais ou menos". À época, Bolsonaro defendia, além de Fazenda, Planejamento e Indústria, unificar também as pastas de Meio Ambiente e Agricultura.

No dia 30 de outubro, após a vitória no segundo turno, seu futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que o objetivo era reduzir de 29 para “15 ou 16” ministérios . Na última terça-feira (6), Bolsonaro afirmou que o número “poderia chegar a 17” com os recuos sobre a fusão de algumas pastas. Um dia depois, nova mudança, dessa vez sobre o status de ministério da Controladoria-Geral da União, a CGU, que não será incorporada à Justiça. Agora, Bolsonaro admite que o número de pastas na Esplanada poderia chegar a 18.


Meio Ambiente e agricultura

O presidente eleito já mudou de ideia pelo menos três vezes sobre o que fazer com os ministérios da Agricultura e Meio Ambiente. Na última quarta-feira (7), ele anunciou, enfim, o nome de quem chefiará o Ministério da Agricultura, a deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS), garantindo que não haverá fusão. A declaração enterrou a proposta de fusão, defendida ao longo da campanha, apesar das críticas de ambientalistas e até de ruralistas. O presidente eleito garantiu, no entanto, que a manutenção das pastas fará pouca diferença, já que será ele a escolher o nome do titular do Meio Ambiente. A preocupação de Bolsonaro é que não haja “ativismo ambiental” na pasta.

Nem sempre foi assim. Em agosto, antes do primeiro turno das eleições, ele defendeu a fusão dos ministérios durante um comício de campanha organizado pela União Democrática Ruralista no interior de São Paulo. “Vamos fundir a agricultura e o Meio Ambiente para que nenhuma ONG internacional continue fazendo ativismo junto ao Ministério do Meio Ambiente”, afirmou. Em setembro, na Câmara dos Deputados, ele voltou a defender a ideia e disse a jornalistas que a medida ajudaria a “corrigir distorções que atrapalham” o agronegócio e a agricultura familiar no Brasil. Em outubro, em encontro com Frente Parlamentar da Agropecuária, a FPA, reforçou a proposta. Continuou defendendo a ideia também durante o segundo turno. Em entrevista à RedeTV! no início de outubro, por exemplo, disse que a proposta acabaria com a “briga do homem do campo o tempo todo sendo ameaçado por fiscais, uma verdadeira indústria da multa”.

Mas o então candidato começou a sofrer pressão de ambientalistas e até de ruralistas. O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki, afirmou a ideia seria interpretada no exterior como um retrocesso na política de proteção ambiental do país, e prejudicaria a visão global da indústria agrícola brasileira. Instituições como a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e o Observatório do Clima também criticaram a ideia. Mesmo assim, a fusão continuou de pé até uma semana antes da eleição. Em 21 de outubro, Bolsonaro afirmou: “Até o momento está garantida". No dia, 25, no entanto, mostrou-se aberto a negociar. “Alguns agora estão discordando. Se forem mantidos os dois ministérios, vou colocar no Meio Ambiente uma pessoa que não tenha vínculo com o que há de pior nesse meio. Vamos preservar o meio ambiente, mas não vamos atrapalhar a vida de quem quer produzir no Brasil.”

Mas então, depois da eleição no segundo turno, tudo mudou de novo. No dia 30, o futuro ministro da Casa Civil, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), informou que o presidente eleito havia decidido manter a fusão. Mais uma vez, houve reação. O atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi, lamentou a decisão, assim como Suely Araújo, atual presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.

Dois dias depois da declaração de Lorenzoni, Bolsonaro recuou. “Pelo que tudo indica, serão dois ministérios distintos. Pretendemos proteger o meio ambiente sim, mas não criar dificuldades para o nosso progresso”, afirmou em entrevista coletiva a emissoras católicas. No mesmo dia, em outra entrevista coletiva, o presidente eleito disse que não havia mais unanimidade da parte dos ruralistas pela fusão. Foi quando ele começou a avaliar sugestões de nomes para ocupar as duas pastas.

Na última quarta-feira (7), o primeiro nome foi escolhido. Indicada por ruralistas, a deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS) será a ministra da Agricultura. Ela é atual presidente da Frente Parlamentar Agropecuária do Congresso Nacional, conhecida como a bancada ruralista. A própria deputada afirmou que a fusão dos ministérios da Agricultura com o do Meio Ambiente traria mais ônus do que bônus. "Hoje existem muitas barreiras comerciais, que são protecionismos lá fora, que a gente precisa vencer.” Disse ainda ter certeza de que o presidente eleito “vai dar a cara do governo dele também ao Ministério do Meio Ambiente.” A indicação do nome de quem chefiará o Ministério do Meio Ambiente, segundo a FPA, também deverá ser homologada pela bancada ruralista.


Indústria na Economia

Bolsonaro também mudou de ideia duas vezes em relação à incorporação do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços ao superministério da Economia, a ser chefiado por Paulo Guedes. A proposta, que constava em seu plano de governo, chegou a ser revista às vésperas do segundo turno das eleições após pedidos de representantes da indústria. Nos últimos dias, no entanto, houve recuo e, até o momento, o superministério deve mesmo englobar a pasta.

A ideia defendida pelo economista Paulo Guedes desde o início da campanha, em agosto, era recriar o Ministério da Economia, juntando Fazenda, Planejamento e Indústria, Comércio Exterior e Serviços. A proposta constava, inclusive, em seu plano de governo. Às vésperas do segundo turno, no entanto, a ideia recebeu críticas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), para quem a possível extinção do ministério preocupava o setor industrial.

Dois dias depois, no dia 24 de outubro, Bolsonaro recuou, afirmando que manteria o Ministério da Indústria e Comércio. "Recebemos a visita de homens da indústria do Brasil falando dos problemas e como eu poderia resolver essas questões deles. Falaram da questão que gostariam que o Ministério da Indústria e Comércio continuasse existindo, vamos atendê-los", disse em transmissão ao vivo pelo Facebook.

No dia 30, no entanto, houve nova mudança. Paulo Guedes reafirmou em entrevista que o governo unificaria as pastas da Fazenda, do Planejamento e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. “A razão da Indústria e do Comércio estar próximo da Economia é para justamente existir uma mesma orientação econômica em tudo isso", disse.

A CNI voltou a se manifestar contra a ideia, assim como a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (Abit). Mas, na última quarta-feira (7), Robson Andrade, presidente da CNI, afirmou que, apesar de não concordar com a proposta, respeita a decisão do presidente eleito. Até o momento, portanto, Paulo Guedes segue como superministro da Economia, que unificará as pastas da Fazenda, do Planejamento e da Indústria e Comércio Exterior.


status da CGU

Inicialmente, a equipe do capitão reformado estudava a junção da CGU (Controladoria-Geral da União) à pasta da Justiça, que será assumida pelo juiz Sergio Moro. Bolsonaro, no entanto, já admitiu a possibilidade de manter o status de ministério do órgão.

No dia 1º de novembro, Moro publicou uma nota aceitando o convite de Bolsonaro para integrar uma superpasta que uniria os Ministérios da Justiça, da Segurança Pública, a Secretaria da Transparência e Combate à Corrupção, a CGU (Controladoria-Geral da União) e o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

Na última terça-feira (7), porém, Bolsonaro voltou atrás e disse estudar manter o Ministério da Transparência e a CGU com o atual status, sem juntá-lo ao Ministério da Justiça de Moro: "Não é pela governabilidade, é para que a gente possa apresentar resultado [...] O que temos de ter são os ministérios, esses órgãos, funcionando, sem interferência política”.

A possível extinção da CGU como ministério e órgão independente gerou incômodo entre os servidores da pasta: "Causou preocupação porque a normas internacionais de auditoria recomendam que o órgão de controle interno tenha uma natureza jurídica e um posicionamento hierárquico vinculado diretamente à Presidência da República. A função desse tipo de órgão é monitorar a máquina do Estado para a correção de problemas e detecção de falhas e irregularidades, combatendo a corrupção", disse o presidente dos servidores da controladoria, Rudinei Marques.

Vale lembrar que foi o presidente Temer que transformou a CGU e transferiu suas competências para o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle. A medida foi alvo de críticas, principalmente dos servidores do órgão, que tinham receio de que o órgão perdesse capacidade de controlar os outros ministérios se também fosse um deles, em vez de estar ligado à Presidência.


recriação da CPMF

Sem detalhar como pretende financiar a Previdência, o presidente eleito desautorizou integrantes da equipe econômica que divulgaram a possibilidade de solucionar o problema ao recriar um imposto sobre movimentação financeira, nos moldes da antiga CPMF. Bolsonaro já teve que desmentir pelo menos duas vezes a criação deste novo imposto.

A primeira vez que Paulo Guedes, futuro ministro da Fazenda de Bolsonaro, fez uma declaração sobre o novo imposto foi no dia 18 de setembro, durante uma reunião com a GPS Investimentos. Segundo a Folha de S.Paulo, o economista tinha planos de criar um novo imposto nos moldes da CPMF, que incidisse sobre as movimentações financeiras e também uma alíquota única do IR (Imposto de Renda) de 20%. Pelo Twitter, um dia depois, Bolsonaro disse “chega de impostos é o nosso lema!”. O vice general Mourão também se posicionou contra a criação de uma nova CPMF, dizendo que novos impostos são um “tiro no pé”.

Em entrevista ao Globo, no mesmo dia em que foram publicadas as reações de Bolsonaro e Mourão, Guedes disse que a informação estava incorreta. Na verdade, a ideia da equipe econômica seria a de substituir impostos federais por um único tributo, com objetivo de reduzir carga tributária: “Não é a CPMF. A primeira diferença é que a CPMF é um imposto a mais. Seria um imposto único. Não é aumento de imposto de jeito nenhum, é uma simplificação [tributária] brutal. Estamos examinando pegar quatro, cinco, seis impostos e criar um imposto único federal. Não faz o menor sentido aumentar impostos, criar uma CPMF. Não foi isso que foi falado. A pessoa que passou a informação lá deve ter sido eleitor do PT, do Alckmin, ou coisa assim”.

Em outubro, Guedes voltou a dizer que a proposta da CPMF foi um “equívoco enorme” da imprensa. Na época, o nome de Marcos Cintra foi citado pela primeira vez como o responsável pela proposta de eliminar os impostos indiretos (impostos que incidem sobre os produtos e serviços que as pessoas consomem). De acordo com Guedes, a equipe estudava duas possibilidades para isso: converter para um imposto só, com base em um valor agregado, ou adotar um modelo similar ao da CPMF.

No entanto, segundo reportagem do Globo publicada no dia 2 de novembro, a equipe econômica de Bolsonaro teria retomado o estudo da criação de um imposto sobre movimentações financeiras para acabar com a contribuição do INSS. O tributo incidiria sobre todas as operações, como saques e transações bancárias, e a estimativa é que arrecade pelo menos R$ 275 bilhões por ano. A informação teria sido confirmada por Marcos Cintra, do grupo de Guedes.

Bolsonaro, no mesmo dia, desautorizou qualquer informação dada à imprensa “por qualquer grupo intitulado ‘equipe Bolsonaro’” sobre qualquer assunto, como Previdência e CPMF. Após a declaração, Cintra disse ao Globo que a proposta já tinha sido discutida com Guedes, mas não com o presidente eleito.

Cintra continuou defendendo a criação do imposto e criticou outra proposta apresentada por Guedes: o IVA (Imposto sobre o Valor Agregado), que é a simplificação da tributação do consumo. Para ele, levar adiante o burocrático IVA seria “desastroso” e o “pior dos mundos”. Bolsonaro, mais uma vez, desautorizou o economista: “já falei com ele para não falar aquilo que não tiver acertado com o Guedes e comigo”. O presidente eleito também ameaçou demitir Cintra: “a decisão que eu tomei, quem criticar qualquer um de nós publicamente, eu corto a cabeça”.

Atualmente, a equipe de Bolsonaro estuda três reformas tributárias: substituição de impostos federais por um imposto sobre movimentação financeira — que, diferente da CPMF, não seria a criação de um novo imposto, mas a substituição de cinco a 11 impostos e contribuições federais por uma alíquota única sobre movimentação financeira —, criação do IVA e simplificação tributária.


Reforma da Previdência

Bolsonaro não só mudou de opinião em relação à sua própria proposta de reforma da Previdência como também ao texto proposto no governo Temer. Sua posição durante a campanha era a de propor um novo regime de capitalização e de que a reforma da Previdência que tramita hoje no Congresso não fosse votada este ano. Depois de eleito, porém, passou a querer a aprovação dela antes de assumir, em janeiro.

No primeiro turno, a equipe de Bolsonaro manifestou-se em favor do modelo de capitalização, proposta que, inclusive, consta em seu plano de governo, publicado em agosto. Mas, contradizendo Paulo Guedes, o presidente eleito afirmou que não estava plenamente convencido de que o modelo de capitalização é o ideal. O certo, em sua visão, seria fixar uma idade mínima.

O modelo de capitalização proposto no plano de governo funcionaria como uma poupança em que cada trabalhador guardaria dinheiro para sua própria aposentadoria. Além disso, a equipe de Bolsonaro previa um aperfeiçoamento do modelo atual de repartição (o contribuinte de hoje financia o pagamento do benefício de quem já está aposentado). Para essa implementação, seria criado um “fundo para reforçar o financiamento da Previdência e compensar a redução de contribuições previdenciárias no sistema antigo”.

Paulo Guedes, futuro ministro da Economia do governo Bolsonaro, em conversa com a GPS Investimentos, em setembro, defendeu o modelo de capitalização, que existiria junto com o atual, nos moldes propostos pelo plano de governo. Dias depois, no entanto, em documento enviado à equipe de Bolsonaro, ele defendeu uma reforma parecida com a proposta por Temer: idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres, com uma regra de transição até o ano de 2042.

Já o vice de Bolsonaro, o general Mourão, em sabatina do Banco BTG Pactual no final de agosto, foi o primeiro a defender o texto atual. Ele disse preferir que a reforma da Previdência fosse votada ainda este ano, antes do novo presidente assumir o governo. A proposta atual (PEC 287/2016) não prevê transição para o modelo de capitalização, mas mudanças na idade mínima (65 anos para os homens e 62 para as mulheres) e na base de cálculo do benefício (que passa a contar como base 100% dos salários recebidos, e não mais exclui os 20% menos).

No começo de novembro, o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e o especialista em previdência Paulo Tafner, entregaram à equipe de Bolsonaro uma nova proposta de reforma. O texto prevê alterações no regime atual, com elevação da idade mínima (65 anos para homens e mulheres), e a criação de um sistema de capitalização.

Mudança de tom. Bolsonaro se mostrou contrário à reforma da Previdência proposta por Temer antes mesmo da corrida eleitoral. Em entrevista à RedeTV News em janeiro deste ano, disse que não votaria a favor do texto atual que, para ele, não pode levar "miséria" aos aposentados por exigência do mercado financeiro.

Após a eleição, no entanto, Bolsonaro mudou o discurso e passou a defender que o texto atual da reforma da Previdência fosse aprovada ainda este ano: "A reforma nossa é um pouco diferente da do Temer. Mas vamos procurar o governo e procurar salvar alguma coisa dessa reforma. Da forma que ela está sendo proposta não adianta eu ser favorável ou o general ser favorável. Temos que ver o que pode ser aprovado, que passa pela na Câmara e no Senado. O que não podemos é não aprovar nada no corrente ano”.

No dia 5 de novembro, em várias entrevistas, Bolsonaro voltou a defender que a proposta de Temer fosse aprovada este ano, principalmente a questão da idade mínima. Ele também disse que ainda vê com “desconfiança” a proposta apresentada a Guedes por Fraga e Tafner com o modelo de capitalização: “Nós temos um contrato com o aposentado, você vai mudar uma regra no meio do caminho?”.

Nesta quarta-feira (7), Bolsonaro se reuniu com Temer para falar sobre a Previdência. A última posição do novo governo é de que a reforma que consta no texto atual não é a essencial, mas é a que pode ser aprovada.


Câmbio e dívida pública

Aparentemente houve um mal-entendido entre o presidente eleito e seu futuro ministro da Economia a respeito de possíveis mudanças na política monetária e na gestão da dívida pública. Em entrevista à Band, Bolsonaro disse que a dívida interna, de cerca de R$ 4 trilhões, era “impagável” não fosse a renegociação a ser conduzida por Guedes.

Para os investidores, tal declaração soou como um risco de calote que Guedes apressou-se em explicar: "durante a campanha eu falei que a despesa de juros era demasiada, não é razoável o Brasil gastar R$ 100 bilhões de juros por ano. Falei tantas vezes que talvez o presidente tenha pensado em renegociar. Mas isso está fora de questão, não se pensa nisso. Isso não é o problema, isso não existe. O que existe é uma preocupação com a dívida".

Também houve informação desencontrada entre o presidente eleito e outro futuro ministro, Onyx Lorenzoni. Às vésperas do segundo turno, em entrevista ao site Poder 360, Bolsonaro defendeu que, além de uma meta de inflação, o Banco Central tivesse ainda uma meta para o câmbio. "Eu falei para o Paulo Guedes: temos de estabelecer metas para dólar, inflação. Aí, a taxa de juros”, afirmou. Dias depois a ideia foi descartada por Lorenzoni, que defendeu apenas defendeu "previsibilidade e segurança jurídica".


embaixada em Israel

Antes mesmo da campanha, o capitão reformado defendia que, em Israel, a Embaixada do Brasil deveria ser deslocada de Tel Aviv para Jerusalém, por não considerar a Palestina um país. Bolsonaro, inclusive, chegou a dizer que retiraria a representação diplomática dos palestinos aqui no Brasil.

A posição pela mudança da sede da embaixada em Israel foi reafirmada logo após o resultado das eleições, mas a opinião do presidente eleito mudou quando o Egito cancelou uma visita oficial do atual ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, ao país, em gesto que foi considerado uma retaliação contra a promessa de mudança para Jerusalém. Hoje, Bolsonaro diz que a decisão ainda “não está decidida”.

Os países árabes estão entre os principais importadores de carne bovina e de frango do Brasil, principalmente a Halal, e a proposta de mudança gerou reações negativas entre essas nações. Segundo relatos de diplomatas, a Liga dos Países Árabes enviou uma nota à embaixada brasileira no Cairo condenando as declarações do presidente eleito.

Outro lado. A reportagem entrou em contato com a assessoria de Bolsonaro para que ele pudesse se posicionar em relação às mudanças de posições citadas. Até a última atualização, no entanto, Aos Fatos não havia recebido nenhuma resposta.


Esta reportagem foi publicada de acordo com a metodologia anterior do Aos Fatos.

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